Li muita coisa bacana nesse ano de 2022, mas chegou a hora de reunir aquelas leituras que foram inesquecíveis para mim. Aqueles quadrinhos que causaram impacto e que se tornarão parte de minhas memórias por anos a fio.
Esse ano acabei me dedicando a ler mais continuações de histórias do que histórias isoladas. Então pode ser que minha lista esteja mais minguada. Mas, mesmo assim tive o prazer de reler (ou ler pela primeira vez em alguns casos) clássicos como Os Novos Titãs, da dupla Wolfman e Perez e a Mulher-Maravilha, do Perez. Por outro lado também li algumas coisas lastimáveis como foi o mangá de Granblue Fantasy. Ou seja, foi um ano de altos e baixos. Trago para vocês os cinco melhores, mas sei que terá coisa de fora porque não tem como colocar todas as leituras incríveis em somente cinco espaços. Vamos a eles, sem nenhuma ordem de melhor para pior.
1 - "Tangências" de Miguelanxo Prado
Ficha Técnica:
Nome: Tangências
Autor: Miguelanxo Prado
Editora: Conrad
Gênero: Romance
Tradutor: Claudio Martini
Número de Páginas: 64
Ano de Publicação: 2021
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Sinopse: Em Tangências, Miguelanxo Prado deixa seu lado sarcástico de lado por um momento para nos oferecer uma visão cúmplice, madura e profunda de relações sentimentais que, por algum motivo, só se concretizam de forma tangencial, imperfeita e limitada. O que faz com que duas vidas, que em um momento se juntaram com grande intensidade, voltem a separar seus caminhos? O resultado final, seja paradoxal, vingativo, dramático ou mesmo trágico, é carregado com um realismo e intensidade emocional que nos lembra a obra mais premiada do autor, Traço de Giz. A edição da Conrad ainda conta com um EXTRA exclusivo: uma nova entrevista com Miguelanxo Prado feita pelo jornalista e editor Sidney Gusman.
Opinião: Miguelanxo é um daqueles autores que conseguem transformar temas comuns em verdadeiras obras de arte. Se eu fosse ficar só no roteiro, daria para ficar falando horas e horas a fio. Suas narrativas nessa HQ tem a ver com relacionamentos que estão chegando ao fim. Seja por n motivos: objetivos diferentes, o fim dos sentimentos, um amor que esmoreceu ou reencontros onde o fogo da paixão se mantém por uma tarde e depois a vida acontece. Só que nós temos também a linda arte aquarelada dele que é um escândalo. Cada passada de tinta nos quadros revela o conhecimento de ritmo, fluidez e profundidade de seus traços. Várias das páginas são dignas de quadros a serem afixadas na parede. Não só isso como ele consegue ser capaz de transmitir sensações e sentimentos através de pequenas cenas mais intimistas.
2 - "Estado Elétrico" de Simon Stalenhag
Ficha Técnica:
Nome: Estado Elétrico
Autor: Simon Stalenhag
Editora: Quadrinhos na Companhia
Tradutor: Daniel Galera
Número de Páginas: 144
Ano de Publicação: 2022
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Sinopse: Numa mistura delirante de On the road e Black Mirror, o artista sueco Simon Stålenhag cria um livro único. Uma viagem visual a um futuro aterrador e sombrio.
Num 1997 imaginado e apocalíptico, uma jovem em fuga e seu robô atravessam os Estados Unidos rumo ao oeste. Ruínas de gigantescos drones de batalha se espalham pela paisagem, junto a toda espécie de lixo descartado de uma sociedade ultra tecnológica e consumista em declínio. À medida que se aproximam da fronteira do país, o mundo parece se desfazer num ritmo cada vez mais alucinante, como se em algum lugar além do horizonte o núcleo oco da civilização finalmente fosse desabar. Em Estado elétrico, Simon Stålenhag volta sua visão atordoante para a América. Com desenhos hiper-realistas e um talento extraordinário para narrar, o artista sueco coloca em cena uma história de amizade e horror, lealdade e suspense, em que uma sensação de constante ameaça paira sobre cada sequência e imagem.
Opinião: Estado Elétrico é uma HQ apavorante. E aí vocês vão dizer que estou roubando os meus votos porque a obra de Stalenhag está mais para um livro ilustrado do que uma HQ. Mas, creio que nesse caso aqui, ainda mais com as ilustrações fazendo parte da sequência narrativa, se trata sim de uma HQ. Tenho uma visão mais ampla do que significa uma HQ, para além do simples arte sequencial tão colocada por Will Eisner. Posto isso, Estado Elétrico, lido em uma conjuntura sócio-histórica como a nossa pode trazer alguns debates apavorantes. A fixação no mundo virtual, a automação das tarefas, uma possível epidemia, os confrontos armados entre as várias potências. Tudo isso pode levar a uma realidade como a mostrada por Stalenhag. A sua história é bem depressiva, e não recomendo para quem estiver passando por um momento ruim. Ela te faz refletir, te faz parar e olhar ao redor. É uma leitura muito crítica e li a HQ em um momento muito propício, assim como foi com Che (embora esta tenha sido proposital).
3 - "Lendas do Universo DC - Novos Titãs vol. 3" de Marv Wolfman e George Perez
Ficha Técnica:
Nome: Lendas do Universo DC - Os Novos Titãs vol. 3
Autor: Marv Wolfman
Artista: George Perez
Arte-Finalista: Romeo Tanghal
Colorista: Adrienne Roy
Editora: Panini Comics
Tradutor: Gustavo Vicola
Número de Páginas: 168
Ano de Publicação: 2018
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A resenha ainda será publicada
Sinopse: O terceiro volume de Novos Titãs: Lendas do Universo DC – George Pérez segue com a inesquecível fase capitaneada por Pérez e Marv Wolfman e apresenta os heróis em busca da verdade sobre a extinta Patrulha do Destino. Prepare-se para revelações chocantes sobre a antiga equipe, o passado de Mutano e muito mais.
Opinião: É aqui que a run fabulosa de Wolfman e Perez realmente começa. Wolfman havia preparado as peças nos dois volumes iniciais e aqui taca o pé no acelerador. Ver como ele consegue dar profundidade ao Mutano é impressionante. O personagem funcionava como um alívio cômico nos volumes anteriores e aqui começamos a ver camadas e mais camadas: seu envolvimento com a Patrulha do Destino, a forma como ele usa as piadas para esconder a sua insegurança. Sem falar nas pequenas histórias focadas em personagens específicos que parecem não levar a lugar nenhum, mas que possuem consequências jogadas por várias edições à frente. Perez é um mestre contador de histórias e embora ele tenha começado a vacilar mais para o final do ciclo, nesses volumes iniciais ele demonstra por que ele conseguiu transformar Os Novos Titãs em uma série tão cultuada. Mal vejo a hora de reler O Contrato de Judas, lá no volume 9. E o que falar do Perez? Ia colocar a fase da Mulher-Maravilha dele, mas quis abrir espaço para trabalhos de outros autores e quis premiar uma HQ que valorizasse dois aspectos, o texto e a imagem. Perez está em seu crescendo aqui, mostrando como ele aborda os quadros, as experimentações que ele faz. Perez revolucionou a maneira de contar histórias na época. Estamos falando da primeira metade dos anos 1980. Crise nas Infinitas Terras ainda está por vir e em Novos Titãs ele já consegue mostrar muito do que ele será elogiado em Crise.
4 - "Che" de Hector Oesterheld, Alberto Breccia e Enrique Breccia
Ficha Técnica:
Nome: Che
Autor: Hector Oesterheld
Artistas: Alberto Breccia e Enrique Breccia
Editora: Comix Zone
Gênero: Biografia
Tradutora: Jana Bianchi
Número de Páginas: 96
Ano de Publicação: 2021
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Sinopse: Este livro é uma lenda. Publicada na Argentina em 1968, a primeira biografia em quadrinhos do revolucionário Che Guevara vende 60 mil exemplares em poucas semanas e logo desperta a atenção dos militares que se sucedem no comando do país. Em 1973, Che é proibido. As cópias restantes são destruídas e as pranchas originais, queimadas. Os autores, três mestres dos quadrinhos mundiais, acabam na mira dos reacionários. Ameaças sem consequências até que, em 1977, o nome do roteirista Héctor Oesterheld, devido ao seu comprometimento político, acaba na longa e sangrenta lista de desaparecidos da ditadura argentina. O livro se torna, assim, um verdadeiro objeto de culto – amaldiçoado, precioso e inalcançável – até reaparecer na Espanha, 20 anos depois. Hoje, Che retorna em uma edição que injeta sangue novo na veia revolucionária desta obra: uma joia em que os diários de Guevara e as palavras de Oesterheld se fundem à arte dos Breccia e ecoam como um pungente grito de guerra. A edição tem acabamento de luxo, com formato grande, capa dura com verniz localizado, 96 páginas em preto e branco, impressas em papel offset de alta gramatura, além de um marcador de páginas exclusivo. O livro conta ainda com uma apresentação exclusiva assinada por Guilherme Boulos, professor, coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo.
Opinião: Como a sinopse mesmo diz, essa HQ é lendária. Por tudo o que ela representa não apenas no universo dos quadrinhos, mas na história da Argentina. Che foi publicado em uma época de ditadura, de resistência e como não falar em revolução na América Latina sem falar em Che Guevara. O roteiro de Oesterheld vai além de ser apenas um apanhado de textos biográficos sobre a pessoa do Che. Ele consegue passar o sangue dos revolucionários que foi derramado ao longo de quase meio século. A importância de Che para a formação de Cuba ao lado de Fidel Castro e como eles chocaram o mundo ocidental estabelecendo uma república socialista tão próxima dos EUA. Mas, Oesterheld traz um personagem humano, com medos e anseios e uma vida difícil que não teve um momento de sossego. Sua preocupação era com o próximo, com o mais pobre, com o explorado. Se somarmos a arte dos Breccia que está absurda neste HQ temos uma quase perfeição. O trabalho de preto e branco do pai assusta quando vemos como ele sabe usar as silhuetas, como ele preenche o branco. A ausência nos quadros de Breccia é de uma presença que salta aos olhos. Existe uma preocupação enorme com a composição dos quadros. Já o filho que cuida do capítulo final, usa uma arte mais abstrata, fazendo experimentações que mostram algo mais sujo, mais arruinado que combina com aquele momento específico da vida de Che. Gosto de como Ernesto Breccia nos faz chorar ao acompanharmos os minutos finais de sua vida em que ele demonstra coragem e avalia o que fez pelos mais pobres na América Latina.
5 - "Superman - Entre a Foice e o Martelo" de Mark Millar, Dave Johnson e Killian Plunkett
Ficha Técnica:
Nome: Superman - Entre a Foice e o Martelo
Autor: Mark Millar
Artistas: Dave Johnson, Kilian Plunkett, Andrew Robinson e Walden Wong
Colorista: Paul Mounts
Editora: Panini Comics
Tradutores: Jotapê Martins e Fabiano Denardin
Número de Páginas: 172
Ano de Publicação: 2017
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Sinopse: Nessa surpreendente releitura de um conto mais que familiar, uma certa nave kryptoniana cai na Terra, trazendo um infante que um dia se tornará o ser mais poderoso do planeta. Mas seu veículo não caiu nos Estados Unidos. Ele não foi criado em Smallville, Kansas. Em vez disso, encontrou um novo lar em uma fazenda coletiva na União Soviética! Da mente de Mark Millar, elogiado roteirista de Authority e O Procurado, chega esta estranha e genial reinterpretação do mito do Superman. Com arte de Dave Johnson, Kilian Plunkett, Andrew Robinson e Walden Wong.
Opinião: Essa é uma das histórias mais clássicas do Homem de Aço ao lado de A Morte e o Retorno do Superman, Superman - As Quatro Estações, Grandes Astros Superman e tantas outras. E é uma premissa tão simples que não sei como algum roteirista anterior a Millar não tenha pensado nisso. Mas, Millar consegue manter uma estrutura semelhante com um homem que é um herói acima de tudo. O roteirista não cai na armadilha de simplesmente estereotipar sua trajetória e colocá-lo como um mero vilão a serviço da Cortina de Ferro. Existe muito a ser abordado aqui com o personagem atuando para ajudar o povo do lugar aonde nasceu, mas percebendo que ele é um homem do mundo. A arte não é nada especial, mas consegue entregar algumas cenas bastante icônicas pensadas a partir de outro viés, como o Superman segurando o globo do Planeta Diário, a fortaleza da Solidão que adota outro formato e o seu envolvimento com a Mulher-Maravilha que é de doer o coração. É uma daquelas HQs que merece ser lida e relida inúmeras vezes.
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