Em mais uma coletânea de contos de ficção especulativa, Cláudia desfila a sua habilidade de tecer narrativas como fios em uma teia de aranha. Vamos falar de dois contos desta coletânea.
Para o mês de julho do meu Desafio #LeiaMulheres eu escolhi a leitura de mais uma coletânea de contos da Cláudia Dugim. Conhecendo a autora eu sabia que iria encontrar uma vez mais a sua escrita ácida e sempre muito criativa. E não me arrependi. Por vezes os contos são difíceis de entender em um primeiro momento, mas eu sugiro ler com calma e paciência e relê-los para captar as nuances dos contos presentes. Você vai se surpreender com o que a autora nos apresenta. Vou comentar apenas dois contos de forma a não estragar a surpresa dos leitores já que os contos são bem curtinhos.
O conto que dá título à coletânea nos mostra um futuro onde pesquisadores precisam enfrentar oceanos de merda nos limites de uma cidade protegida por uma espécie de redoma. Aqui a autora nos mostra a naturalização de uma catástrofe pela qual estamos passando nos dias de hoje. O que será de um futuro onde tudo está perdido e dependemos da exploração do desconhecido para resgatarmos pequenos lembretes daquilo que já fomos um dia. Ao mesmo tempo a autora se foca na obsessão de um explorador que atravessa todos os limites para alcançar o seu objetivo. O quanto de si mesmo ele perde ao longo da jornada e o coloca em um caminho sem volta.
Uma das coisas que mais me agrada na escrita da Cláudia é o quanto ela consegue ser sem limites e pudores. É uma sensação de agressividade, como se ela me pegasse pelos ombros e me chacoalhasse para eu entender a mensagem passada por ela. Esse instinto quente me anima a continuar. O explorador é um personagem que está tão embrenhado nesse mundo devastado que a busca pelas ruínas da civilização é a sua maneira de se rebelar, de tentar buscar uma normalidade que ficou para trás.
Outra característica que eu gosto bastante na escrita da autora é o quanto ela anda nos limites daquilo que chamamos de ficção especulativa. Isso é algo que eu já havia percebido em outras histórias e aqui isso continua a aparecer. Por exemplo, o conto Para Dizer que Não Falei de Mim temos uma narrativa em que a protagonista conversa com um simulacro seu. Este simulacro aparece como um espelho em sua narrativa e possui todas as suas características psicológicas e emocionais. A ideia é discutir o que a protagonista deve fazer com o cadáver de sua amada. Aqui o elemento fantástico se encontra apenas na localidade futurista e no próprio simulacro. São sutilezas que acabam servindo para legitimar o tema da narrativa.
Só tenho a recomendar as histórias curtas da Cláudia. Agora eu fiquei com vontade de ler algo maior e mais elaborado dela. Certamente vai dar algo interessante. Espero que a autora se anime. No mais, só tenho a recomendar Rede Vermelha sobre o Oceano de Merda e Outros Contos. Como qualquer coletânea de contos, alguns vão te chamar a atenção enquanto outros não. Mas, o nível dos contos está muito bom.
Ficha Técnica:
Nome: Rede Vermelha sobre o Oceano de Merda e Outros Contos
Autora: Cláudia Dugim
Editora: Auto-Publicado
Gênero: Ficção Especulativa
Número de Páginas: 48
Ano de Publicação: 2018
Avaliação:
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