Na continuação das aventuras de Irene Winters, Kai é sequestrado por um grupo de feéricos. Cabe à Irene enfrentar a família de Kai enquanto decide como realizar um resgate arriscado em uma Veneza repleta de mistérios.
Sinopse:
Irene está trabalhando como espiã em uma Londres Vitoriana, coletando importantes livros de ficção para a misteriosa Biblioteca, quando Kai é sequestrado.
A origem enigmática de seu assistente significa que ele tem aliados e inimigos igualmente poderosos, e seu sequestro só pode significar uma coisa: guerra entre as forças da ordem e do caos, capaz de destruir mundos inteiros.
Para manter a humanidade longe do fogo cruzado – e salvar Kai de uma morte certa –, Irene terá que fazer aliados duvidosos e viajar até as profundezas de uma Veneza repleta de magia negra e estranhas coincidências, onde é sempre Carnaval. Lá, ela precisará lutar, mentir e chantagear seres poderosos. Ou enfrentar consequências fatais.
Deixa eu avisar de antemão que, por ser uma resenha do volume dois de uma série pode conter alguns leves spoilers. Logo, se você ainda não leu recomendo ver nossa resenha sobre A Biblioteca Invisível, o primeiro volume desta série.
Aqui a autora continua a narrativa iniciada no primeiro volume. O que eu achei melhor do que no primeiro é que a autora consegue manter o tom de ação veloz ao mesmo tempo em que ela faz uma construção de mundo e torna alguns personagens mais complexos. Por essa razão consigo dizer que A Cidade das Máscaras tem um tom melhor do que o volume anterior e me agradou muito mais. Entrou para as minhas melhores leituras do ano.
Existe uma sensação de gravitas, de perigo iminente o tempo todo. Mesmo Irene sendo uma personagem muito calma e inteligente, ela é colocada em situações em que ela precisa bolar alguma solução naquele momento. E são decisões bem difíceis que podem significar um desequilíbrio completo no mundo em que ela se encontra. Mesmo Irene sendo a protagonista da história, ela não é a mais poderosa (apesar da minha reclamação que segue) e demonstra até bastante fragilidade em algumas circunstâncias. Ela não é a heroína infalível e se mete em várias problemas por conta de sua impulsividade e seu desrespeito às regras. Mais de dois terços da história são com o leitor acompanhando as aventuras de Irene. E alguns até imaginariam que isso significaria uma história chata já que ela é unifocal. Mas, não é isso o que acontece. A maneira como a autora conduz a narrativa ao longo de diversos cenários e situações torna tudo muito leve e divertido.
"O caminho é eterno, mas nós que andamos nele raramente somos. Não se apresse a se limitar. Siga em frente e aja de acordo com sua natureza."
Ao mesmo tempo, a autora começa uma construção mais complexa do universo onde ela situa a sua série. Então o que temos é uma história veloz e com um pano de fundo muito interessante que mostra mais daquilo que a autora quis criar. Aos poucos vemos colocado um claro antagonismo entre feéricos e dragões que, por mais que Irene vá tentar evitar, vai acontecer seja nesse segundo volume ou em algum volume posterior (aí cabe ao leitor descobrir rsrsrs). São forças muito opostas na Criação e a Biblioteca se coloca como o ponto de equilíbrio nesse conflito. A história gira em torno da responsabilidade de Irene com o seu aluno. Kai sendo alguém em treinamento e sem muita experiência em campo, acaba sendo capturado por excesso de zelo de caráter. Se Irene estivesse junto com ele, talvez as circunstâncias seriam diferentes. Irene, sabendo de seu erro, toma até algumas decisões mais kamikazes como vemos ao longo da narrativa. Mesmo no final da história ela ainda se responsabiliza pelo que aconteceu a Kai no começo do livro. Apesar de a autora dar alguns indícios de que Irene possa vir a sentir algo mais por Kai, trata-se muito mais do zelo de uma professora por seu aluno.
A escrita da autora está um pouco mais pesada nesse segundo volume, mas ela ainda assim consegue manter muita leveza na história. Gosto muito da escrita dela, da maneira como ela consegue fazer um info dumping sem perturbar muito o ritmo da narrativa. E olhe que ela passou muita informação nesse segundo volume. Mesmo assim, ela já havia deixado muita coisa já explicada em A Biblioteca Invisível, logo o leitor já chega aqui com uma certa bagagem. Até mesmo apresentar os personagens é dispensável. E ela introduz vários novos elementos, alguns antagonistas enquanto outros aliados. Os diálogos também são muito bons apresentando as personalidades distintas de todos os personagens: a sagacidade de Irene, o estoicismo de Vale, a perversão de Silver.
Mas, nem tudo são flores. Algo me preocupou muito neste segundo volume que é o sistema de magias. Gostei da maneira como a autora colocou a Linguagem como algo diferente e apresentou suas características, pontos fortes e vulnerabilidades. Mas, neste segundo volume, a Linguagem me pareceu muito mais um deus ex machina. Servia para tirar a Irene de situações complexas. Alguns vão questionar que ela usou com várias ressalvas; sim, usou, mas mesmo assim foi mais uma forma criativa. Foram mais situações em que a autora quis colocar um pouco mais de emoção na cena. Nesse segundo volume não comprometeu o resultado final, mas me deixou com uma pulga atrás da orelha. Acho que a autora deveria cercar mais o que a Linguagem pode ou não fazer e não deixar isso a critério daquilo que acontece na história.
"As pessoas querem histórias. Você deveria saber disso mais do que ninguém. Elas querem que suas vidas tenham sentido. Querem ser parte de uma coisa maior do que si mesmas."
Antes de finalizar queria deixar comentado os extras presentes nesta edição da Morro Branco: tem dois apêndices sobre curiosidades do mundo da autora que ajudam a dar mais vivacidade à história. Achei super divertido os 5 melhores livros que a Irene pegou. Todo o estilão irônico a malandro da personagem está presente nas descrições. A parte das lendas da Biblioteca poderia servir para colocar uns elementos extras de construção de mundo. Achei pequeno demais. E no final a editora colocou uma entrevista que a autora deu ao blog da editora Pan McMillan quando A Cidade das Máscaras foi lançado lá nos EUA.
A Cidade das Máscaras é um volume bastante superior ao primeiro e que, com certeza vai divertir o leitor. Colocando mais elementos de construção de mundo e tornando a narrativa mais complexa sem perder a leveza, a autora conseguiu me conquistar ainda mais. Apesar de a narrativa ficar centrada o tempo todo em Irene e outros de seus aliados aparecerem mais para o final da história, adorei a maneira como a narrativa flui bem. Mas, eu acho que a autora precisa tomar cuidado com o deus ex machina ao empregar a Linguagem. De toda forma o livro entrou para as minhas melhores leituras.
Ficha Técnica:
Nome: A Cidade das Máscaras
Autora: Genevieve Cogman
Série: A Biblioteca Invisível vol. 2
Editora: Morro Branco
Gênero: Fantasia
Tradutora: Regiane Winarski
Número de Páginas: 400
Ano de Publicação: 2017
Outros Volumes:
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a editora Morro Branco
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