Emma é uma menina inteligente e curiosa que se vê enviada a uma instituição voltada para gênios oriundos das famílias mais importantes de seu mundo. E um dos objetos de pesquisa deste instituto são as misteriosas criaturas chamadas de ironhearts.
Sinopse:
“O que você estaria disposta a fazer para consertar o que já foi quebrado?”
Emma Seaver, a pequena filha do sapateiro, vive em um mundo muito diferente do nosso. Nesse estranho reflexo de uma Inglaterra Vitoriana, a humanidade vive em montanhas e navega os ventos, caçando colossos de metal em busca do raro e fantástico éter, o combustível que faz a roda da civilização girar. Ainda assim, ela própria é como qualquer um de nós: apenas uma menina apaixonada por histórias, sonhando em ter sua própria aventura.
A aventura há de bater na porta de Emma Seaver mas, como ela logo irá descobrir, a vida raramente é simples como um conto de fadas. Desafios assustadores, amizades marcantes, cenários fantásticos e, acima de tudo, perdas terríveis a aguardam conforme se envolve em uma jornada intrépida sobre o qual repousa o destino da humanidade. Antes que ela perceba, sua vida se torna um turbilhão de complicações criado pelas suas próprias escolhas. Amigos se tornam inimigos e seu pior inimigo é seu único aliado.
Em um mundo desses, ainda há tempo para sonhar?
Todos falamos em potencial em nossa juventude. O quanto temos potencial para mudar o mundo. Entrar para uma escola, fazer amizades, encontrar caminhos, tudo isso faz parte de nossa vida. Se vamos levar a contento ou não o nosso potencial vai depender das nossas escolhas. É com essa temática que Rafael Flaquer vai nos apresentar seis personagens e seus rumos na vida. Suas alegrias, suas tristezas, seus caminhos e seus descaminhos. Iremos acompanhar a trajetória de cada um deles do momento em que se encontram quando seu potencial é revelado até o destino final a partir das escolhas feitas por cada um.
Emma Seaver é a filha de um sapateiro. Ela ajuda seu pai com suas tarefas diárias e nos momentos de folga aprende sobre o mundo e as coisas. Sua curiosidade a coloca à frente de todos e sua habilidade em desenhar diagramas e mapas a torna essencial nas entregas de sapatos para seu pai. Mas, logo o lugar onde ela vive se torna pequeno demais para ela. James, seu pai, a envia para um instituto de ensino superior onde ela é colocada em uma turma para alunos dotados. Seus colegas são cinco pessoas bem estranhas e oriundas de famílias importantes: Warren, um garoto tímido e solícito que deseja ser um marinheiro; Lily, alegre e divertida, rapidamente se torna a melhor amiga de Emma; a sonolenta e super inteligente Serena; o estoico Brant; e o revoltado Damian. Todos eles são pessoas com potencial para mudar o mundo e ficará a cargo do professor Hartman cultivar os dons de seus alunos.
Temos uma narrativa que segue um estilo em terceira pessoa onisciente. É a melhor escolha para o tipo de história que Rafael deseja contar. Ou seja, ele não se prende muito a um personagem, flutuando por quem ele deseja em determinado ponto da narrativa. Mas, cabe dizer, que o foco vai ser nos seis alunos da turma do professor Hartman. A escrita é bem eficiente e funciona para o objetivo pretendido. Se vocês estão buscando um gênero onde encaixar a história eu diria que ela se situa em um espectro entre a fantasia e a ficção científica, mas mais voltado para este último. E isto os leitores só vão entender lá para o terceiro ato. Os capítulos curtos têm como objetivo dar velocidade à narrativa e fazer o leitor sempre continuar a leitura. Só que ficou faltando criar ganchos narrativos para cada um dos quarenta e seis capítulos da história. Capítulos curtos só funcionam quando você cria ganchos para o leitor prosseguir. E é uma tarefa difícil cumprir tal tarefa em tantos capítulos. Mesmo assim, eu diria que o autor conseguiu ter sucesso em grande parte disso.
A ambientação é entregue de forma bem homeopática pelo autor. Ele entrega bastante no começo da história situando Emma em seu bairro de origem, depois tem um momento em que ela conhece o instituto e posteriormente quando ele introduz algumas lendas sobre o mundo. O autor acerta em só entregar aquilo que é necessário para a história. Mas, eu achei que o livro careceu de mais páginas. É curioso porque vocês que acompanham o blog sempre comentam que a minha faca de edição é afiada, quando na verdade não é bem isso. Quando analiso uma narrativa, busco coerência e coesão. Na maior parte das vezes os autores pecam pelo excesso; um preciosismo bem comum até. Aqui é justamente o contrário. Achei que ficaram muitas lacunas que precisavam ser preenchidas e prejudicaram não só a construção de mundo como o desenvolvimento dos personagens. Não entendam mal: a narrativa consegue seguir seu prumo bem, mas algumas perguntas ficam sem respostas. Isso sem falar em alguns acontecimentos no segundo e no terceiro ato que soam estranhos.
Consegui perceber no quarto ato alguns temas que são deixados em aberto. Não sei se a ideia é voltar a este universo em algum outro momento, mas fica aqui a minha dica: não usar estes personagens como protagonistas. Como eu vou comentar a seguir eles tiveram sua trajetória bem delineada com início, desenvolvimento e conclusão. Não ficou nada mais a ser dito sobre eles. Quando um trabalho nosso dá certo, ficamos com aquela coceira de retornar àqueles personagens e àqueles momentos passados para uma nova aventura. Acho que isso seria um erro. O mundo sim pode oferecer inúmeras outras histórias interessantes, mas com outros personagens. As narrativas poderiam se situar antes ou depois dos acontecimentos desta história. Os personagens até podem aparecer, mas como elementos de fundo, coadjuvantes, professores ou conselheiros. Seria uma maneira legal de interligar as histórias.
O ponto alto da escrita do autor é o desenvolvimento de personagens. Ele conseguiu criar personagens cativantes e interessantes. Não vi o protagonismo da Emma na história. Acho que esse protagonismo acabou sendo bem dividido entre os personagens (com exceção do Damian que ficou um pouco em segundo plano). Todos possuem seu momento e seu arco narrativo. A conexão entre eles é bem explorada ao longo de toda a história e em como acabamos seguindo caminhos diferentes em nossas vidas. Isso pode nos aproximar ou nos afastar. As escolhas que fazemos é que vão determinar isso.
Se podemos dizer que algum personagem pode ser enquadrado no esquema da jornada do herói, esse alguém é a Emma. Aquele tipo de personagem idealista, em busca de uma aventura. Uma personagem maior do que o mundo. Mas, logo o mundo se mostra grande para ela. O instituto se revela assustador e os desafios que lhe são impostos a fazem repensar o seu lugar no mundo. Sim, Emma é teoricamente a protagonista do livro, mas ela vai perdendo esse papel com o passar do tempo. Isso porque suas escolhas não vão sendo as melhores e sua visão otimista acaba se apagando como uma vela. A questão que fica a partir da segunda metade do livro é como e se a personagem irá se recuperar. E se até lá o quanto de sua alma já não terá desaparecido diante das dificuldades que lhe foram apresentadas.
Warren é um personagem oposto a Emma. Ele começa apagado e vai crescendo na narrativa. Isso porque sua trajetória também é inversa à da protagonista. Ele não ganha protagonismo, mas em seu arco narrativo ele cresce a partir de suas escolhas. Os problemas que ele precisa enfrentar o tornam mais forte e resiliente. Tanto é que quando ele chega ao instituto ele tem um sonho, mas ele acaba mudando a sua forma de pensar ao descobrir sua verdadeira vocação. Isso além de ele ter um hobby secreto compartilhado com outra personagem da história. É um personagem que parece ser bidimensional, mas que possui inúmeras camadas que ao pararmos para pensar e analisar vão tornando-o mais rico.
Já Brant é aquele menino rico desinteressado. Ele está ali para seguir os desejos de seu pai. Sabe que quando crescer vai assumir os negócios, logo ele não tem a agência sobre suas ações. E por isso desistiu de lutar por aquilo que deseja. Esse é o seu arco narrativo. É ele perceber que o agenciamento é algo que tomamos por nós mesmos, não esperamos que outros nos entreguem nosso destino. Devemos lutar por ele. E isso é algo que Brant vai passar a narrativa toda em busca. Curioso é que o autor usa os momentos do Brant na forma de anotações de diário. A partir dessas anotações vamos percebendo o quanto o personagem vai mudando com o passar do tempo. Ele vai ficando em dúvida acerca de suas próprias convicções.
Lily é a minha personagem favorita na narrativa. E é a que tem um dos melhores arcos na história. No começo achamos Lily irritante com sua alegria e seu estilo sempre inoportuno. Mas, isso esconde outros sentimentos: uma vontade de ajudar e de fortalecer os outros. Ela é a potencializadora das qualidades dos outros personagens. É aquela que está lá para supervisionar e organizar. E ao mesmo tempo é aquela que se importa. Por isso mesmo que o seu papel é tão difícil porque ela acaba carregando os problemas de todos os outros cinco junto com ela. E no começo ela fica em segundo plano por causa dessa sua característica. Quando ela cresce e precisa lidar com seu próprio destino vemos o quanto ela é capaz.
Temos dois anti-heróis na narrativa: Serena e Damian. Serena é uma garota super inteligente, mas que não gosta de se esforçar muito. Ela é aquele tipo de personagem que fica apagado boa parte do tempo e acaba se mostrando apenas nos momentos mais difíceis. Já Damian é o relutante. Ele não sabe o que quer para si. Se esconde em uma fachada de bad boy, mas no fundo é um personagem atormentado pela dúvida. Assim como Emma, vai ser vítima de suas más escolhas e vai caber apenas a ele superar essas decisões.
Tenho que falar também dos ironhearts. Vou tentar não falar muito para não dar spoilers. Mas achei a ideia legal, mas faltou informação sobre. Tem todo um mistério por trás do uso do éter, um tipo de energia empregada para fazer os maquinários funcionarem nesse mundo que vem destes estranhos seres. Mas, será o éter um recurso limitado? E quem são os ironhearts? Quando os meninos chegam na academia este é um dos mistérios que eles precisarão resolver. E logo eles vão se deparar com uma conexão deles com a própria criação do mundo habitado por eles.
A Lenda de Ironheart é uma boa história com algumas ideias legais. O autor explora bem a relação entre os personagens que são as verdadeiras estrelas aqui. Estes crescem com o passar da narrativa e vemos se seus potenciais vão ou não se transformar em realidade. E se eles serão os mesmos ao final da aventura. A ambientação gera algumas perguntas que são respondidas e outras nem tanto. Só tenho a recomendar o livro a vocês. Certamente vocês terão boas horas de leitura e entretenimento.
Ficha Técnica:
Nome: A Lenda de Ironheart
Autor: Rafael Flaquer Soares
Editora: Autopublicado
Número de Páginas: 205
Ano de Publicação: 2020
Link de compra:
*Material enviado em parceria com o autor
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