A história de Branca Dias é uma lenda pouco conhecida por nós, brasileiros. A primeira professora do Brasil foi uma mulher perseguida por ser judia e condenada pela Santa Inquisição. Mas, séculos mais tarde, seus descendentes podem levar a cabo uma terrível vingança em nome de sua ancestral.
Sinopse:
A máscara da morte branca é uma fantasmagórica história em quadrinhos que invoca o espírito de Branca Dias pelo roteiro de Alexey Dodsworth (Demônios da Goetia em quadrinhos, Delirium Tremens de Edgar Allan Poe), duas vezes vencedor do Prêmio Argos de literatura fantástica, e pelos desenhos de Isaque Sagara, embalados pela capa de David Oliveira. Este importante quadrinho historicamente embasado surgiu de um presságio que une passado e futuro: na hora mais sombria que virá, Branca há de retornar com seu faqueiro de prata reluzente e as trilhas da vingança ela há de iluminar.
Resgatar histórias tem sido um fenômeno bacana nos últimos anos. O que Alexey Dodsworth faz aqui, usando a arte de Isaque Sagara, é algo importante. Principalmente para que a narrativa não se perca nas areias do tempo. Claro que A Máscara da Morte Branca não é apenas a história de Branca Dias. Dodsworth usa um pouco de terror a la Edgar Allan Poe e cria uma narrativa que mescla resgate histórico ao mesmo tempo em que toca em temas do presente.
Não quero contar sobre a narrativa de Branca Dias porque acho que esse é um dos maiores apelos da HQ. Vou tocar um pouco na segunda parte da HQ sem entrar em muitos detalhes. Temos uma pequena garotinha que acaba de se mudar junto de seus pais e eles visitam a casa onde Branca teria ensinado mocinhas há séculos atrás. O pai dela é um repórter e a ação se passa em 2022, em um governo claramente ditatorial. Durante uma manifestação, seu pai é atingido por uma bala de borracha na cabeça, deixando-o em estado grave. É a partir daí que a lenda de Branca Dias se mescla com os dias de hoje.
Uma das mensagens passadas por Dodsworth é que injustiças continuam a acontecer, não importa quantos séculos se passem. Pessoas sofrem com a mão terrível dos poderosos, que usam de sua influência para esmagar os sonhos e anseios dos mais necessitados. Branca tentou levar sua vida normalmente após ter fugido do poder da Igreja. Mesmo tentando fazer o bem, não teve uma existência fácil. Hoje aqueles que tentam levar o conhecimento e a verdade ainda são perseguidos por aqueles que desejam manter as pessoas na obscuridade, nas trevas, no desconhecimento. A mescla disso com a famosa história da Máscara da Morte Rubra, de Edgar Allan Poe é bem sutil. Os poderosos funcionam como Próspero, da história, que imaginava estar protegido da doença vinda dos mais pobres. De sua torre de marfim, eles apenas observavam as pessoas morrerem uma a uma. Agora, imaginem como isso poderia se refletir a partir do legado de Branca Dias?
A arte de Isaque Sagara utiliza bem o preto e o branco para dar mais valor às cenas. Mesmo os vazios (representados pela cor branca) são empregados para compor os quadros. Seja uma noite enluarada na casa de Branca, ou em uma manifestação onde o preto representa um ar de opressão vindo das forças a mando dos poderosos. O design de personagens eu achei bem construído, com um destaque para o design de personagens. Só achei a proporção um pouco estranha já que Branca tem quase o mesmo tamanho do que a menina. Fiquei em dúvida se a menina era mais jovem ou mais velha... Em todo caso, não foi uma arte que me deixou uma impressão duradoura, mas ela conseguiu se relacionar bem com a proposta criada pelo autor.
Sinceramente? Esta é uma daquelas HQs que todos deveriam comprar. Sim, a arte é boa e a pegada de terror inspirada em Edgar Allan Poe dão um toque a mais, mas o resgate histórico é primordial para mim. Até eu sugeriria ao autor buscar mais lendas específicas do nordeste porque eu acho que daria uma boa coletânea de histórias.
Ficha Técnica:
Nome: A Máscara da Morte Branca
Autor: Alexey Dodsworth
Artista: Isaque Sagara
Editora: Draco
Número de Páginas: 32
Ano de Publicação: 2019
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