Um clássico do mestre do terror que volta a tocar no tema daquilo que se esconde nas profundezas de nossos corações.
Sinopse:
Criar George Stark foi fácil. Se livrar dele, nem tanto.
Há anos, Thad Beaumont vem escrevendo, sob o pseudônimo George Stark, thrillers violentos que pagam as contas da família, mas não são considerados “livros sérios” pelo escritor. Quando um jornalista ameaça expor o segredo, Thad decide abrir o jogo primeiro, e dá um fim público ao pseudônimo.
Beaumont volta a escrever sob o próprio nome, e seu alter ego ameaçador está definitivamente enterrado. Tudo vai bem. Até que uma série de assassinatos tem início, e todas as pistas apontam para Thad. Ele gostaria de poder dizer que é inocente, que não participou dos atos monstruosos acontecendo ao seu redor. Mas a verdade é que George Stark não ficou feliz de ser dispensado tão facilmente, e está de volta para perseguir os responsáveis por sua morte.
O duplo sempre foi explorado nas histórias de terror. A ideia de ter uma metade maligna, seja um distúrbio de personalidade, um gêmeo cruel, um clone ou uma distorção da realidade - um fenômeno sobrenatural - sempre habitou o imaginário humano. Ser confrontado por si mesmo é, afinal, uma das situações mais desconcertantes possíveis de serem imaginadas.
Thad Beaumont é um escritor mediano, com uma vida sem emoções, um casamento estável, um bom emprego e dois bebês gêmeos. A verdade é que Thad é um personagem extremamente desinteressante e até um pouco desagradável. Como uma espécie de fuga, uma tentativa de sentir algo mais, de ser especial de alguma forma, Thad constrói para si um pseudônimo: George Stark é o misterioso autor de best-sellers de suspense e terror no melhor estilo slasher possível. Estar na pele de Stark é tão empolgante e, finalmente, gratificante, que Thad vai além: inventa uma biografia completa, uma aparência, um sotaque, até a marca do carro usada por Stark é descrita e documentada nos livros produzidos.
“Quando ele começava a escrever, muitas vezes era assim: um exercício seco e estéril. Não, era pior que isso. Começar sempre parecia meio obsceno, como beijar de língua um cadáver.”
Ambientado nos anos oitenta, A Metade Sombria foi produzido na fase mais profícua de King, pouco mais de uma década inteira de grandes sucessos levando seu nome pelo mundo como o maior escritor de terror da atualidade – se não em qualidade, no mínimo em volume e relevância para a cultura pop, influenciando diversas mídias e novos autores. Mas, A Metade Sombria não surgiu à toa. Stephen King criou uma história metalinguística e largamente inspirada em sua própria situação, já que, à época, a imprensa havia acabado de descobrir sobre seu próprio pseudônimo (o autor utilizou o nome Richard Bachman para publicar alguns títulos e descobrir se seu sucesso se devia apenas ao seu nome, então já famoso).
Como uma resposta mal-humorada às especulações sobre seu próprio duplo autoral, Stephen King deu voz a Thad Beaumont e também a George Stark em um livro sobre a escrita, sobre bloqueio criativo, sobre a emoção de escrever, a necessidade disso para viver, para existir. De certa forma, A Metade Sombria representa, simbolicamente, uma crise existencial bastante poética.
“Se não podia criar, que destruísse!”
O problema é que um livro sobre escrever livros nem sempre é tão interessante assim, especialmente quando os personagens não são atraentes e as situações criadas também não despertam muito a curiosidade. A história é, de fato, bem linear e previsível – mesmo o leitor não sabendo exatamente os caminhos tomados pelo autor para chegar ao clímax, o que vai acontecer depois disso já é delineado desde o primeiro momento. Stephen King utiliza tantos clichês do gênero, como o próprio duplo que o leitor mais familiarizado com o horror não encontrará novidades.
A Metade Sombria apresenta um ritmo lento em várias partes com alguns pequenos trechos de tensão e assemelha-se muito mais a um romance policial com toques de violência extrema e um assassino à solta. Algumas coisas me incomodaram na leitura, elementos que me fizeram diminuir ainda mais a velocidade, como o abuso de clichês e jargões populares, deixando a escrita artificial e um pouco cafona; a linguagem exageradamente chula, inclusive de um tom problemático atualmente (certo, era comum em 1989, mas isso não a torna menos incômoda hoje); além da constante referência sexual à Liz Beaumont.
Fãs ardorosos de King, que gostam da escrita mais prolixa do autor, podem não reparar ou se importar com esses problemas citados por mim. Pessoalmente, acredito que ele tem livros muito melhores e fez um trabalho apenas mediano em A Metade Sombria, considerando o seu talento como escritor. Muito disso deve-se à expectativa criada para seus títulos, sempre tão aguardados. A Metade Sombria, por exemplo, ficou esgotada no Brasil por muitos anos e retornou nessa edição belíssima da Biblioteca Stephen King da Suma. É natural que se espere bastante da leitura.
A Metade Sombria traz um diálogo interessante com a metalinguagem e os desafios da escrita profissional, além de uma discussão filosófica aterrorizante sobre o embate com o pior que há em cada um de nós, um duelo de vontades, ambições e medos muito bem representado entre Beaumont e Stark. Por outro lado, peca em exageros de escrita, de situações e de páginas. No fim das contas, é um bom título, merecendo ser lido, especialmente pelos admiradores de Stephen King, mas sem grandes expectativas.
“Monstros de verdade não são livres de sentimentos. Acho que, no fim das contas é isso, e não a aparência, que torna os monstros tão assustadores.”
Ficha Técnica:
Nome: A Metade Sombria
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Terror
Tradutora: Regiane Winarski
Número de Páginas: 464
Ano de Publicação: 2019 (nova edição)
Link de compra:
*Material recebido de parceria com a Editora Suma
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