O evento que aconteceu entre os dias 7 e 8 de outubro reuniu autores de várias partes do Brasil. Foi uma festa de valorização da literatura fantástica nacional. Confiram minhas impressões sobre o evento.
Esse é o segundo ano que vou a Porto Alegre participar da Odisseia de Literatura Fantástica. Um evento que já ficou marcado para mim como um ponto de encontro para ter contato direto com autores, editores, agentes literários e tudo o mais que você possa imaginar. Comecei a ir em 2019, mas a edição 2020 nunca aconteceu por conta da pandemia. O evento retornou esse ano na Biblioteca Pública de Porto Alegre e foram dois dias repletos de debates, bate-papos e muita diversão. Antes de passar aos detalhes só tenho gratidão a expressar ao Artur Vecchi, da Avec Editora que sempre me convida para essas confusões gostosas. Também a queridíssima Jessica Pertilo, do Biblioteca de Bolso que foi um doce de pessoa nos dois de evento e pudemos trocar ideias sobre tudo o que vocês puderem imaginar. Vou falar mais dos autores e outras pessoas do mercado editorial, mas queria deixar uma lembrança especial a essas duas pessoas. Não canso de dizer o quanto o Artur representa o que há de melhor em um editor de livros, sempre preocupado com a difusão da literatura fantástica como um todo no Brasil. Ele abre o espaço para que outras pessoas participem e possam divulgar seus materiais. A Odisseia vem crescendo e essa edição já contou com um número bem maior de patrocinadores. Lutamos pela literatura nacional e quanto mais desses espaços existirem, melhor.
O evento aconteceu nos dois andares da Biblioteca Pública de Porto Alegre. O casarão em estilo antigo dava um toque clássico a discussões tão atuais que aconteciam em seu interior. Na parte de baixo ficavam as mesas com as editoras vendendo seus materiais. Nada de grandes editoras; todas eram independentes salvo a Avec que já tem mais lastro de mercado. Editoras como a Metamorfoses, ou a Agência MAGH ou a Dame Blanche estavam lá vendendo seus livros ou apenas oferecendo postais ou outros itens colecionáveis. O mais legal é encontrar livros que você dificilmente acharia em versões físicas em outros lugares como o Nihil, da Carolina Mancini, minha única aquisição em dois dias. Só para ninguém ficar chateado, ando bem seletivo nos últimos tempos por causa de espaço físico (estou me livrando de livros antes de comprar outros). Fui presenteado com mais dois, mas já comento sobre. No segundo andar aconteciam os debates sobre os mais diversos temas. Imaginem um evento com dois dias de duração dedicados a palestras sérias com estudiosos de fantasia, terror e ficção científica. Entre os debates estavam o de Emilia Freitas e a Rainha do Ignoto, a publicação dos dois volumes da Coleção Mundos Fantásticos, da editora Globo. Uma das palestras que eu mais queria assistir era a sobre universos compartilhados que contou com a participação do AJ Oliveira, da Karen Soarele, do Lucas Borne e da Kali de los Santos (se eu soubesse que ia passar o que passei em Guarulhos na minha conexão, tinha ficado). Então era um prato cheio para quem queria conhecer os estudos feitos sobre os gêneros que tanto gostamos, mas com um olhar brasileiro.
Diferentemente de outros eventos, uma marca da Odisseia é o contato direto com os autores. Sem intermediários. Sem filas. Sem espera. Você está andando pelo térreo e pode se deparar com o Felipe Castilho do seu ladinho paquerando um livro de um colega, ou uma Karen Soarele desfilando maravilhosa como elfa se dirigindo para um debate. Ou quem sabe trocar uma ideia com a Gabriela Colicigno, da Agência MAGH sobre qualquer coisa. Esse contato tão próximo só é possível porque o evento é voltado para quem se interessa diretamente pelo gênero e não há ainda um fluxo tão grande de público. O fluxo estava maior do que em 2019, o que significa que há um interesse. Você pode pedir um autógrafo numa boa, claro que com o devido respeito, que não há outros empecilhos. Vi a Nikelen Witter e a Ana Lúcia Merege pararem um tempinho só para autografar livros que o pessoal trouxe. Ou até mesmo autores iniciantes indo pedir conselhos sobre como começar a escrever, processo de escrita ou maneiras de publicar. São momentos que podem significar um retorno importantíssimo para autores novatos. Sem mencionar o contato direto com agentes e pessoas ligadas a editoras pequenas e independentes. Um contrato pode nascer aí, como já aconteceu no passado.
O autor Duda Falcão, um dos organizadores do evento, lançou uma iniciativa bem legal no evento que é a revista Odisseia. Uma revista online que contém a programação do evento e os indicados ao Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica, mas que como brinde vem também com três contos: um da Simone Saueressig, um da Ana Lúcia Merege e outro do próprio Duda Falcão. Aguardem que em breve teremos uma resenha rápida sobre os contos dela. No evento esteve presente também a Time Galleon, uma empresa voltada para a produção de uma visual novel aqui no Brasil. Eles estavam apresentando para quem estivesse interessado e era possível visualizar um pouco do que seria o game. O Prêmio Odisseia continua sendo surpreendente no sentido de que sempre me deixa desconcertado sobre o pouco que conheço de literatura nacional. E olhe que me envolvo bastante. Por exemplo, em 2019, a Carolina Mancini ganhou com Nihil e quando me peguei me informando sobre o romance de terror, me surpreendi com o formato. Vou fazer uma resenha completa sobre ele, mas só posso comentar o quanto a Carolina é uma excelente autora, conhecedora do processo de escrita. Esqueci de dizer: vocês podem acessar a revista Odisseia neste link. Quem esteve no evento pode adquirir uma edição impressa, feita em quantidade bem limitada. Voltando ao assunto da premiação, me desconcertei mais uma vez porque só conhecia poucos dos romances indicados em todas as categorias.
Aqui vocês encontram os indicados e os vencedores nas categorias principais:
NARRATIVA CURTA HORROR:
Juliana Cunha – A devoradora – O Grifo (Vencedora)
Oscar Nestarez – O breu povoado – AVEC Editora
Talita Grass – Canção para um anfíbio – DarkSide Books
NARRATIVA CURTA FANTASIA
Carol Façanha – O sibilar de outrora – Independente
Jadna Alana – Se tu me quisesse – Independente
João Mendes – Serra minguante – Mafagafo (Vencedor)
NARRATIVA CURTA FICÇÃO CIENTÍFICA
Juliane Vicente – Sankofa – Rocket Editorial
Simone Saueressig – O cuco de Sumaúma – AVEC Editora (Vencedora)
Zé Wellington – Quinze minutos – Draco Editora
NARRATIVA LONGA HORROR
Cirilo Lemos – Estação das moscas – Draco Editora
Everaldo Rodrigues – Kiumba – Independente
Larissa Brasil– Irebu – Independente (Vencedora)
NARRATIVA LONGA FANTASIA
Alvaro Senra – Éden – 7 letras
Bruno Anselmi Matangrano – Ebálidas de Pseudo-Outis – Arte e Letra (Vencedor)
Leonardo Oliveira – A rainha do pôr do sol – Independente
NARRATIVA LONGA FICÇÃO CIENTÍFICA
Alexei Dodsworth – Paradoxo de Theséus – Draco Editora
Gabriel Teixeira Canduri – Urubu rei – Astrolábio Edições
Matheus Borges – Mil placebos – Uboro Lopes (Vencedor)
Para fechar esse papo sobre o evento, me senti em casa mais uma vez. É como se a gente pertencesse àquele lugar. Só me senti duas vezes assim: na Casa Fantástica, durante a Flip e na Odisseia. Lá era a minha galera, com quem podia conversar sobre qualquer assunto, desde sonhos trevosos, até exame de DNA ou projetos futuros. Mais uma vez, tive o privilégio e a oportunidade de me hospedar em um hotel onde vários dos autores do evento estavam presentes. O momento do café da manhã era sensacional onde de repente eu via o Alexey Dodsworth e o Thiago Lage, que foi um querido e me presenteou com uma edição de seu Romantífica (uma coletânea de contos de romantasia que terei o enorme prazer de resenhar), ou a Ligia Colares e o Felipe Castilho. Ou até ter a oportunidade de conhecer a simpática Marcela Rossetti do qual só conhecia o trabalho através de um dos nossos antigos colaboradores, o Diego Araujo. Para completar, pude almoçar no domingo com um pessoal maravilhoso e tomar o rumo de casa com as energias renovadas. Me senti abraçado.
(Daí a Gol me destruiu por 12h e eu voltei irado para casa)
Enfim, quero dizer a todos que se puderem ir a Porto Alegre ou morarem no sul do Brasil, tirem um final de semana para ir na Odisseia. Conheçam autores, vejam projetos. Se divirtam. Sejam abraçados. A literatura nacional é mais rica do que vocês imaginam. Está repleta de autores que não tivemos contato porque somos absorvidos pelo mainstream que não nos deixa enxergar em suas franjas. Ando bastante seletivo com quem leio e muitos dos autores que estavam na Odisseia são pessoas que pego os livros sem nem olhar. Já sei que vai vir coisa boa e que terei horas de diversão. Viva a Odisseia e que ela continue e se desenvolva por muitos e muitos anos.
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