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Harry August é o fruto de uma relação proibida entre um nobre do interior da Inglaterra e sua empregada. Mas, mais do que isso: ele faz parte de um pequeno grupo seleto de seres humanos cujas vidas se repetem indefinidamente.


Sinopse:


Certas histórias não podem ser contadas em uma única vida. Harry está no leito de morte. Outra vez. Não importa o que faça ou que decisões tome: toda vez que ele morre, volta para onde começou; uma criança com a memória de todo o conhecimento de uma vida vivida diversas vezes. Nada nunca muda... até agora.


Ele está perto da décima primeira morte quando uma garotinha de 7 anos se aproxima da cama: “Quase perdi você, doutor August. Eu preciso enviar uma mensagem de volta no tempo. O mundo está acabando, como sempre. Mas o fim está chegando cada vez mais rápido. Então, agora é com você.”


As primeiras quinze vidas de Harry August conta a história do que Harry faz em seguida, do que fez antes, e do que faz para tentar salvar um passado inalterável e mudar um futuro inaceitável.






Um dos grandes clichês das histórias de viagem no tempo é o da possibilidade ou não de alterar fatos históricos. O quanto gostaríamos de fazer isso e se somos as pessoas ideais para tomarmos esse tipo de decisão. No romance apresentado por Claire North, a autora busca responder essa pergunta através de um personagem capaz de repetir sua vida inúmeras vezes. Sempre carregando consigo as experiências de vidas passadas, ele passa a ter um conhecimento inestimável. Mas, será que devemos mexer naquilo que já aconteceu ou apenas desejamos ter poderes divinos para alterar aquilo que quisermos? Um romance que apresenta um dilema moral e vai colocar o leitor para refletir o quanto nossas vidas são cíclicas e as escolhas que fazemos apenas formam as fundações de nossas existências.


Sendo filho de uma relação extraconjugal entre um nobre rural inglês e sua empregada no começo do século XX, Harry August foi criado pelos seus familiares para ser homem humilde. Tendo buscado rumo em sua vida, Harry descobre que toda vez que ele morre, ele passa por toda a sua vida novamente. Em um ininterrupto ciclo de vida e morte. Ao longo de suas várias vidas, Harry erra e acerta muitas e muitas vezes se tornando uma pessoa com experiência de gerações. O que parecia ser uma vida monótona, logo se torna movimentada quando ele descobre fazer parte de um grupo de outras pessoas que também passam pelas mesmas experiências. Harry se vê em uma encruzilhada quando uma das pessoas com quem ele tem contato tem um audacioso plano para mudar o mundo. Como Harry irá lidar com essa questão e o quanto de sua vida cíclica poderá ser modificada para sempre?


Esta é uma história com um estilo de escrita bem peculiar. Harry parece estar fazendo um relato para nós de suas vidas anteriores. Ele narra as emoções e pensamentos que teve ao longo de muitas vidas onde o leitor vai conhecendo suas vivências e dissabores. A narrativa tem um cunho voltado para a contação de histórias mesmo, com um ritmo predominantemente narrativo. Em vários momentos o personagem perpassa um fluxo de pensamentos interminável e a história nem sempre segue uma linearidade certa. E quanto mais vamos experimentando as vidas do personagem, Harry vai e vem em suas vidas para mostrar alguns pedaços dela. Seja para ajudar a responder um questionamento de uma passagem ou para mostrar como ele lida com certas situações. A montagem de capítulos segue o estilo do gênero Young Adult, com cenas pequenas de poucas páginas alternando momentos rápidos de sua vida. A narrativa parece que ganha velocidade com essa escolha, mas já alerto que isso não é o caso. A autora tem uma mão pesada nos parágrafos narrativos e os capítulos que parecem pequenos se tornam bem maiores do que imaginamos. Na minha visão, ficou elas por elas e a autora conseguiu dar basicamente um ritmo normal às suas histórias apenas usando um artifício que no fundo não funcionou do jeito que ela imaginava.


Por ser um relato pessoal, boa parte da história se passa na caminhada de Harry ao longo de suas vidas. Por sorte, Harry é um personagem interessante e que não é exatamente aquele protagonista virtuoso. Em vários momentos ele toma decisões bastante questionáveis e não tem medo de andar por uma linha mais cinza de pensamentos e ações. Até porque sua própria existência é uma constante inquestionável e sua visão sobre a passagem do tempo vai se tornando mais borrada à medida em que suas vidas se passam. Se o leitor pensa que com isso há um senso de garantia de vida para ele, isso muda a partir da segunda metade da história quando alguns fatos se sucedem e a existência do personagem começa a ficar ameaçada. Se no começo, Harry é um personagem bem blasé, mais para a frente quando aparece um antagonista na história, isto faz com que ele precise se movimentar. É o antagonista que faz a história se movimentar, obrigando Harry a tomar agência de sua própria vida.



Se disse que a narrativa se foca muito no Harry, isso automaticamente me produz um defeito grave no livro. A falta de personagens mais aprofundados fora o protagonista e seu antagonista. North faz com que a gente pense que o personagem se importa com um determinado personagem inicial na trama, mas a autora não nos dá motivos para isso. A relação entre os personagens é mal abordada, parecendo um grão de areia em um imenso deserto. Outros personagens vem e vão e até existem alguns momentos bem sensíveis como o com Akinleye mais para o final da história, mas é tão sutil que não causa o impacto necessário. Isso é um pouco do que penso sobre a histórias: parece que as coisas passam como um soprar do vento. Nada gruda na história, se cola nele para gerar algo mais duradouro. Mesmo para mim que gosto de histórias que se focam em personagens, o que North faz é tão longe do ideal para mim que me incomoda. E isso porque a história não é ruim ou chata. Ela só está ali.


Como leitor de ficção científica, o ponto que me incomodou foi o aspecto da viagem no tempo. Porque, de certa forma, é o que a narrativa é. De diferentes formas, a narrativa de North me fez pensar em A Mulher do Viajante no Tempo, da Audrey Niffenegger. A ideia básica é mostrar uma pessoa capaz de viver determinados acontecimentos de sua vida diversas vezes. Os esquemas são diferentes e o resultado final é outro na obra de Niffenegger. Ela foi capaz de fazer algo que North não conseguiu: produzir uma narrativa de viagem no tempo cujas restrições eram bem lógicas e mesmo a gente questionando alguma coisa aqui e ali, a narrativa era muito bem conduzida. Já aqui não. Existem muitas conveniências na trama e na conexão com outros personagens. Cada vez que a autora se propunha a explicar alguma coisa, as coisas só pioravam. Algumas coisas eram fantásticas demais para acontecerem, principalmente quando o antagonista está movendo suas peças. Se torna algo difícil de aceitar, mesmo eu estando com a minha suspensão de descrença lá em cima. Tem algumas vezes que ela emprega alguns (no plural mesmo) deus ex machina que incomodam o leitor mais atento. Aliás... diga-se de passagem que o personagem ter memória eidética é uma baita de uma vantagem.


A boa e velha questão de interferir no passado volta à discussão e temos personagens que estão em lados diametralmente opostos. A posição de Harry vai se tornando mais fácil de entender porque ele é um indivíduo que tratou das questões do divino logo no começo de sua longa existência. Ele sanou suas dúvidas através do contato com a filosofia oriental cujo caminho para a iluminação segue por um trajeto mais longo do que o nosso. O antagonista é o típico indivíduo que se imagina capaz de fazer justiça. Através de um alto senso moral, ele sente que sua habilidade de julgar os acontecimentos pode guiá-lo na forma como a humanidade deveria enxergar sua existência. É óbvio que esse típico personagem moralista não vai pelo caminho certo porque as coisas não são maniqueístas como ele imagina ser. Esse é o conflito básico entre os personagens.


A narrativa é boa, e produz alguns momentos bem legais, mas peca bastante em outros. A primeira metade da história é perfeita para mim. Imaginava que North iria ficar mais na existência de Harry e seus conflitos morais. Ela toma um rumo de história de ação e espionagem na metade para a frente que me decepcionou. Se o livro continuasse a ser só um livro de ficção comum, como foi o livro de Niffenegger, ele teria sido mais eficiente em agradar o leitor. Talvez eu tenha esperado um livro diferente, e isso tirou parte do meu prazer na leitura do mesmo. Enfim, recomendo o livro, com algumas ressalvas aqui e ali no que diz respeito ao desenvolvimento de personagens e ao abuso de conveniências.











Ficha Técnica:


Nome: As Primeiras Quinze Vidas de Harry August

Autora: Claire North

Editora: Bertrand Brasil

Tradutor: Ângelo Lessa

Número de Páginas: 448

Ano de Publicação: 2017


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O relógio continua a girar para Christopher Chance e seus dias podem estar chegando ao fim. Envenenado, ele busca quem foi o responsável e sobraram poucos suspeitos. A próxima da lista é a incandescente Beatriz da Costa, a Fogo. Além da história principal, temos contos de alguns membros da Liguinha que se envolveram com Chance no passado.


Sinopse:


Christopher Chance ganhava a vida como Alvo Humano, contratado para se disfarçar de seus clientes que seriam vítimas de tentativas de assassinato. Um de seus clientes foi o sórdido Lex Luthor… e tudo mudou daquele dia em diante. Envenenado, Chance tem mais seis dias para descobrir quem foi o responsável por esse movimento mortal, e, durante sua investigação, causou a morte, se envolveu com a Gelo e terá de encarar a Fogo de frente. Só o tempo revelará quem é o culpado na conclusão dessa minissérie vencedora do Prêmio Eisner, escrita por Tom King e ilustrada por Greg Smallwood!





Tora é o exemplo da boa garota. Doce, gentil, meiga. Desde a concepção da Liguinha, a Gelo é aquela personagem feminina a qual hoje tanto questionamos. O estereótipo da submissão e da boa esposa. Só que será que isso realmente representa a personalidade dela ou é apenas uma pecha que lhe foi atribuída? Tom King vai destrinchar a complexa personalidade de Tora nessa edição que fecha exemplarmente essa minissérie. Ao final dela temos personagens que, apesar de referenciados na famosa fase dos anos 90, ganham mais camadas neste segundo volume. É aquele tipo de minissérie que deixa o leitor querendo mais, pelo menos dos dois protagonistas que carregam o título nas costas até o final.


A investigação de Christopher Chance chega em uma fase crucial. Restam poucos suspeitos como o Soviete Supremo, Gnort e... é claro... a parceira da Gelo, Beatriz da Costa, a Fogo. Mas, o tempo está se esgotando e o veneno começa a atacar fisicamente o corpo de Chance, mostrando a ele o limite de sua vida. O famoso Alvo Humano, famoso por ser um homem centrado que deixa suas emoções de lado, se apaixonou pela Gelo. O que antes era apenas um jeito fleumático de ver sua vida extinguir se torna um medo primitivo pelas possibilidades de viver uma vida feliz. Ao mesmo tempo, Chance e Tora precisam saber o que fazer a respeito da morte de Guy Gardner... principalmente quando um certo Homem-Morcego parece estar rondando Chance para descobrir o que realmente aconteceu (se é que já não sabe, afinal, ele é o Batman).



A arte de Greg Smallwood continua muito competente nesta edição. As páginas aquareladas são um show à parte apesar de eu ter curtido mais o primeiro volume, no quesito arte. Esse segundo volume é mais intimista e aqui podemos ver a intensa sintonia entre Tom King e Smallwood. As cenas não precisam ser grandiosas, mas invocar sentimentos nos leitores. Algumas cenas são de uma sutileza fantástica. Vou dar alguns exemplos procurando não dar spoilers. Uma cena logo no número 6, mostra Chance e Fogo em uma roda gigante enquanto ela conta a ele um pouco de sua vida como modelo. Fogo é diferente de Tora, sendo mais sexy e sabendo como explorar isso. Toda a cena não passa de uma dança entre os dois personagens (isso porque já tinha tido uma cena assim antes), onde Fogo provoca Chance a transar com ela. Em um momento depois, algo acontece e Bea usa seus poderes e acaba queimando o seu vestido. Chance dá a ela um casaco para se cobrir e Smallwood coloca um quadro pequeno e horizontal com a Fogo com o casaco cobrindo o corpo em uma pose altamente sexy. Ou seja, através de pequenos quadros na roda gigante, da conversa e do momento de instinto a seguir, Smallwood chega aonde queria com sua arte. Pura finesse.


Outro momento artístico interessante se dá mais para os números finais e se trata de uma conversa entre Tora e Chance no meio do mar. Tora cria uma pequena plataforma de gelo onde os dois passam um momento íntimo juntos. Ali, a ideia do roteiro era que Tora se abrisse e contasse a respeito de suas seguranças. O cenário é o mais simples possível: a plataforma de gelo, um pequeno pedaço do oceano e o céu azul emoldurando a cena com os dois de costas para o leitor conversando. Tora, em uma posição mais curvada, mostrando toda a sua vulnerabilidade e Chance altivo, escutando e fazendo apenas perguntas pontuais. Os quadros mostram que o casal faz aquele contato olho no olho, onde a comunicação é verbal e não-verbal ao mesmo tempo. O que é possível destacar neste segundo volume é que nem sempre é preciso criar cenas grandiosas para construir uma boa história. Arte e roteiro, quando caminham juntos, podem fazer magia.


Muito é explorado sobre o passado de Chance neste segundo volume. Mas, o legal é que King faz isso sem precisar contar ao leitor. Ou seja, ele ainda mantém Chance como um grande mistério para todos ao mesmo tempo em que insere parte de seu passado na narrativa que deseja nos contar. Sua relação com o seu pai e a maneira como morreu guia o personagem nesses momentos mais definitivos da história. Chance deseja inicialmente morrer com mais dignidade, mas à medida em que ele se envolve mais e mais com a Gelo, a vida começa a lhe apetecer mais. Suas ações refletem esse caminho rumo ao desespero. Somente mais tarde na história, ele passa por uma epifania e seus sentimentos se alteram. Como uma nuvem escura que passa e o céu brilha. Tem um momento sensacional do lado desesperado de Chance: o famigerado capítulo do Batman. King consegue criar um momento sensacional em que o Batman é mencionado o tempo todo e sua sombra percorre todo o capítulo. Chance está sob o efeito do veneno e agitado com receio de que o Batman descubra sobre a morte do Guy a qualquer segundo. Ele enxerga o Homem-Morcego por toda parte. Esse grau de paranoia atinge o ápice quando Gelo tenta descobrir porque Chance está agindo de maneira tão irracional.


A grande estrela deste segundo volume é, sem dúvida, a Gelo. KIng desconstrói completamente a imagem da boa garota que sempre tivemos sobre a personagem. Desde o começo da mini, Gelo é apresentada como uma femme fatale. Alguém que sabe o que as pessoas esperam dela, e brinca com essas percepções a seu favor. Só que essa falsa percepção acaba se tornando uma máscara na qual Gelo se escora para esconder seus verdadeiros sentimentos. Com Chance, Tora se revela uma mulher sensual e fogosa que sabe o que quer. O sorriso malicioso da Gelo não sai da minha cabeça. Toda vez que vejo uma interação da Gelo com qualquer dos membros da Liguinha já consigo prever a ambiguidade das respostas que ela dá. Esse papel de good girl que foi dado a ela a incomoda. Porque não representa quem ela realmente é. Gelo deseja ser egoísta; ela deseja ser ciumenta; ela deseja ser violenta; ela... deseja. Por isso que os momentos íntimos dela com o Chance são tão chocantes a princípio e agora se tornam parte do cenário. Algumas cenas dos dois juntos possuem um nível de doçura e intimidade brilhantes ao mesmo tempo em que representam um casal que se curte e se gosta em vários níveis. Quando Tora se dá conta de que pode perder tudo, é como se uma montanha de tijolos caísse em cima dela. Pior... quando ela se dá conta de que também desenvolveu sentimentos por Chance.


O primeiro número desse segundo volume é uma coletânea de histórias fix-up com os membros da Liguinha que já haviam tido contato com o Chance de algum jeito: Gardner, o Gladiador Dourado e a Fogo. Gardner é apresentado como um completo idiota machista que é e sua história gira em torno de sua propensão em resolver as coisas com extrema violência. A do Gladiador se passa em uma situação em que envolve o personagem protegendo alguém pelos motivos errados. A narrativa se foca no jeito showman do Gladiador que sempre deseja estar sob os holofotes. Só que ele sempre acaba se dando mal de algum jeito. E a Fogo passa por um momento difícil de sua vida antes de ganhar seus poderes. Fogo nos mostra seu jeito frágil, de uma menina das favelas do Brasil que conseguiu oportunidade e carinho mesmo que a pessoa seja um completo aproveitador. Chance está presente nas histórias de uma maneira indireta.


A mini termina em alta e fiquei extremamente satisfeito com o que li. Não tenho nada a repreender ou apontar pontos fracos, apesar de que os contos sejam aquele mix de artistas de qualidades variadas. Para quem está acostumado com o Smallwood arrasando nas edições, qualquer coisa diferente é ruim. Ao final, fiquei com uma enorme vontade de ver uma série regular de detetive com o Chance e a Gelo como casal precisando resolver casos malucos. Sei que não era a intenção do King fazer algo assim, mas é tão legal imaginar algo maluco assim. Espero que o King volte a esses personagens no futuro.











Ficha Técnica:


Nome: Alvo Humano vol. 2

Autor: Tom King

Artista: Greg Smallwood

Editora: Panini

Tradutor: Erick Garcia

Número de Páginas: 232

Ano de Publicação: 2023


Outros Volumes:


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January é uma oneironauta - uma agente capaz de atravessar universos paralelos através dos sonhos. Alguém que ainda não está completamente treinada e não conhece os meandros que movem as missões realizadas por eles. E January se vê no centro de uma perigosa trama envolvendo o centro da Terra, alienígenas e o destino do mundo.


Sinopse:


January Purcell é uma Oneironauta. Ela faz parte de uma Fraternidade de viajantes dos sonhos que atravessa os séculos, navegando o Existir e realizando missões em várias épocas e encarnações com o objetivo de defender a realidade de alterações na linha temporal. Um certo dia em 1888, essa mulher extraordinária cruza o caminho de um certo Dr. Jones, cientista milionário que inventou um novo combustível, que poderá salvar a humanidade... ou destruí-la. Caberá a January descobrir se Jones também é um oneironauta e recrutá-lo (com uma ajuda do explorador Richard Francis Burton, também membro da Fraternidade) antes que alguma facção inimiga o faça. Numa realidade em que obras como Viagem ao Centro da Terra e A Guerra dos Mundos são relatos verídicos ao invés de ficções, não será uma tarefa nada fácil. Preparem-se para o Longo Jogo.





O tema dos oneironautas não é novidade para aqueles que acompanham o trabalho de Fábio Fernandes. Ele gosta de brincar com as nossas percepções do que é real ou não. Em Love will tear us apart, Fábio nos mostra um Ian Curtis que não é aquele que conhecemos do Joy Division. É e não é ao mesmo tempo. Só depende de sua perspectiva. Já tinha curtido esse mundo e agora o autor volta a essa forma de enxergar múltiplos mundos só que amplia mais a nossa expectativa. O que vemos ao lado de January Purcell é um mundo perigoso onde qualquer decisão tomada tem consequências severas para múltiplas realidades. E onde a ficção e a realidade caminham quase de mãos dadas.


Ainda jovem, January Purcell começa a ter visões aterradoras, onde ela se encontra em lugares pelos quais nunca passou ou se pegou presenciando acontecimentos futuros. Inicialmente ela atribui à sua imaginação, mas logo ela descobre que é muito mais do que isso. Em seus sonhos cada vez mais realistas, ela conhece Hipátia de Alexandria, que se torna sua mestre e a inicia nos mistérios oneironáuticos. Logo, ela fica sabendo do Grande Jogo e do Longo Jogo, onde forças sombrias ameaçam destruir o tecido da realidade. January passa a ser enviada em missões cujos objetivos nem sempre são tão claros. Em sua próxima missão, ela é enviada para uma Londres do século XIX onde precisa embarcar em uma viagem estranha ao lado do dr. Jones, um homem que descobriu uma forma de conter uma fonte de energia limitada ao alcance das mãos. O que deixa January preocupada é que alguns dos itens que fazem parte de seu equipamento estão fora de compasso com essa realidade. Precisando continuar sua missão, a nossa agente precisa ficar de olho porque o perigo espreita a cada esquina e pode estender seus tentáculos pelo passado, presente e futuro.


"Nações fazem guerra, não pessoas. Elas fazem isso para permanecer como estão. Nações ocupam territórios, escravizam pessoas, comandam recursos a seu bel-prazer. E esses recursos são o que fazem as nações, essencialmente. Se uma nação tem mais de um determinado recurso, algo de que outras nações precisam desesperadamente, ela é uma nação rica."

Esse é claramente o livro inicial de uma série. Aqui, Fábio precisa explicar aos leitores o que é a oneironáutica. Mesmo quem não leu Love will tear us apart vai conseguir acompanhar numa boa o que o autor apresenta para nós. A cada instante da narrativa, Fábio nos explica alguns detalhes, existem algumas epígrafes interessantes no começo de cada capítulo que esclarecem pontos que possam deixar dúvidas. Aliás, Fábio emprega capítulos bem curtos que cobrem as cenas ou trechos específicos. Por esse motivo passa a impressão de que o livro é mais curto do que parece. É uma técnica comum na literatura Young Adult, mas preciso dizer que ela acaba não sendo tão essencial assim. O autor poderia ter apenas dividido os capítulos em subseções que teria tido o mesmo efeito. Mas, é aquilo: são escolhas. Isso ão prejudicou a dinâmica e o ritmo da narrativa. A estrutura narrativa é a narrativa em três atos com o leitor acompanhando o treinamento e desenvolvimento da protagonista ao longo da história. Gosto que Fábio tenha optado por essa estrutura ao invés da jornada do herói, algo comum em romances de aventura ou em séries do gênero. Nem sempre isso é necessário. A protagonista é alguém já bem resolvida e sabe o que deseja para si. Suas dúvidas giram em outras questões transversais de sua vida.



A narrativa é contada em terceira pessoa naquele estilo da câmera no ombro do protagonista. As informações iniciais sobre a "física" da oneironáutica é contada por uma January em treinamento através de pequenos flashbacks de suas interações com Hipátia. Foi uma mecânica inteligente que ajudou a construir a relação entre as duas personagens. Hipátia em uma personagem repleta de mistérios que nós, leitores, vamos saber aos poucos. Voltando à escrita em si, ela é focada no aspecto narrativo propriamente dito, com o autor dando espaço para o leitor construir as cenas em sua imaginação. Prefiro assim do que uma descrição pormenorizada do que está acontecendo em cada cena. O autor vai entregando mistérios a cada nova etapa da aventura e estes vão nos deixando curiosos sobre o que está realmente se passando. Aos poucos, Fábio responde algumas perguntas ao mesmo tempo em que faz outras que devem ser resolvidas em futuros livros. É possível ler apenas esse livro que a história se fecha numa boa, mas acredito que muitos de vocês, assim como eu, vão retornar para a continuação. Não achei a trama confusa ou complicada; os momentos em que isso acontece, é proposital. É porque o autor quer causar isso para responder alguns capítulos mais à frente.


"Você ainda acha que o bem e o mal são absolutos, minha menina? Depois de tudo o que eu lhe mostrei, de tudo o que você mesma tem vivido? Muitas vezes, o que é bom para uns é ruim para outros. Toda a história da humanidade é isso, para todos os homens. E é ainda pior para nós mulheres."

Tem muitas referências de Fábio aos autores clássicos da ficção científica como Jules Verne, H.G. Wells e até Edgar Rice Burroughs. A ideia dos múltiplos mundos que January atravessa pode possuir personagens ficcionais que são reais e estão realizando ações descritas nos livros. Ou seja, temos uma metaleitura bastante curiosa entre as página onde vemos certos personagens possuindo características semelhantes às suas contrapartes ficcionais. Isso também faz parte da confusão de sonho dentro de sonho dentro outro sonho. Essa estratégia de confundir a percepção o leitor também é empregada na protagonista que, em determinados momentos, tem dificuldade para se situar no espaço. Isso a deixa propensa a armadilhas realizadas por seus inimigos. Quando mencionei lá em cima que Fábio optou por capítulos curtos, isso não significa que o leitor deva ler o livro em velocidade. Acho um erro fazer isso porque você pode perder detalhes bastante delicados da trama. Minha recomendação é para ser calmo e absorver tudo o que é dito nas páginas porque até as menores informações tem uma consequência futura.


A crítica ao machismo típico de finais do século XIX está bastante presente na narrativa. Lembremos que esse foi um período em que os movimentos feministas começavam a despontar na Europa com as mulheres desejando um espaço maior na sociedade. Ver o quanto January é julgada por ser uma aventureira e uma pesquisadora é gritante. Mesmo um homem como Richard Burton, apresentado como um vanguardista e alguém de alto conhecimento, não escapa de uma pré-concepção errada de nossa personagem. Isso a coloca em situações desconfortáveis pelas quais ela não precisaria ter passado caso seu gênero fosse diferente. January é alguém que não aceita determinadas barreiras, o que sempre a coloca como uma transgressora. Desde sua vestimenta, seu modo de falar e até aonde ela pode ou não entrar tem a ver com o fato de ela ser mulher. Ela precisa se provar o tempo todo e ao final algumas das pessoas que a julgaram apenas aceitam que estavam errados em algumas coisas que disseram ou fizeram a ela. É preciso pontuar que estamos olhando com nossa perspectiva contemporânea e Fábio foi muito feliz ao representar o tratamento dado às mulheres naquela época.




"Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo estava sendo observado com atenção e de perto por inteligências superiores à do homem, e no entanto tão mortais quanto a dele; que, à medida que os homens davam conta de suas diversas preocupações, eles eram examinados e estudados, talvez quase tão minuciosamente como um homem com um microscópio examinaria as criaturas transitórias que enxameiam e se multiplicam numa gota de água."

No geral, a narrativa é muito boa e Fábio mantém muitas das características que me fazem gostar de seus livros: o emprego de mecânicas de escrita sempre diferentes, a ficção especulativa sempre bem sutil a ponto de dar muita verossimilhança ao mundo narrativo e personagens bem redondinhos. Até mesmo o seu amor por música está presente no livro, com nosso querido superstar transgressor David Bowie. Continuo dizendo que o Fábio deveria fazer uma playlist para a gente escutar junto de seus livros. Esse é o primeiro livro no que parece ser uma série, algo que ainda não tinha visto do autor, mas que já estou bastante empolgado. A temática dos sonhos e dos universos paralelos pode fornecer tramas bastante legais para próximos livros.











Ficha Técnica:


Nome: O Torneio de Sombras - As Aventuras de January Purcell

Autor: Fábio Fernandes

Editora: Avec Editora

Número de Páginas: 248

Ano de Publicação: 2024


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*Material enviado pelo autor














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Conversa aberta. Uma mensagem lida. Pular para o conteúdo Como usar o Gmail com leitores de tela 2 de 18 Fwd: Parceria publicitária no ficcoeshumanas.com.br Caixa de entrada Ficções Humanas Anexossex., 14 de out. 13:41 (há 5 dias) para mim Traduzir mensagem Desativar para: inglês ---------- Forwarded message --------- De: Pedro Serrão Date: sex, 14 de out de 2022 13:03 Subject: Re: Parceria publicitária no ficcoeshumanas.com.br To: Ficções Humanas Olá Paulo Tudo bem? Segue em anexo o código do anúncio para colocar no portal. API Link para seguir a campanha: https://api.clevernt.com/0113f75c-4bd9-11ed-a592-cabfa2a5a2de/ Para implementar a publicidade basta seguir os seguintes passos: 1. copie o código que envio em anexo 2. edite o seu footer 3. procure por 4. cole o código antes do último no final da sua page source. 4. Guarde e verifique a publicidade a funcionar :) Se o website for feito em wordpress, estas são as etapas alternativas: 1. Open dashboard 2. Appearence 3. Editor 4. Theme Footer (footer.php) 5. Search for 6. Paste code before 7. save Pode-me avisar assim que estiver online para eu ver se funciona correctamente? Obrigado! Pedro Serrão escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:42: Combinado! Forte abraço! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:41: Tranquilo. Fico no aguardo aqui até porque tenho que repassar para a designer do site poder inserir o que você pediu. Mas, a gente bateu ideias aqui e concordamos. Em qui, 13 de out de 2022 13:38, Pedro Serrão escreveu: Tudo bem! Vou agora pedir o código e aprovação nas marcas. Assim que tiver envio para você com os passos a seguir, ok? Obrigado! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:36: Boa tarde, Pedro Vimos os dois modelos que você mandou e o do cubo parece ser bem legal. Não é tão invasivo e chega até a ter um visual bacana. Acho que a gente pode trabalhar com ele. O que você acha? Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. Atenciosamente Paulo Vinicius Em qui, 13 de out de 2022 12:39, Pedro Serrão escreveu: Olá Paulo Tudo bem? Obrigado pela resposta! O meu nome é Pedro Serrão e trabalho na Overads. Trabalhamos com diversas marcas de apostas desportivas por todo o mundo. Neste momento estamos a anunciar no Brasil a Betano e a bet365. O nosso principal formato aparece sempre no topo da página, mas pode ser fechado de imediato pelo usuário. Este é o formato que pretendo colocar nos seus websites (por favor desligue o adblock para conseguir visualizar o anúncio) : https://demopublish.com/pushdown/ Também pode ver aqui uma campanha de um parceiro meu a decorrer. 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