Os Sad Puppies tomaram o Prêmio Hugo de assalto. Quem eles são? O que querem? Suas críticas tem fundamento?
Na semana passada apresentei toda a discussão em torno da premiação dos Hugo Awards. E como Larry Correia e Brad Torgesen conseguiram “hackear” a premiação, escolhendo quem eles quisessem para participar dos últimos 5 finalistas. Hoje vou apresentar os motivos pelos quais ambos os autores tomaram esta atitude tão extrema e o que eles anseiam conquistar. Esta é uma postagem expositiva. De forma alguma representa a minha opinião sobre o assunto. Caso queiram conhecer um pouco mais sobre a opinião dos autores, o link do blog de Brad Torgesen está abaixo: https://bradrtorgersen.wordpress.com/2015/02/01/sad-puppies-3-the-2015-hugo-slate/ Basicamente, a crítica dos autores se concentra em três pilares: a) a premiação ter passado a ser usada para objetivos ideológicos ou políticos; b) frequentemente as regras da premiação serem distorcidas ou manipuladas para favorecer um ou outro autor; c) não ser tolerável criticar o grupo de votantes, pois estes representariam o público em potencial. Os dois primeiros pilares podem ser analisados conjuntamente. Isto porque, segundo ambos os autores, este tipo de prática já acontecia por várias décadas. Mas que com o advento da internet e das redes sociais isto ganhou ainda mais visibilidade. Para eles, não é isso o que realmente incomoda. Faz sim com que o Sad Puppies passe a agir em prol daqueles autores menos favorecidos, mas não chega a ser mola propulsora do movimento. O problema estaria no fandom, ou seja, no grupo de fãs que se inscreveram (e pagaram a taxa de inscrição) como votantes do Hugo Awards na WorldCon. Na metade do século XX, a ficção científica e a fantasia eram dois estilos literários marginalizados e de nicho. Os autores eram vistos como seres à parte dos grandes escritores. Apenas um pequeno grupo de pessoas se consideravam fãs dos livros da chamada Era de Ouro. Muitos autores só ganharam reconhecimento décadas mais tarde como Ray Bradbury. A partir do lançamento de filmes de sucesso como Star Wars e Alien, o Oitavo Passageiro a quantidade de fãs aumentou causando um boom de novos autores de ficção buscando novos temas.
Mas, para o Sad Puppies, a mentalidade do fandom que participa do Hugo Awards não mudou. As premiações laureavam obras menos populares e mais ideologicamente direcionadas. Algumas delas tendo até uma clara orientação marxista. Estes fãs que participam das votações do Hugo Awards não estariam representando os verdadeiros fãs do gênero. Estes estariam alijados de todo o processo eletivo só podendo celebrar o seu encerramento ao consagrar um campeão. Na opinião de Larry Correia, estes votantes são apenas intelectualóides retrógrados. Além disso, esse grupo de votantes não representaria os desejos da maioria dos fãs. Isso porque eles representam apenas uma pequena parcela dos fãs que freqüentam a WorldCon. Mais alarmante é o fato de que algumas obras acabam não sendo consideradas elegíveis para receber o prêmio: livros baseados em jogos de videogame, novelização de filmes e expansões de uma franquia (como os romances de Star Wars). Ou seja, não estariam representando os gostos populares já que este tipo de obra sempre se encontra entre os mais vendidos durante as semanas de lançamento. Fãs gostam deste estilo de livros. E, a partir do final da década de 90, o movimento dos geeks passou a ser visto com melhores olhos. Geeks hoje representam uma boa parte da população norte-americana e conquistaram seu espaço de forma digna na literatura, nos filmes e na televisão. Seria natural que o Hugo Awards fosse a representação dos gostos populares, algo que Hugo Bernstein tanto lutou no início do século XX ao patrocinar a criação da Amazing Fantasies, a primeira revista que publicava contos de ficção científica. Os objetivos do Sad Puppies são basicamente três: 1) Conseguir indicar autores que normalmente não seriam elegíveis para a premiação. Pessoas como L. E. Modesitt, Eric Flint e Kevin J. Anderson que possuem uma produção extremamente prolífica, mas que nunca tiveram lobby para ganhar este tipo de premiação. Até mesmo fazer premiações póstumas a pessoas que nunca integraram os finalistas. 2) Permitir que obras baseadas em jogos ou expansões de franquias possam integrar a premiação. Com isso, as premiações ganhariam um ar mais popular e deixariam de representar a opinião de um pequeno grupo formado por eruditos. Tudo isso seria feito através daqueles que enviariam suas sugestões para o blog Sad Puppies e seria escolhido a partir da votação da maioria. A única condição é seguir o blog e apoiar a causa de ambos os autores. Através de um apoio muito maciço seria alcançado o objetivo final e mais profundo: 3) Reestruturação do formato das premiações concedidas. Através da abertura de uma discussão popular seria possível alcançar um formato ideal de votação. O modelo atual é obsoleto e ultrapassado por isso deve ser abandonado em prol de algo novo e que possa atender a um público cada vez maior do gênero. Para alcançar estes três objetivos não importariam os meios, mas os objetivos finais conquistados. Através de ações radicais como o de hackear as premiações a atenção da imprensa e da crítica especializada seria chamada para rediscutir essas premiações. Na opinião de ambos os autores nem o Nebula Awards (outro importante prêmio do gênero) estaria isento de críticas. E então o que acharam? Eu tenho minhas opiniões, mas queria ouvir a dos leitores do blog. Na próxima semana, apresentarei a reação de dois autores que responderam a Brad Torgesen e Larry Correia, George R. R. Martin (autor de Game of Thrones) e Mark Lawrence (autor de Prince of Thorns).
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