A autora Jana Bianchi inicia hoje uma série de reportagens sobre tradução. Vários elementos com os quais tradutoras nunca imaginaram precisar pensar ao entrar para este incrível mundo.
Playlist:
Parte 5 - Uma Linguagem Neutra
Essa é a primeira vez que sou convidada para falar sobre tradução. Já escrevi um monte sobre escrita, edição e outras experiências que tive no mercado literário, mas confesso que senti um friozinho na barriga quando comecei a trabalhar neste texto. Me sinto flertando com uma pessoa nova, pisando naquele território delicioso em que o objeto de afeto nos surpreende a cada revelação — o que faz com que essa fase seja também muito assustadora, porque é quando a síndrome do impostor chega dando uma voadora na porta e perguntando “será que você é capaz de segurar essa barra que é falar sobre tradução?”.
Por isso mesmo, demorei um pouco para definir a abordagem da minha conversa com você. A única coisa que eu sabia é que não escreveria um texto com dicas de tradução — afinal, como acho que já deu para perceber, ainda não sou ninguém na fila do pão. Na verdade, mal cheguei na porta da padaria: comecei a traduzir há menos de um ano. Também não queria escrever um texto sobre como entrei no mercado — uma, porque há muitas formas de se entrar nesse meio, e outra porque falei bastante sobre isso nesse fio no meu Twitter (postado pelo celular quando fazer longas viagens intermunicipais de ônibus ainda era uma realidade).
Por outro lado, os últimos nove meses foram tempos de muita produção e experiências ecléticas na tradução: desde junho de 2019, tive o privilégio de traduzir dois livros de RPG (estou traduzindo o terceiro nesse momento), duas novelizações de filmes de ficção científica, um livro young adult de fantasia, uma novelização de um filme infantil também de fantasia, um conto de uma autora brasileira que foi escrito em inglês, um quadrinho de ficção científica, uma biografia em quadrinhos, um quadrinho de filosofia, uma graphic novel (minha primeira, e até o momento única, tradução do espanhol) e quatro jogos de tabuleiro.
E nossa, aprendi muita coisa com cada um desses projetos. Mas, parando pra pensar agora, todos contribuíram um pouquinho com o aprendizado que considero principal: eu não sabia nada sobre esse universo.
Foi partindo disso que escrevi esse texto, um resumo em cinco tópicos do que eu não sabia sobre tradução. Cinco coisas que eu gostaria de ter sabido antes, porque assim poderia ter dado mais valor à profissão sem a qual eu não seria quem sou hoje — e aposto que você também não (já parou para pensar quem você seria se não conseguisse entender bulhufas dos livros, das histórias em quadrinhos, dos filmes, das séries, dos jogos e de todo o resto dos conteúdos criados em outra língua que você já consumiu na vida?). Enfim, espero que descobrir essas coisas — ou ler um pouquinho mais sobre elas — seja tão fascinante para você como vem sendo para mim!
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*Jana Bianchi é escritora, tradutora de livros, quadrinhos e jogos de tabuleiro, editora-chefe da Revista Mafagafo, cohostess do podcast Curta Ficção e passeadora de lobisomens. Entre outros, publicou a novela Lobo de Rua (2016, Dame Blanche) e contos em antologias e revistas como Trasgo, Somnium e Dragão Brasil. Pode ser encontrada no site janabianchi.com.br e no Twitter e no Instagram como @janapbianchi.
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