Trago hoje para vocês uma matéria bem legal sobre as diferentes criaturas que habitam o mundo criado por S.A. Chakraborty em A Cidade de Bronze. Venham conhecer algumas delas comigo.
A Cidade de Bronze foi uma das belas surpresas publicadas no ano passado pela editora Morro Branco. Mesmo mantendo os clichês típicos do gênero young adult, a autora mostrou um cenário refrescante e diferente. Calcou sua narrativa no nosso mundo real (em outro período, é claro), mas criou um cantinho mágico que existe dividindo espaço com o nosso mundo. Além disso, povoou-o com todo tipo de criaturas vindas dos mitos do Oriente Médio. Essas criaturas saem um pouco daquela mesmice dos elfos, anões e orcs que, quando são muito usados, acabam se tornando cansativos.
Nesta postagem eu vou apresentar algumas das criaturas que aparecem bastante no primeiro volume desta saga. Não pretendo apresentar todos porque quero deixar um pouco de mistério para os leitores.
Djinn
Na narrativa os djinns representam seres de fogo que se rebelaram contra o domínio do rei Ghassan. Existe até uma diferenciação entre uma casta chamada daevas (que representariam os seres originais, herdeiros dos espíritos do fogo) e os djnns (que seriam os rebeldes). Por conta do governo de Ghassan, os daevas habitam seu bairro próprio sem se misturar com outras classes menos privilegiadas (principalmente os mestiços a quem eles detestam).
Na mitologia oriental, os djinns se situam em uma estranha linha entre demônios e seres iluminados. Não há uma diferenciação clara entre ambos já que os djinns podem atuar dos dois lados da moeda. Aliás, o próprio termo djinn é usado de uma forma bem genérica para falar acerca de seres sobrenaturais. Na cultura islâmica, o termo djinn pode ser usado tanto para falar de seres que não podem ser detectados pelos sentidos humanos (nesse meio incluem-se anjos, demônios e afins) ou espíritos do fogo criados por Deus antes do surgimento de Adão e Eva. Existe uma noção meio confusa acerca dessa existência pré-adâmica porque alguns mitos dizem que eles seriam seres que lembrariam seres humanos no sentido de precisarem se alimentar e serem capazes de pecar. Mas, existem outras lendas que colocam os djinns em uma subcategoria angelical.
Djinns podem aparecer tanto em uma forma zoomórfica (lembrando um animal) quanto antropomórfica (parecido com um ser humano). Podem surgir também no meio de tempestades de areia. No caso de animais, eles podem aparecer como escorpiões, gatos ou corujas. Mas, existem relatos islâmicos de djinns surgindo na forma de cães negros. A forma antropomórfica dos djinns possui alguns elementos de animais, como cauda de escorpião, chifres ou olhos diferentes. Isso demonstra a falta de individualidade deles como forças da natureza, mas que eles atingiriam essa individualidade quando atingissem uma forma inteiramente humana.
Daeva
Quem imaginou que os daevas fossem apenas um tipo de djinns, se enganaram. Eles realmente existem e fazem parte da religião zoroastrista. O zoroastrismo é uma religião da antiga Pérsia que imaginava o destino dos homens a partir de um equilíbrio entre o bem e o mal. O bem seria representado por uma figura denominada Ahura-Mazda enquanto que o mal estaria na forma de uma entidade chamada Ahriman. Os textos sagrados do zoroastrismo, os Gathas, se referem aos daevas como deuses a serem rejeitados. Ou seja, são colocados ao lado de Ahriman, representando instintos malignos. Contudo, nos Gathas mais antigos, os daevas não são tão malignos, sendo apenas incapazes de discernir o bem do mal. O que se entende é que essa demonização dos daevas é algo muito posterior.
Já na Avesta (textos sagrados do zoroastrismo), os daevas são nitidamente malignos. Estes seres estariam atrás apenas daqueles que não observam as normas da religião. Ahriman teria criado os daevas durante a sua luta eterna contra Ahura-Mazda. Alguns dos daevas mais poderosos representariam "pecados" ou "desejos ruins" dos seres humanos: pensamento maligno, a mente defeituosa, o descontentamento, a opressão, a destruição e a morte da flora. Estes seres poderiam possuir poderes benignos ou malignos, mas na maior parte dos escritos eles saem à noite para praticar suas más ações e atentar o coração dos homens.
Esfinge
As famosas esfinges são consideradas criaturas traiçoeiras. Seu ritual de criar enigmas para os homens responderem é uma forma de enganá-los para se alimentar de seus espíritos. Entretanto, temos duas versões da esfinge: uma grega e uma egípcia. No mito grego de Édipo, a esfinge de fato se alimenta daqueles que não respondem a seus enigmas. Já no egípcio, as esfinges possuem uma forma mais próxima da humana e são apenas seres de imensa sabedoria. A diferença é que no mito egípcio, as esfinges são incrivelmente poderosas.
A ideia de usar enigmas para enganar viajantes se deve à associação da esfinge como a guardiã da cidade sagrada de Tebas. Apenas aqueles que solucionassem seus enigmas seriam autorizados a entrarem na cidade.
Em A Cidade de Bronze, temos esfinges protegendo o castelo real de Daevabad. Até o momento eles são apenas figuras decorativas, mas dada a sua fama nas mais diversas mídias, tenho certeza de que a autora vai encontrar um uso em algum momento de sua série.
Marids
No Corão, marids representam espíritos rebeldes. Não há uma menção clara a respeito deles no islamismo, mas existe uma história sobre um marid que guia um homem até a horda de Salomão. Entretanto, o marid trai o ser humano; isso porque marids fazem o contrário daquilo que lhes é pedido.
Na narrativa de Chakraborty, os marids são apenas figuras lendárias. Eles teriam entrado em guerra há milênios atrás e hoje seus espíritos amaldiçoaram a lagoa que cerca Daevabad. Qualquer djinn ou daeva que cair em suas águas, é devorado pela essência desses espíritos do mar. Há lendas no livro que a família do príncipe Ali teria algum tipo de aliança ou poder oriundo destes espíritos. Se há alguma verdade nesses boatos, só o tempo dirá.
Ghouls
Antes de testemunhar os incríveis poderes flamejantes de Dara, Nahri é perseguida por uma série de ghouls em um cemitério. Ela é atraída para lá enquanto seguia uma menina que ela havia ajudado pouco tempo antes. Estes seres imortais apresentam todo um novo mundo para a personagem. Ela tenta de tudo para exterminá-los, mas suas habilidades como trambiqueira são muito pouco contra estas criaturas imortais.
Os ghouls são criaturas oriundas de lendas anteriores ao período muçulmano. São imaginados como seres saídos de túmulos e que se alimentam de carne humana. Lembram um pouco os nossos zumbis dos dias de hoje. Curiosamente existe uma flexão de gênero para eles: ghul para os monstros masculinos e ghulah para os femininos. No folclore antigo, os ghouls são criaturas inteligentes, responsáveis por atrair pessoas incautas para suas tumbas onde estes são sumariamente devorados.
Algumas variantes da lenda colocam os ghouls como seres metamorfos que se disfarçam de hienas antes de devorarem os homens. São responsáveis também por roubar moedas, comer cadáveres; ou seja, são representados como um tipo de demônio do deserto.
Rukhs
O rukh ou roc é uma ave de rapina típica da mitologia árabe. Estas aves lendárias aparecem em várias histórias da cultura árabe como As Mil e Uma Noites. Temos vários relatos sobre a origem do mito do roc. Um deles é originário da Índia e dizia que o roc teria nascido do combate entre o pássaro Garuda e a serpente Naga. Já Marco Polo, durante suas viagens pelo Oriente diz ter visto uma imensa ave cujas asas teriam dez passos de comprimento e seria igualmente larga. Ele dizia ainda que um roc tinha forças descomunais podendo carregar um elefante em suas garras por quilômetros de distância.
Na cultura etíope, o roc é o responsável por levar um pedaço de madeira para o rei Salomão. Este presente teria permitido a finalização do Templo. Diz-se também que esse pedaço de madeira teria sido responsável por devolver a forma humana à rainha de Sabá.
E por enquanto é isso, gente. Gostaram da coluna? Querem outras com curiosidades de outros livros? Espero que tenham curtido e deixem seus comentários.