Como os clássicos devem ser introduzidos a nossos jovens? É melhor começar com materiais mais contemporâneos? Vamos nos debruçar sobre esta espinhosa questão.
Oscar Wilde. Mary Shelley. Bram Stoker. Machado de Assis. José de Alencar. Aluísio de Azevedo. O que esses nomes tem em comum? A raiva e o desprezo dos estudantes ao ter que lê-los para a escola. Eu demorei a fazer essa postagem porque o meu planejamento passava por falar sobre outro assunto. E aí eu recebi através do meu perfil no Facebook essa matéria aqui, de julho de 2014, publicada na revista Galileu:
Eu já fui aluno do Ensino Médio um dia. E tive que ler todas estas obras; na verdade duas a cada semestre. Minhas aulas de literatura passavam pelo famoso decoreba das características de cada fase da literatura: gravar o que foram os cancioneiros populares, as diferenças entre o Barroco e o Arcadismo, os escritores do Modernismo e a Semana de 22. Eram aulas chatas e que não me diziam nada. Pelo que Gabriela Rodella, autora do artigo da Galileu, coloca, eu concordo com o fato de as aulas de literaturas feitas através desta metodologia serem extremamente sacais. Não foram estas aulas que me fizeram gostar de literatura. Se fossem abordadas outras metodologias como a contação de histórias ou que cada aluno ajudasse a construir o conhecimento a respeito de cada período literário, talvez o impacto fosse menor.
Os livros de ficção estão na moda. Toda vez que eu passo em uma livraria vejo um adolescente comprar um volume do Harry Potter ou do Percy Jackson. São obras que ressoam às mentes dos jovens. Transmitem frescor, juventude, descoberta. Para pessoas mais velhas, são leituras bobas e até meio previsíveis. Mas, consigo entender o apelo que uma J. K. Rowling tem com a juventude. Li do volume 1 ao 4 do Harry Potter e o que eu pude depreender que um dos pontos positivos à obra é que ela vai amadurecendo pouco a pouco. Muitos dos leitores que puderam acompanhar a série desde o seu início e ficava ávido por um novo volume viu seus personagens favoritos amadurecerem, sofrerem, ficarem felizes e ganhar coragem diante das adversidades. Coisa parecida foi tentada com Percy Jackson embora o resultado tenha sido menos espetacular. Muitos adolescentes entraram no mundo da literatura através destes livros.
Em um mundo de videogames super-modernos com histórias cada vez mais intrincadas, quando você oferece a este adolescente uma continuação de uma história que começou no videogame, é lógico que o interesse vai estar presente. Certamente vai ter aquele garoto que quer saber o que aconteceu com Solid Snake depois de um dos muitos Metal Gear Solid ou com um dos fuzileiros do jogo Halo. É uma venda certa. Uma fórmula que vai agradar àqueles que jogaram o jogo ou fazer com que outros que nunca jogaram se interessem em jogar.
Quando a gente transporta essa ideia para os clássicos a coisa complica um pouco. Oscar Wilde escreveu no século XIX. Existia uma outra forma de se dirigir às pessoas. Outros hábitos, outros costumes e outra cultura que não é a nossa. Os interesses eram diferentes, as formas de entretenimento também. Até mesmo as preocupações eram outras. Quando um aluno precisa ler Triste Fim de Policarpo Quaresma a sua primeira reação é de estranhamento. O nível de erudição é outro. Mesmo que a história seja interessante, a leitura de um clássico exige preparo. Não podemos simplesmente jogar uma leitura de Machado de Assis no colo e esperar que ela desperte encantamento. Isso porque o aluno não foi propriamente preparado para isso.
Eu proponho sempre uma bagagem literária antes de apostar em algo mais complicado. Mesmo eu não sou capaz de ler um clássico sempre. Eu preciso alternar entre leituras simples e despretensiosas e algo mais pesado. Um aluno então precisa de um preparo maior porque ele está chegando "virgem" a um mundo completamente diferente. Concordo com a autora do artigo que é preciso mesclar esses dois tipos de literatura. Mas acho que isso precisa ser algo supervisionado. Que tal uma enquete em sala? Ou até uma troca: você pode ler isso, mas terá que ler aquilo então. Ou usar atividades lúdicas para que o aluno não sinta tanto estranhamento com a obra. Uma dramatização, talvez?
A leitura desse tipo de obra não pode substituis jamais o clássico. Isso porque este tipo de obra faz com que cresçamos como leitores e como pessoas. Achei o artigo de Gabriela pequeno e pouco aprofundado no assunto. Isso porque este tipo de questionamento sempre aparece. Se não me engano é a segunda ou terceira vez que abordo esse assunto. E toda vez que procura comentar sobre ele, me recordo das palavras de Ítalo Calvino no livro Por que ler os clássicos:
"[...] ler pela primeira vez um grande livro na idade madura é um prazer extraordinário: diferente (mas não se pode dizer maior ou menor) se comparado a uma leitura da juventude. A juventude comunica ao ato de ler como a qualquer outra experiência um sabor e uma importância particulares; ao passo que na maturidade apreciam-se (deveriam ser apreciados) muitos detalhes, níveis e significados a mais."