Os Pequeninos são criaturas que pegam objetos que os humanos não desejam mais. Arriety passa os seus dias observando o que os grandes humanos fazem e sua curiosidade faz dela uma colecionadora de coisas estranhas. Isso até o pequeno Sho ir morar na casa de sua família.
Sinopse:
Este filme é uma releitura do premiado livro The Borrowers, de Mary Norton, que foi publicado em 1952 e apresentava um grupo de minúsculas pessoas que vivem "pegando emprestado" coisas dos humanos maiores. Na versão animada há algumas mudanças: a história se passa na Tóquio dos dias atuais, e não na Inglaterra da década de 1950, e é centrada na garota Arrietty, de 14 anos, que vive com sua família debaixo do assoalho de uma velha casa. Eles são seres com cerca de 10 cm de altura, e vivem pegando coisas dos outros para sobreviver – tomando cuidado para não serem vistos pelos humanos e nem atacados por baratas e outros bichos do tipo.
A última animação que faltava para resenhar do Studio Ghibli. É até com certa tristeza que eu digo isso. Vou sentir falta deste tipo de histórias que somente o Ghibli é capaz de nos fornecer. Sim, eu já anunciei que faria a resenha de 4 filmes pré-Ghibli, mas não é a mesma coisa. Quando nós vemos a qualidade de animação, a trilha sonora e a produção do enredo, somos capazes de entender a máquina que é este estúdio de animação. Arriety é a prova concreta do que é possível fazer com os recursos certos.
Arriety é uma Borrower; uma raça de criaturas pequeninas que pegam objetos que os seres humanos não usam mais como torrões de açúcar, pedaços de biscoito ou até mesmo agulhas. Ela vive com seu pai, Pod e sua mãe, Homilly, debaixo de uma casa de campo. Eles tem medo dos humanos porque duas famílias viviam junto deles, mas uma família sumiu depois que teve contato com os humanos e a outra foi embora. Arriety e sua família acham que eles são os últimos Borrowers existentes já que eles não tiveram contato com mais nenhum deles. Tudo muda quando Sho, filho de uma das donas da casa vai passar um período de descanso na casa. O menino sofre de uma doença cardíaca que o impede de ter uma infância normal. Logo que Sho chega à casa, ele vê acidentalmente Arriety durante uma de suas explorações do jardim. A partir daí, Sho vai fazer o possível para ser capaz de entrar em contato com Arriety. Mas, o perigo vai rondar a família de Arriety.
Arriety e o Mundo dos Pequeninos é o primeiro filme do Ghibli dirigido por Hiromasa Yonebayashi. Vai ser a partir de Arriety que Hayao Miyazaki vai preferir atuar mais nos bastidores, ajudando na direção de arte. Yonebayashi quase sempre atuava neste papel, mas o estúdio percebeu que seria a hora de ele tentar um papel mais central. Ele também dirigiu posteriormente As Memórias de Marnie. Arriety teve uma aceitação internacional muito positiva. Bateu o recorde de 12 milhões de espectadores de Ponyo: atingiu os 19 milhões. Obteve algumas premiações como o da Tokyo Anime Awards e o Golden Tomato Awards além de outras indicações.
Em Arriety conseguimos ver um estilo de animação mais madura do estúdio. Os quatro últimos filmes demonstram uma enorme segurança e estabilidade na forma de combinar enredo e animação. Aqui a história pedia uma animação mais voltada para a exploração da natureza. Inicialmente cheguei a imaginar que se tratava de uma história baseada nas Viagens de Gulliver, mas me enganei redondamente. Se trata novamente de explorar a natureza em todas as suas nuances. E a animação colabora com essa percepção de relação com a natureza. Algumas cenas muito bacanas são Arriety correndo ao redor de um arbusto, ou o guarda-chuva de folhas de Arriety ou até a chaleira que a família de Arriety usa para cruzar o rio. A animação é belíssima e puxa muito para uma palheta de cores natural com vários elementos verdes simulando folhas. O cenário é muito vivo; as cores vibrantes e os pequenos insetos que se movem pelo ambiente ajudam a compor este universo incrível visto por uma menina pequena. A trilha sonora foi composta por Cecile Corbet, também responsável pelas lindas canções de Arriety. Adorei a trilha sonora que dava um clima muito sutil ajudando a ilustrar a linda história que envolvia Sho e Arriety. Uma das cenas mais bonitas da animação é quando Sho está deitado em um campo de flores sob a luz do sol e Arriety está pensativa nas grades de sua casa olhando para o céu azul. É de um lirismo e uma sutileza únicas.
Deixo com vocês a letra de Arriety's Song de Cécile Corbet:
Arrietty's Song
Tenho 14 anos de idade, eu sou bonita Uma alegre pequena dama Por muito tempo embaixo do chão Estive vivendo como um pequenino Ás vezes alegre, ás vezes triste Adoraria conhecer alguém Sentindo o vento em meus cabelos E olhando para o céu Eu quero lhe dar uma flor Lá fora há um mundo novo Olhe, borboletas estão dançando Esperando por mim Sim, nada muda No meu pequeno mundo Eu não odeio isso, mas eu quero saber Mais e mais sobre você Minha tristeza e minha felicidade sempre estiveram Misturadas uma com a outra Sentindo o vento em meus cabelos E olhando para o céu Eu quero lhe dar uma flor Lá fora há um mundo novo Olhe, borboletas estão dançando Esperando por você Sob o sol E cercado por flores Eu quero passar meus dias com você Com essas memórias no meu coração em um mundo novo Vou viver do meu próprio jeito
O enredo de Arriety é baseado em uma série de livros da autora inglesa Mary Norton chamado The Borrowers. No geral, eu gostei da história. Achei ela de uma execução bem simples e direta. Achei que Yonebayashi poderia ter esticado por mais meia hora a animação que não faria mal à história e a deixaria menos corrida. Só vamos conhecer a natureza dos Borrowers bem na segunda metade da animação. Se encararmos como uma história fantástica, sentimos menos a necessidade de explicar detalhes. De qualquer forma, como a premissa é simples, não existe uma necessidade de complicar muito. Talvez essa seja a magia por trás de Arriety: simplicidade.
O tema geral da animação é a amizade e a coragem para superar obstáculos. Existe um medo muito grande das duas partes (humana e Borrowers) de se encontrarem. É o medo do desconhecido. Não conhecer envolve uma série de mistérios e desinformações que podem prejudicar ambos. Somente quando Arriety tomou uma decisão de explorar por si só é que ela foi capaz de compreender aquilo que se passava. Apenas temer os humanos por temer não resolve o que foi feito. O mesmo pode ser dito de Sho: ele queria conhecer Arriety. Mas somente quando ele se dispôs a compreender as reais motivações que levavam Arriety a se esconder dos humanos é que ele foi capaz de fazer algo a respeito.
Podemos também tirar que somente quando Arriety e Sho começaram a trabalhar juntos é que eles foram capazes de solucionar aquilo que acontecia com eles. Não somos capazes de sobreviver por nós mesmos sem ajuda de outro. Isso ficou nítido na cena em que Sho precisou abrir a janela que estava emperrada e somente com a ajuda de Arriety ele foi capaz de fazê-lo. Sho também encontrou no contato com os pequeninos a força capaz de superar a vinda de sua operação e a possibilidade de morrer no processo. Encontrar Arriety foi a luz que ele precisava para sair de sua depressão. E o contato de Sho com Arriety fez com que ela repensasse o seu medo de humanos. Ela percebeu que nem todos são capazes de cometer maldades.
Arriety tem uma história linda e muito profunda. Miyazaki retoma a discussão de estarmos destruindo a natureza. A vida dos pequeninos depende da existência de lugares onde eles possam conviver harmonicamente com os homens. Mas à medida que o homem vai selvagemente tomando todos os espaços a existência destes pequenos seres fica ameaçada. Fazia quase uma década que ele não retomava esta discussão e a acho muito pertinente. Sensacional como uma animação que usa a relação com a natureza como mote principal possa discutir espécies ameaçadas de extinção. Um dos protagonistas toca neste tema ao realizar um diálogo.
Recomendo muito Arriety para todas as idades. Não só pela animação extremamente colorida e vivaz, mas pelos temas e pela profundidade do enredo. A trilha sonora de Cecile Corbet é absolutamente fascinante. Consigo ouvir diversas vezes a música que ilustra bem a personalidade da protagonista. Achei que o enredo poderia ser menos corrido, mas foi a opção do diretor ao usar uma abordagem mais simples e direta.
Na próxima semana falarei sobre uma das animações pré-Ghibli.
Ficha Técnica:
Nome: Arriety e o Mundo dos Pequeninos
Diretor: Hiromasa Yonebayashi
Produtor: Toshio Suzuki
Roteiristas: Hayao Miyazaki e Keiko Niwa
Baseado em The Borrowers escrito por Mary Norton
Estúdio: Studio Ghibli
País de Origem: Japão
Tempo de Duração: 95 min
Ano de Lançamento: 2010
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