Ponyo é uma peixinho dourado muito especial. Filha de um cientista e de uma deusa do mar. Quando ela encontra o jovem Sosuke, ela conhece Lisa, uma mulher triste e solitária após a perda do marido. Quando Ponyo lambe uma ferida de Sosuke, ela passa a poder se transformar em uma garotinha.
Sinopse:
O garoto Sousuke encontra um peixinho dourado preso em uma garrafa e decide libertá-lo, sem saber que se trata da deusa do mar Ponyo. Filha de um poderoso mago, ela se comove com a atitude do menino e usa a magia do pai para se transformar em humana. Dessa forma, acredita poder fortalecer a amizade com Sousuke. Porém, a substância de sua poção mágica pode colocar em risco o vilarejo onde mora o menino.
Quero antes de mais nada pedir desculpas pelo leve atraso nesta resenha. Infelizmente eu venho sentindo uma ressaca de Studio Ghibli nas últimas semanas e isso tem refletido nas minhas resenhas. Só consegui terminar de ver Ponyo hoje pela manhã. E, vendo Ponyo, eu fico feliz... eu recupero todo o meu entusiasmo de ver qualquer coisa do Studio Ghibli. Que animação linda; que animação simples e tão cheia de significados. Hayao Miyazaki consegue fazer coisas maravilhosas. Pensar que esta é uma das últimas animações do gênio por trás do Studio Ghibli me deixa até triste.
Ponyo é uma peixinho-dourada filha do cientista Fujimoto com a deusa do mar Gran Mamare. Durante uma de suas escapadas para conhecer o mundo, ela se encontra com Sosuke, um menino muito esperto que vive no farol no alto de uma colina. Sosuke é criado por Lisa, uma mulher atarefada que ajuda a cuidar de uma casa de idosos chamada Girassol. Lisa se sente muito solitária porque seu marido, Koichi, é o capitão de um navio e passa mais tempo no mar. Ponyo passa um tempo com Sosuke e após lamber uma ferida dele consegue se transformar em uma humana. Fujimoto vai atrás de Ponyo, só que esta foge de novo e volta para Sosuke agora como uma humana. Mas, Ponyo possui poderes incríveis e estes poderes colocam a Terra em risco. O único jeito de salvar a todos é Ponyo ser amada e desistir de seus poderes. E agora? Será que Ponyo descobrirá o verdadeiro amor?
Nessa reta final de resenhas do Ghibli, eu fico pensando nas vezes em que gostei de uma animação do estúdio. Sempre que eu olhava para a TV e eu nem sequer parava para olhar a hora ou me divertia tanto que abria um sorriso, era quando eu realmente gostava do que estava vendo. Isso aconteceu com O Serviço de Entregas da Kiki, Chihiro, Porco Rosso e Laputa. E mais uma vez aconteceu com Ponyo. Nossa, eu estou empolgado e feliz até agora. Pensar que o enredo é tão simples assim eu sinto vontade ainda mais de elogiar o trabalho de Miyazaki. Olhando depois de onde veio a inspiração para o enredo de Ponyo, eu fiquei pensando: "É... só podia ser coisa do Miyazaki mesmo". Ponyo é inspirado na história de "A Pequena Sereia" de hans Christian Andersen. Claro que Miyazaki deu o seu toque de magia e estranheza à história, mas nós percebemos que é típico dele quando vemos um peixe gigante com asas, medusas voadoras e trombas d'água no formato de peixes.
Para a criação de Ponyo, Miyazaki decidiu retornar às origens do studio Ghibli. Ele não usou elementos digitais para a composição das cenas. Todas as cenas foram feitas à mão o que ajuda a montar este ar de filme infantil. Mostrar a mente de uma criança em toda a sua imaginação foi o objetivo de Miyazaki em Ponyo. E o fato de ter feito a animação de maneira tradicional ajudou a realçar o trabalho de Toshio Suzuki. A recepção de Ponyo no Japão foi magnífica. Uma das melhores bilheterias do studio Ghibli e de uma animação japonesa no mercado doméstico. A versão em inglês de Ponyo foi distribuída pela Disney e contou com a dublagem de atores bem conhecidos do público como Cate Blanchet, Matt Damon e Tina Fey.
Eu preciso usar um parágrafo para falar sobre a trilha sonora. A cada nova animação, Joe Hisaishi consegue ficar ainda melhor. Ponyo tem uma trilha sonora linda e que se encaixa muito bem com as cenas da animação. A música que toca quando Ponyo segue o carro de Lisa e Sosuke correndo por cima dos peixes mostra todo o drama daquele momento (parece até uma cena de perseguição típica de filmes de ação). Ou quando a cena exige algo mais bucólico como quando Sosuke e Ponyo estão navegando no pequeno navio em direção à casa de idosos. Hisaishi consegue complementar muito bem o que Miyazaki tenta passar nas cenas. A tal ponto que eu não consigo imaginar a animação sem a música e vice-versa.
Um dos elementos de enredo usados por Miyazaki é o realismo mágico. Se em outros filmes, o diretor brincou com uma relação com este subgênero, aqui fica bem claro que nós podemos inseri-lo nele apesar de Miyazaki não ser (obviamente) um autor latino-americano. Mas é clara aqui, mesmo sendo uma animação mais voltada para o público infantil, a centelha da obra de um Jorge Luis Borges e de um Gabriel Garcia Márquez. A magia é tratada com muita naturalidade por personagens que vivem em um mundo real. Quando Lisa descobre que Ponyo era o peixinho dourado de Sosuke, ela simplesmente dá de ombros e prepara um chá. Depois ao sair de casa, ela comenta com Sosuke que ela está percebendo a presença de forças que ela não sabe explicar. Mas, a personagem demonstra muito respeito e compreensão pelas forças mágicas que cercam Ponyo. Eu evitei em outras obras mencionar o realismo mágico porque a trajetória de Miyazaki não incluía relações com esse tipo de histórias e é muito complicado situar alguém fora do universo literário latino-americano nesta seara. Mas, é impossível não colocá-lo aqui.
Diferentemente de "A Pequena Sereia", Ponyo não trata do amor de um homem por uma mulher, mas de um amor fraterno. Um amor entre irmão e irmã. A história mostra o total desprendimento de Sosuke. O menino demonstra seu amor pelos mais velhos que habitam a Girassol. E seu amor é recompensado pelo amor demonstrado por Ponyo. Chega a tal ponto que Ponyo faz o que ela pode para conseguir ficar ao lado de Sosuke e de Liza. Essa mensagem passada pela história é fantástica; não temos aqui a melhor adaptação do conto de fadas de Hans Christian Andersen, mas Miyazaki certamente pegou a essência do que o autor quis dizer.
Alguns outros temas são abordados ao longo da animação, mas Miyazaki acaba não dedicando a devida atenção a ele. Por exemplo, Fujimoto parece não gostar da humanidade porque esta estaria jogando muito lixo nos mares. Possivelmente este seria o motivo pelo qual o cientista sentiria tanto rancor da raça humana. Mas, ficou por isso mesmo. Ou não é trabalhado como Fujimoto e Gran Mamare se conheceram. Apenas que ela é uma deusa do mar que vem quando o cientista chama por ela. Mesmo com muitos furos no roteiro, Miyazaki consegue passar uma história bonita e interessante.
Ponyo é uma animação até subestimada no Brasil (vi poucos falando a respeito) e que é um dos trabalhos mais bonitos do estúdio. Com uma trilha sonora que beira à perfeição e cenários lindamente desenhados, Ponyo pode ser recomendado para todas as idades. Graças a esta animação recuperei o meu entusiasmo em assistir as animações restantes do Ghibli.
Volto na próxima semana!!
Ficha Técnica:
Nome: Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar
Diretor: Hayao Miyazaki
Produtor: Toshio Suzuki
Roteirista: Hayao Miyazaki
Livremente inspirado em A Pequena Sereia organizado por Hans Christian Andersen
Estúdio: Studio Ghibli
País de Origem: Japão
Tempo de Duração: 103 min
Ano de Lançamento: 2008
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