O protagonista, Arren, é acusado de ter supostamente matado o seu pai, o rei. Ele teria roubado uma arma mágica e fugido para fora do reino. Após ser atacado por lobos, ele é resgatado pelo estranho Sparhawk que o coloca sob sua tutela. É então que uma trama sinistra se desenvolverá...
Sinopse:
Algo estranho caminha sobre a terra. O reino está se deterioando. Pessoas estão começando a agir diferente, pessoas estão começando a ver dragões, que não deveriam entrar no mundo dos humanos. Diante desses estranhos eventos, Ged, um feiticeiro nomade, está investigando a cause. Durante sua jornada, ele conhece o Príncipe Arren, um adolescente perturbado. Enquanto Arren parece apenas um garoto tímido, ele tem um grave lado negro, que lhe concede força, um ódio implacável e que não tem misericórdia, principalmente quando se trata de proteger Teru, uma órfã. Para os oportunistas essa é uma ocasião perfeita, e Bruxa Kumo decide usar Teru como isca contra Arren, e somente Ged poderá ajudá-lo a superar seus medos e recuperar Teru.
Antes de qualquer coisa quero dizer que eu não li nenhum livro da série Terramar de Ursula K. Le Guin de onde a animação se baseia. Tomei essa atitude por causa da minha avaliação que acabou tendendo pelo prejudicial no caso de O Castelo Animado. Eu ter lido Diana Wynne Jones antes de ter visto a animação me fez criticar aquilo que Miyazaki não inseriu no filme. Eu quis evitar a comparação no caso de Terramar até por conta da habilidade de escrita de Le Guin que é maravilhosa.
Dois elementos que boa parte dos escritores de literatura comentam quando falam de como um autor deve escrever sua história é a coesão e coerência. Coesão no sentido de que os parágrafos precisam ter uma boa transição sem que o leitor perca o fôlego da leitura ou se sinta perdido ou cansado. Já a coerência no sentido de que os elementos de enredo precisam fazer sentido para serem capazes de contar a história. Eu não posso inserir algum elemento na história que não faça o menor sentido. Ex: eu não posso dizer que o feiticeiro do mal possui um míssil nuclear no seu castelo aguardando o exército de guerreiros armados com suas espadas e armaduras. Okay, posso... mas eu preciso dar uma boa justificativa para tal.
Contos de Terramar fala da história de Arren, um príncipe que aparentemente matou seu pai e roubou uma espada mágica, fugindo do castelo. Arren vaga perdido pelo mundo até que ele é resgatado por um estranho feiticeiro chamado Sparhawk quando Arren era atacado por lobos. Sparhawk coloca o menino sob sua tutela, mas o perigo segue atrás do jovem. A Duquesa de Cob parece ter uma vingança contra Sparhawk e Arren será arremessado no meio deste intenso conflito. A Duquesa deseja descobrir o segredo da vida eterna. Sparhawk (ou Geb) leva Arren até uma fazenda onde vive uma mulher da qual ele sente muita afeição (Tenar) e a jovem Therru que esconde um estranho segredo.
Contos de Terramar teve uma boa recepção no Japão, mas seu lançamento internacional teve uma crítica dividida. Isso porque inicialmente Ursula K. Le Guin não queria ter seu livro transformado em filme ou animação, mas acabou cedendo a Miyazaki por gostar de seu trabalho. Entretanto, quem dirigiu a produção foi o filho de Hayao, Goro Miyazaki e a inexperiência dele se revelou na animação. Esta se baseou de maneira muito livre nos livros, tendo usado elementos de quatro livros da série que possui 5 livros. Le Guin gostaria que o Studio Ghibli tivesse aproveitado algum dos contos do último livro da série Contos de Terramar (divide o título com a animação, mas não tem nenhuma relação). A autora, em uma entrevista anos mais tarde, alega que a animação é boa, mas se trata de uma obra do Ghibli e não vinculada à série Terramar.
A qualidade de animação é boa, porém eu já vi melhores feitos pelo estúdio. Goro captou bem os elementos medievais típicos de um livro de fantasia tradicional: o castelo da Duquesa de Cob é magnífico, a cidade é muito bem construída e o efeito do combate entre os dragões no começo da animação é dinâmico e feroz. Porém, para quem viu A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado sabe que o estúdio sabe fazer muito melhor. Acho que Goro se fixou muito na construção dos ambientes de fundo e os personagens acabaram não tão bem feitos. A cena acima é linda, assim como o visual soturno do castelo de Cob. A trilha sonora é excelente, talvez seja um dos únicos elementos irrepreensíveis da animação. Tamiya Terashima (a compositora da trilha) soube incorporar instrumentais tipicamente medievais e alguns de inspiração céltica. Gostei mesmo... até procurei a trilha sonora na internet.
Como foi possível observar na minha explicação sobre a trama, ela foi bem confusa não é? Pois é, foi isso que eu senti também. Não entendi em nenhum momento aonde se queria chegar. A vilã era Cob? Okay, mas o que o Arren tinha a ver com isso? E a Therru... ah, tem aquele plot twist no final, mas por que causa, motivo, razão ou circunstância? Só porque apareceu uma cena no começo da animação. A animação não tem coerência. Nós nos perdemos no meio sem saber por que as coisas estão acontecendo. Se o objetivo era ver como um dragão ocidental ficaria na lógica da animação do Studio Ghibli, conseguiu... lindo. Mas, só. Senti que Goro não soube explorar o material que tinha em mãos e em alguns momentos pareceu que ele quis usar muita coisa e as duas horas de animação não seriam capazes de lhe dar o espaço necessário para contar a história. Até mesmo os cortes de cena são estranhos.
A temática da animação é a noção de vida e morte. Para que estamos vivos, se sabemos que iremos morrer um dia? Qual é o valor da nossa presença neste mundo? Este tema é muito interessante e até foi explorado de uma forma adequada por Goro. O paralelo entre Arren e Cob é evidente. Arren sente que sua vida é sem sentido depois que ele foi responsável pela morte de seu pai. Ele não entende por que ele continua vivendo. Claro, em determinados momentos, Goro exagera no drama e eu queria muito que a Therru tivesse dado uns tapas na cara do Arren para ele acordar. Já Cob deseja permanecer neste mundo para sempre. Achei o objetivo meio vago porque me pareceu que ela queria viver para sempre e só? Achei que ela fosse uma conquistadora que desejasse viver para sempre para expandir seus domínios. Ou quisesse poder para controlar o mundo. Nada disso foi dito. Então a ideia era ser intimista? Logo, o problema era a rixa que ela tinha com Geb. Mas se era só vingança, ela poderia ter apenas matado Geb e Tenar e ponto final. Novamente, roteiro mal trabalhado e repleto de lacunas.
Se a ideia era fazer Arren passar pela jornada do heroi, esta foi muito mal desenvolvida. Ele encontrou o mentor sim, e este lhe mostrou o sentido da vida. Em seguida ele se depara com sua sombra, é capturado e Cob lhe fornece a oportunidade para passar para o lado dela. Mas, aí ele é resgatado por sua amada e então renasce como uma nova pessoa. Tudo isso foi feito de uma maneira muito corrida e não permitiu que nós pudéssemos desenvolver algum laço com o personagem. O elemento dos nomes secretos ficou muito mal elaborado. Acredito que esse deva ser um dos pontos do livro de Le Guin, mas okay, se o nome era para ser secreto, então o enredo fez com que todo mundo soubesse o nome de todo mundo. E qual era o nome secreto de Geb? E de Cob? Não ficou claro a extensão do problema que era fornecer o seu nome verdadeiro. Ficou um mote bobo no final da animação que serviu mais para gerar momentos românticos entre o par de protagonistas.
Eu não queria ter feito uma resenha tão pesada assim sobre Contos de Terramar. Até fui com o coração aberto, curti a música cantada e vi em um dia em que eu estava de bom humor. Evitei ler o livro para evitar comparações, mas não deu. Já tinha ouvido críticas negativas sobre a animação, mas eu sempre gosto de tirar minhas próprias conclusões. Contos de Terramar é uma animação mediana com um roteiro estranho e mal trabalhado. Veja se você quer experimentar como o estúdio trabalharia com um livro de fantasia ao estilo europeu. No resto, não recomendo mesmo. Passem longe desta animação.
Semana que vem teremos um hiato (por um bom motivo) e na outra semana, voltaremos com o Especial Ghibli e a animação Ponyo.
Ficha Técnica:
Nome: Os Contos de Terramar
Diretor: Goro Miyazaki
Produtores: Toshio Suzuki e Tomohiko Ishii
Roteiristas: Goro Miyazaki e Keiko Niwa
Baseado na série Terramar de Ursula K. Le Guin
Estúdio: Studio Ghibli
País de Origem: Japão
Tempo de Duração: 115 min
Ano de Lançamento: 2006
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