Nesse aniversário de Stephen King, trago para vocês um pouco sobre Com Sangue, o mais recente lançamento do autor. Em uma conversa com Regiane Winarski, a tradutora do livro, vamos ver um pouco do que ela acha atrativo na escrita dele e que destaques ela nos dá sobre este livro.
Neste mês de setembro, a editora Suma publicou o livro mais recente de Stephen King: Com Sangue (If it Bleeds, no original). Com tradução de Regiane Winarski, ele segue o padrão do King de livros com quatro novelletas. Um formato que ele empregou em outros livros como Quatro Estações e Escuridão Total Sem Estrelas. Algumas de suas melhores histórias vem desse formato como Conta Comigo e Um Sonho de Liberdade, além do recente 1922 que se tornou um filme na Netflix. A edição está caprichada e já está à disposição na Amazon (segue o link).
É preciso apontar que quem conhece o King de suas histórias grandes, vai se surpreender com o fato de que eu acho o autor um excelente contista. Quando ele trabalha com limitações de páginas, consegue ser mais sintético sem perder aquilo que o faz uma lenda em atividade. Sua escrita se destaca pelo fato de ele ser um mestre narrador e criador de personagens. A habilidade que ele tem de criar personagens que parecem ter saído de nossas vidas, de tão verossímeis que eles são, é única. Alie limitação de páginas a uma excelente construção de personagens e normalmente temos romances inacreditáveis. Quem nunca quis fazer parte daquele grupo de detentos em Um Sonho de Liberdade ou quem nunca se assustou com a escuridão da alma humana presente em 1922. Para Regiane Winarski, "adoro como ele trabalha no desenvolvimento de personagens e vai criando pessoas que acabam importando pro leitor. Todos têm características muito humanas e verdadeiras, inclusive os vilões, e, por isso, até eles são fascinantes."
Em Com Sangue, ele pega a fórmula de Escuridão Total Sem Estrelas e repete a ideia. Como ele consegue tirar o lado mais sombrio do ser humano, nada melhor do que analisarmos sua essência para refletirmos sobre nós mesmos. Sua escrita é impactante porque nos toca, nos ecoa. Nessa nova coletânea, King explora histórias de amor, amizade e dedicação em suas formas mais cruas e deturpadas. Um amigo cuja dedicação é quase uma obsessão; um amor que adota as cores mais sombrias do espectro. É uma combinação fatal onde nos questionamos como lidar com essa situação. Infelizmente a maldade não espera por nossa decisão; ela se manifesta com mais força à medida em que ganha mais e mais espaço.
Mas, como é traduzir um livro com quatro histórias curtas? Afinal o processo é diferente de uma tradução comum. "Com sangue é um livro com 4 novelas (que são contos mais longos), e o processo de trabalhar num livro assim é sempre diferente de um romance, porque, a cada história, é preciso recomeçar o mergulho no enredo criado pelo autor. Por outro lado, depois do tanto que já traduzi o King, tenho uma facilidade maior em entrar no texto dele. As 4 histórias são bem diferentes entre si, mas todas oferecem personagens ricos e interessantes, como mencionei antes." Regiane já traduziu vários livros do King como It, Joyland, Outsider, a trilogia Bill Hodges entre tantos outros. Isso permite a ela uma facilidade maior em decodificar aquilo que está nas entrelinhas daquilo que o autor nos entrega. Por exemplo, mais do que uma perseguição a um monstro sobrenatural, Outsider é sobre como a sociedade julga as pessoas sem se atentar ao outro lado da questão. Ou It que é uma jornada ao coração do homem, em o quanto ele pode ser cruel um com o outro sem mais nem menos.
King é um monstro criador de histórias. Para quem achava que ele iria diminuir seu ritmo com a idade, se enganou redondamente. Parece que ele ficou ainda mais produtivo. O que antes era um romance por ano, agora pode chegar facilmente a dois ou três por ano. Possivelmente a pandemia e o isolamento social vão dar ideias macabras ao mestre do terror. Só esse ano tivemos o segundo volume de A Pequena Caixa de Gwendy (que o King escreveu junto com Richard Chismar) e Com Sangue. E isso porque tivemos uma pandemia que atrapalhou as publicações. Para o ano que vem ele já tem livros no prelo. É uma máquina de produzir histórias.
Com Sangue contém quatro histórias curtas: O Telefone do Sr. Harrigan, A Vida de Chuck, Com Sangue e Ratos. Dos quatro, temos o retorno de Holly Gibney em um dos contos. King parece ter gostado da personagem. "Meu conto favorito foi o que leva o título do livro e tem a minha personagem favorita do King, a Holly Gibney. Ela enfrenta uma situação que remete muito à experiência que ela viveu em Outsider e, pra mim, foi um presente no desenvolvimento dessa personagem. O que eu mais gosto nela foi o quanto ela cresceu e a pessoa que se tornou desde que apareceu em Mr. Mercedes e conheceu o Bill Hodges. Não quero dar spoilers, mas acho que os leitores que curtem a Holly vão gostar.", diz Regiane. Para quem acompanhou a série, esqueçam aquela personagem porque o diretor de Outsider mudou muito a essência da personagem. Nos livros eu adoro a Holly: tridimensional, não é uma personagem boa ou ruim, ela apenas deseja justiça. E isso porque eu nem li ainda a trilogia Bill Hodges.
O que eu queria fazer é dar uma prévia para vocês sobre o que podem esperar de Com Sangue. Aliás, já pedi o ebook para os meus parceiros lindos da Editora Suma e em breve vou estar fazendo a resenha (sim, este que vos fala). Também queria compartilhar com vocês o trabalho da Regiane, alguém que eu tive o prazer de conhecer esse ano durante um podcast e ela não é só a tradutora do autor, mas é uma das fãs mais ardorosas dele. A gente teve uma discussão super legal sobre o King, os livros e as dificuldades de tradução. Deixo aqui também o episódio do Perdidos na Estante em que a Camila Vieira foi host e eu tive o prazer de participar junto com a Regiane para falar sobre Outsider (a série e o livro). Deixo linkado aqui:
Se vocês puderem, adquiram Com Sangue usando nossos links e nos deem uma força para continuarmos a fazer esse trabalho para vocês. Espero que vocês tenham gostado e digam nos comentários se vocês gostariam de uma entrevista nos moldes do que eu fiz com a Paula Febbe com a Regiane Winarski.
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