Henry e Clare são um casal que vai nos mostrar como o amor pode superar as barreiras do tempo e do espaço. Audrey Niffenegger vai nos contar essa linda história, fragmentada no tempo e com momentos emocionantes.
Sinopse:
Publicado em mais de 20 países, a elogiada estreia literária Audrey Niffenegger, A Mulher do Viajante no Tempo é sucesso de vendas nos Estados Unidos desde seu lançamento, em 2003, e já vendeu mais de 5 milhões de exemplares em todo o mundo. A Mulher do Viajante no Tempo conta a história do casal Henry e Clare. Quando os dois se conhecem Henry tem 28 anos e Clare, vinte. Ele é um moderno bibliotecário; ela, uma linda estudante de arte. Os dois se apaixonam, se casam e passam a perseguir os objetivos comuns à maioria dos casais: filhos, bons amigos, um trabalho gratificante. Mas o seu casamento nunca poderá ser normal. Mas Henry sofre de um distúrbio genético raro e de tempos em tempos, seu relógio biológico dá uma guinada para frente ou para trás, e ele então é capaz de viajar no tempo, levado a momentos emocionalmente importantes de sua vida tanto no passado quanto no futuro. Causados por acontecimentos estressantes, os deslocamentos são imprevisíveis e Henry é incapaz de controlá-los. A cada viagem, ele tem uma idade diferente e precisa se readaptar mais uma vez à própria vida. E Clare, para quem o tempo passa normalmente, tem de aprender a conviver com a ausência de Henry e com o caráter inusitado de sua relação. Em A Mulher do Viajante no Tempo, a autora mostra com muita sensibilidade, inteligência e bom humor que o verdadeiro amor é capaz de transpor todas as barreiras - inclusive a mais implacável de todas: o tempo.
Este é um belo romance que nos mostra o quanto a ficção científica pode sair um pouco de suas temáticas comuns, de exploração de ideias e ciências e abraçar uma outra forma de apresentar suas histórias. Estamos diante de um belo romance entre duas pessoas, sendo que uma delas é um viajante do tempo. A história vai versar sobre a dificuldade que o casal tem para conseguir manter a chama do amor acesa, mesmo contra todas as adversidades e obstáculos apresentados pela vida. Essa é uma daquelas histórias que vão te envolver e te fazer sentir junto com os personagens. É muito positivo que essa história esteja voltando a ganhar espaço e tem uma nova oportunidade de ser lida por novos públicos. Venham conosco conhecer a história de Henry e Clare, duas almas que estão predestinadas a se encontrar, a se encontrar e a se encontrar novamente. Em diferentes momentos de suas vidas.
Desde pequeno, Henry sofre com uma condição genética: uma doença que o faz viajar no tempo, para frente ou para trás. Toda vez que ele viaja no tempo, suas coisas ficam para trás e ele acorda nu, precisando dar um jeito para conseguir sobreviver até conseguir retornar ao seu tempo original. Em uma dessas viagens ele conhece Clare, uma menina que virá a se tornar sua esposa no futuro. Clare faz parte de uma família rica, vivendo em uma enorme casa no campo. Aos poucos os dois estranhos vão se apaixonando, só que essa é uma história que acontece de forma não linear. Em alguns momentos, Clare vai ver um homem no meio de seus trinta anos enquanto em outros quase nos quarenta. A ordem com a qual ela se encontra com Henry não segue um padrão até ela finalmente encontrar seu amado em seu próprio tempo. A partir daí teremos uma narrativa que vai explorar esse casa em suas semelhanças e diferenças, precisando lidar com as dificuldades apresentadas pela condição de Henry.
"Tento me lembrar dos meus vinte anos. É só uma vaga lembrança de mulheres, peitos, pernas, pele, cabelo. Todas as histórias delas se embaralham, e os rostos já não se ligam aos nomes. Eu não parava quieto, mas era infeliz aos vinte anos."
Vou começar essa resenha não recomendando essa história a quem está me busca de uma história de ficção científica tradicional. Essa não é uma história desse tipo. Ela explora ideias e um romance de um casal que sabemos que ficarão juntos, mas passarão por inúmeras dificuldades. É um romance em seu sentido puro e simples. A viagem no tempo é um instrumento empregado pela autora para criar um obstáculo curioso para os personagens. Ou seja, esta temática não é a mais importante da narrativa, assim como foi em Kindred, livro de Octávia E. Butler. Na história, Dana, a protagonista, viajava no tempo rumo a um passado de exploração étnica no sul dos EUA. O livro não era sobre os mecanismos que a levaram até o passado, tanto que isto não é explicado, sendo quase como um fenômeno mágico. Aqui é o mesmo: sabemos que se trata de uma doença, mas a autora não vai se embrenhar demais nisso. Até fico preocupado com os momentos em que ela o faz, e não faz muito bem. Todas as vezes em que ela tenta clarificar algum mecanismo, se torna mais estranho e complicado. São os momentos em que não curti tanto a narrativa. Mesmo com toda essa pirueta narrativa, não temos lá muitas informações. E convenhamos: não é necessário para a história de Henry e Clare.
No quesito escrita, a autora emprega um sistema bem arriscado. A história não tem exatamente uma linearidade. Se formos colocar alguém como ponto de vista em uma temporalidade mais ou menos reta, Clare são os nossos olhos. Mas, as aparições de Henry não seguem uma ordem. É como se a temporalidade dos dois estivesse em choque. Se a de Clare é como estamos acostumados a viver, com um dia após o outro, a de Henry é mais fluida e ele vai explorar o passado de acordo com as suas emoções. Momentos de tensão fazem o seu "poder" funcionar e ele é arremessado, sem controle, em algum momento. Pode ser junto a Clare, pode ser em outro lugar. A autora, inteligentemente, não nos mostra cada uma das viagens do personagem e algumas elas só vamos saber mais à frente da história. Alguns momentos são bem estranhos e não vamos entender a princípio. Mas, não se preocupem e tenham paciência; tudo será explicado. A abordagem da autora foi perigosa e poderia ter dado errado de tantas formas diferentes que meu cérebro chega a explodir com as variáveis. Viagem no tempo é um clichê perigoso, causador de paradoxos que os mais atentos vão pescar. Até acredito que ela tenha dado alguns deslizes, mas no geral a história segue com um bom fluxo. Esses raros momentos são pequenas pulguinhas que podem ser argumentadas, mas em nada atrapalham a história.
"Penso em minha infância, em toda a espera e dúvida, e na alegria de ver Henry atravessando o Campo depois de semanas, meses, sem contato com ele. Penso em como foi passar dois anos sem vê-lo e encontrá-lo parado na Sala de Leitura na Biblioteca Newberry: a alegria de conseguir tocar nele, o luxo de saber onde ele está, de saber que me ama."
Se pararmos para pensar bem, Henry não é precisamente o protagonista. Clare é muito mais. Mas, fico contente que a autora não criou um personagem idealizado. Ele tem falhas de caráter que serão explorados na trama. Oras, nenhum de nós é perfeito e sensacional. Cometemos erros ao longo de nossas vidas, parte de um amadurecimento natural que nos coloca responsabilidades em cima de responsabilidades. Imaginem um menino com essa condição de saúde e perde sua mãe ainda novo. O seu pai, arrasado com a morte da esposa, não consegue mais se levantar e cuidar de um filho que precisaria de muito cuidado. É natural que ele seja alguém que enxergue a vida inicialmente como um pesadelo, revendo a perda de uma pessoa querida muitas e muitas vezes. Quando jovens e traumatizados, fazemos coisas horríveis até encontramos uma âncora que nos dê esperança e uma luz no fim do túnel. Essa é a Clare para o Henry. Os encontros com ela o fazem se tornar uma outra pessoa, questionando suas próprias escolhas e decisões. Seja no passado ensinando uma garota a viver ou no presente casado com uma mulher maravilhosa e precisando pensar me seu futuro, Henry é alguém que está em busca de si mesmo.
Por outro lado Clare é a heroína romântica. Mesmo não idealizada, ela é uma mulher de coragem e que tem uma atitude bastante pró-ativa em relação ao que está fazendo. Ela percebe que seu laço com Henry é algo inestimável não só para ela, mas para os dois. Uma conexão especial, não limitada pelas amarras do tempo. Seu coração está fisgado por este homem encantador e sedutor ao mesmo tempo, mas ela precisará tirá-lo um pouco do pedestal e conhecê-lo melhor quando crescer. A desconstrução de sua visão romântica de seu amado é um momento pelo qual todas as mulheres passam ao conviver de perto com o parceiro. O caso dela é mais grave porque ela o conhece, no tempo real, antes de conhecê-lo como viajante do tempo. É engraçado pensar que se ele foi uma espécie de professor e confidente para ela durante seu crescimento, os papéis se invertem quando adultos. E essa troca de papéis é o que fará essa ligação se tornar tão especial.
Novamente temos uma narrativa de viagem no tempo que toca no tema da predestinação. Achei a visão da Niffenegger um pouco pragmática demais com um tempo inflexível e impossível de ser modificado. Isso pode tê-la ajudado a não criar outras preocupações em sua narrativa, mas a deixou pessimista demais. Isso é perceptível nas conversas de Henry com a Clare adolescente onde eles tentam problematizar a viagem no tempo em si. Tem um ótimo momento na metade da história em que Henry coloca o quanto é desesperador saber o que vai acontecer no futuro e não ser capaz de modificar qualquer coisa. Do ponto de vista do personagem, Clare é mais feliz ao ser cega quanto ao que vai acontecer depois. O tempo da história é um ditador que não permite uma flexibilidade aparente. Essa noção de inevitabilidade vai se abater com força no leitor quando ele se der conta de uma situação lá pela metade da história. Isso vai ser perceptível a partir das datas de encontros entre Henry e Clare. Quando isso acontece, o futuro se torna avassalador. É como um relógio prenunciando o nascer e o pôr do sol. Ambos são inevitáveis.
" - Você me parece bem jovem agora. Nos últimos anos, de modo geral, você tinha uns quarenta e poucos anos, e parecia ter uma vida meio dura... É difícil dizer. Quando a gente é pequeno, todos os adultos parecem grandes e velhos."
Esse é um livro de uma rara beleza. Tem os pés no chão e não exagera nos momentos de romance. Tem alguns momentos bem picantes para não acharmos que estamos diante de dois indivíduos pudicos. A história segue uma trajetória boa, com momentos que vão te prender até serem resolvidos. Vale notar que a história parece maior do que seu número de páginas, dado o peso da narrativa da autora. Trajetória essa dividida em três partes muito bem divididas, mostrando a habilidade de ritmo e roteiro da autora. A virada narrativa acontece na metade do segundo ato e daí em diante é uma montanha-russa de emoções. O último capítulo é daqueles que ficam guardados no coração. Vale muitíssimo a sua leitura.
Ficha Técnica:
Nome: A Mulher do Viajante no Tempo
Autora: Audrey Niffenegger
Editora: Suma
Tradutora: Adalgisa Campos da Silva
Número de Páginas: 456
Ano de Publicação: 2009
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