Arthur Machen foi um dos autores influentes na escrita de H. P. Lovecraft, algo fácil de notar no livro The Great God Pan, cujo terror vem do conhecimento da criatura, de características superiores a limitação humana. Esta resenha avalia essa e outras qualidades presentes ou pendentes na obra de Arthur, lendo diretamente pelas palavras do autor, em inglês.
Sinopse:
O século atual é marcado por avanços na ciência jamais vistos antes, há de considerar, entretanto, que todas as civilizações contribuíram com um ponto de conhecimento a fim de ir tecendo este conjunto de conhecimentos que convergem para a linha da evolução humana, à medida que este mesmo trajeto marca o processo histórico do Planeta. O livro O grande deus Pã é a história de horror dei Arthur Machen, na qual o autor explora as excentricidades trazidas pela ciência, que acaba construindo criações complexas, sem que para isto entenda os trâmites éticos que as experiências científicas podem inflamar, quando trazem juntamente com as inovações, as consequências de forças não manipuláveis. Escrito na época do decadentista inglês, caracterizada por se opor a mentalidade racional que a antecedia, este autor inspirou grandes escritores de horror como Lovecraft e Oscar Wilde. Os tempos no qual o livro se situa, tendiam a considerar as forças instintivas dos seres humanos, como fortes suscitadores das atitudes dos homens. Era o momento também, de correntes científicas como a psicanálise e Nieztchie, pensadores que reconheciam a importância das forças sublimares e inconscientes como motivação das atitudes humanas. A trama começará com um experimento e nos capítulos posteriores um clima de assassinato e suicídios se ligarão surpreendentemente ao experimento introduzido na obra. Com muita criatividade, este livro de ficção-horror fará um dispare de consciência sobre questão moderníssimas como a manipulação das forças que o homem ainda não conhece bem.
É a história sobre alguém ousado disposto a conhecer características além da compreensão limítrofe da humanidade. Diferente do horror cósmico ― criado antes dos primeiros contos de H. P. Lovecraft ―, tem a peculiaridade de causar consequências a pessoas além daquele que testemunha o ser de capacidades aterradoras, comprometendo vítimas com relações indiretas, de fato inconscientes da situação, tudo fruto da ousadia das aplicações positivistas sobre aspectos superiores à consciência humana. Em vez de uma criatura alienígena, pessoas morrem sob a presença do Grande Deus Pã ― The Great God Pan ―, escrito em 1890 por Arthur Machen. Esta resenha feita a partir da leitura com a edição da Open Road Integrated Media, disponibilizada desde 2017.
“Em todo grão de trigo há a alma de uma estrela escondida.”*
O Dr. Raymond chama seu amigo Clarke para testemunhar o progresso de seu trabalho, o de entrar em contato com uma entidade sobrenatural, retirando o véu limitando a humanidade de ver o Grande Deus Pã. Mary é usada como uma cobaia, uma moça atenciosa às necessidades de Raymond, e ele desconsidera limites ao contar com a ajuda dela. Basta apenas operá-la, e sim, a faca é necessária. Assim o faz, e Mary vislumbra o Deus, enlouquece, ficando incapacitada pelo resto da breve vida.
A história prossegue anos depois deste acontecimento, narrando mortes misteriosas. Estas incitam devaneios fantasiosos nas pessoas próximas da vítima. Villiers conversa com o amigo Herbet após muito tempo sem contato, depois descobrindo que seu amigo na verdade tinha morrido. A causa de sua morte gera divergências entre os legistas, exceto quanto ao estado de temor presente nas feições do cadáver. Evitando detalhes sobre as mortes posteriores, todas têm algumas características em comum, entre elas a relação com a esposa de Herbert, ora conhecida como Helen Vaughn, ora por outros nomes, conforme os personagens prosseguem em sua investigação.
“’Apenas seres humanos possuem nomes, Villiers; há mais nada que eu possa dizer.'”
Os capítulos alternam entre os personagens envolvidos na investigação das mortes misteriosas, em especial o ponto de vista de Herbert, pois acaba incitando o interesse do amigo Villiers a descobrir a causa com a ajuda de Austin e do Clarke. A intenção da narrativa é desenvolver o mistério ao redor das mortes, e tal prioridade da história afasta o aprofundamento dos personagens presentes nas cenas da investigação. Novas pessoas são inseridas na trama apenas como artifícios para contar sobre mais mortes. Embora Pã seja pouco citado nessa etapa da história, continua presente, lembrado entre uma conversa e outra. Isso até o desfecho da história, quando as pontas são amarradas e esclarece todas as mortes, inclusive o mistério em torno do Deus. The Great God Pan se limita a isso, decepcionando pela falta de desenvolvimento na trama dos personagens, trabalhando apenas a partir do mistério levantado.
Poucas cenas são contadas pelo narrador, o restante é narrado através dos diálogos, do personagem compartilhando sua aventura com o outro. O autor teve domínio em criar esses diálogos, soando naturais, jamais usados a explicar a história ao leitor ― infodumping ―, em vez disso são falas detalhadas da investigação realizada por eles. Tanto o narrador quanto os personagens, entretanto, deixam a desejar quanto ao uso de adjetivos, desde aos relacionados ao Pã, caracterizando-o com palavras genéricas, da mesma forma feita por Lovecraft anos depois. Há ainda o vício de duas palavras, queer e fancy ― estranho e extravagante/imaginário ―, usadas em vários capítulos, nas diversas situações.
The Great God Pan persiste em edições séculos após à primeira publicação para lembrar aos leitores sobre a possibilidade de empregar um terror causado por seres superiores à abstração humana, algo presente no horror cósmico, e provocado pelo Deus grego dos bosques neste livro. A narrativa dedica toda a história ao mistério das mortes sob a suspeita de estar relacionado a Pã, a partir da esposa de Herbert, desenvolvendo poucos elementos além disso por meio de diálogos a tomar o maior espaço do texto, recompensando o leitor paciente com uma frase a revelar toda a história de vez no capítulo final.
* citações traduzidas pelo resenhista
“’Esqueci que nenhum olho humano é capaz de vislumbrar tamanha descoberta e ficar impune.’”
Ficha Técnica:
Nome: O Grande Deus Pan
Autor: Arthur Machen
Editora: Open Road Media
Número de Páginas: 137
Ano de Publicação: 2017
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