No templo de Shanjin, Mu e Ruk treinam diariamente para sobreviverem às dificuldades do cotidiano. Mas, uma ação errada de Ruk provoca sua expulsão do templo. E a vida de todos os shenlongs de Shanjin mudará para sempre.
Sinopse:
Uma história que narra o início das Guerras Épicas entre o Império de Housai e os monges guerreiros shenlongs. Uma aventura cheia de mistério, em um mundo de magia e artes marciais.
Os tempos mudaram. A ascensão do Império de Housai obrigou os monges guerreiros shenlongs a se isolarem cada vez mais. Com o passar dos anos, os Quatro Templos sagrados se tornaram seu último refúgio. Os Antigos se foram. Seus descendentes desapareceram. Aqueles que resistem à nova ordem estão enfraquecidos.
Por mais de mil anos, o Templo da Montanha, Shanjin, se manteve firme em Linshen. E para Mu, Shanjin é sua casa. Chegou ao templo ainda criança junto de seu irmão, Ruk. E, quando Ruk é expulso da ordem monástica, Mu vive o conflito entre a dor da perda e se manter como um shenlong, fiel aos ensinamentos e o caminho de retidão.
Os problemas se agravam quando um espadachim misterioso traz a notícia da grande ameaça que pode abalar os Quatro Templos. O exílio não durará. Agora, os shenlongs de Shanjin devem reforçar suas defesas e se preparar para o combate. Pois, desta vez, nem a Barreira será suficiente para protegê-los.
Em a Canção dos Shenlongs, Diogo Andrade introduz um universo ficcional elaborado com suas próprias regras, leis, deuses, religiões e relações de poder, que transportam o leitor para uma realidade de grande imaginação.
Gosto bastante da escrita do Diogo. Ela consegue te passar os detalhes do que está acontecendo na cena sem ser muito espalhafatosa. Em muitas ocasiões tudo passa com uma fluidez assustadora. O livro é rápido e fácil de ser lido. Em pouco tempo o leitor consegue se assentar na escrita do autor e as páginas passam sem aquele cansaço que determinadas obras provocam. Entretanto, isso não significa que a escrita dele não tenha elegância. Em alguns pontos os detalhes ajudam a criar uma atmosfera poética para o que está acontecendo como Mu refletindo sobre aquilo que estaria enxergando a partir do templo.
A narrativa acontece em primeira pessoa, vista sobre o ponto de vista do Mu. Apesar de eu gostar da escrita do Diogo, vale frisar que as narrativas em primeira pessoa podem ser uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que elas ajudam ao leitor sentir uma empatia pelo personagem, elas servem também para o contrário. Não que eu não goste do personagem, mas uma narrativa em primeira pessoa permite uma série de brincadeiras de enredo. Admito não gostar muito deste tipo de narrativa, mas admito também curtir quando o autor brinca com as minhas expectativas. Seja um narrador não-confiável, ou múltiplas narrativas em primeira pessoa. Um exercício que ficaria sensacional em A Canção dos Shenlongs seriam capítulos alternando a história entre Mu e Ruk. Cada um dos dois exporia a sua visão dos acontecimentos. Seria possível explorar muito melhor a dicotomia entre os pontos de vista sobre a expulsão de Ruk e os acontecimentos que se seguiram. Estou apenas especulando aqui.
“O caminho de Heiwa é o caminho de paz, harmonia e liberdade. Cada um de nós escolheu estar em Shanjin. É uma escolha. Ninguém é obrigado. Se estamos aqui é porque de alguma maneira queremos vivenciar os ensinamentos.”
Os personagens são bem construídos. Gosto do Mu como protagonista. Ele não é nenhum guerreiro superpoderoso que sai devastando os seus oponentes. Mu falha, ainda é fraco, porém corajoso. Coloca para os leitores todos aqueles elementos dos filmes de artes marciais onde acompanhamos a evolução do lutador de alguém que é fraco até um futuro guerreiro. Não é aqui que isso acontece, mas permite que nós tenhamos um vislumbre disso. Todo o ambiente do templo de Shanjin se torna familiar ao leitor. Desenvolvemos laços com Aga, Nili e até com o velho Sarujin. Respeitamos a autoridade do abade Kame. Ficamos conhecendo a rotina destes monges e como eles se relacionam com o mundo fora da floresta que protege o templo. Só achei que havia a necessidade de um capítulo ou dois a mais de forma a explorar melhor os antagonistas e suas motivações. Eles aparecem como um tornado que varre a longa tradição do templo. Queria conhecer mais os mercenários escorpiões e até como acontecem as mudanças em Ruk após sua saída no templo. Provavelmente essa exploração não foi possível por conta do tamanho da história que segue o padrão de uma novella (nem um conto e nem um romance longo).
O autor deixa muitos ganchos a serem explorados futuramente. O sistema de magias parece ser muito interessante mesclando artes marciais com alguns poderes mágicos. Só isso já seria suficiente para qualquer leitor pegar o livro na hora e ler a história. Existem muitas dúvidas que parece que serão respondidas em outras histórias escritas neste mesmo universo: a ambição do imperador, os outros templos, o que acontece com uma certa personagem após pegar um certo item, e até mesmo como é o mundo fora de Shanjin. A história fecha com um gancho que deixa o leitor muito curioso sobre os próximos rumos. E esse encerramento acontece de uma maneira muito honesta, sem apelar para cliffhangers tolos (a la The Walking Dead).
"O que está nos céus não se curva perante a terra. O que tem vida eterna não teme a morte”.
A história acontece de uma maneira muito dinâmica. Apesar de compor um todo único sem muita divisão de capítulos, não senti essa necessidade na história. As frases são bem encadeadas e as descrições acontecem mais para que o leitor possa entender como é a imagem do local onde tudo acontece. Gostei de o Diogo ter saído um pouco dessa linha de histórias que se passam em um cenário retirado da Europa medieval. Só o fato de ter levado a história para o Oriente e colocando muito dessa cultura presente na história já valem muitos pontos. E fantasia com personagens que são artistas marciais não são muito comuns. Podemos contar nos dedos de uma mão quantas existem.
Seríamos nós reféns de nossas escolhas? Um dos grandes temas trabalhados em A Canção dos Shenlongs é o peso que elas provocam em nossas vidas. Ruk ao ter cometido um erro e ter sido expulso do templo fez a sua. Talvez alguns leitores questionem se a decisão não foi exagerada e não possa ter provocado tudo o que acontece a seguir. Mas, é preciso pensar que o personagem poderia não ter feito o que fez. Nós somos definidos por aquilo que escolhemos. Algumas coisas são karma bom e outras são karma ruim. Todos os dias somos norteados por uma encruzilhada de escolhas. Saber qual é a correta vai de encontro a todos os valores que nos foram incutidos ao longo de toda a nossa vida. A vida não é branco ou preto. Provavelmente alguns dos monges tenham se arrependido com a dureza na punição. Mas, novamente: a vida não é branco ou preto.
Não quero entregar mais da história para não estragar a diversão e as descobertas feitas durante a leitura. Com uma escrita fluida e dinâmica, Diogo Andrade nos entrega uma história sensacional que se passa em um ambiente exótico. Muitos ganchos são deixados para explorações posteriores o que nos deixa ansiosos por novas histórias. Os personagens também são construídos de forma muito competente apesar de eu achar que os antagonistas poderiam ter tido mais espaço. No mais, é uma obra que vale demais a pena a sua atenção e não é à toa que é um dos ebooks com melhor avaliação na Amazon.
"Mayar ti tao"
Ficha Técnica:
Nome: A Canção dos Shenlongs
Autor: Diogo Andrade
Editora: AutoPublicado
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 83
Ano de Publicação: 2016
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