Muitos anos depois dos acontecimentos do primeiro livro, Gwendy se tornou uma congressista e agora luta em outro palco. A caixa de botões ficou para trás assim como a tragédia com seu primeiro amor. Mas, quando ela volta para passar o Natal com seus pais, a caixa retorna para suas mãos. E todo o terror retorna junto com ele...
Sinopse:
Algo maligno invadiu a pequena cidade de Castle Rock, no Maine, durante a última tempestade de inverno. Agora, o xerife Norris Ridgewick e sua equipe estão em uma busca incansável por duas garotas desaparecidas.
Aos trinta e sete anos e morando em Washington, DC, Gwendy Peterson não se assemelha nem um pouco à adolescente insegura que costumava ser quando passou o verão se exercitando na Escadaria Suicida de Castle Rock. Naquele verão, ela foi incumbida ― há quem diga amaldiçoada ― de cuidar de uma caixa de botões bastante peculiar, entregue a ela por um desconhecido de terno preto.
Gwendy nunca falou para ninguém sobre a caixa ― nem mesmo para o marido ―, até que, um dia, ela ressurge. Motivada pela inusitada reaparição do objeto e pelos desaparecimentos preocupantes em sua cidade natal, Gwendy retorna a Castle Rock, onde tentará resgatar as garotas desaparecidas antes que algo horrível aconteça com elas.
Com uma prosa lírica de tirar o fôlego, o livro nos leva a pensar: nossas vidas são controladas pelo destino ou pelas escolhas que fazemos?
E cá estamos de volta a Castle Rock ao lado de Gwendy. O que era para ser um livro-solo se tornou uma trilogia a partir de novas ideias propostas por Richard Chizmar. Diferentemente do primeiro volume, esse é um livro escrito apenas por Chizmar com Stephen King apenas prefaciando e contando como foi escrever o primeiro livro e como surgiu a ideia para a criação de Gwendy. Se passando no fantástico ano de 1999, mais precisamente entre os períodos de Natal e Ano Novo, a história toma outro rumo em uma narrativa que podemos categorizar como filosófica e reflexiva. A sempre presente caixa de botões retorna e com ela temos uma personagem mais velha, com mais maturidade e novos problemas. Como King afirma em seu prefácio, as apostas são outras com uma personagem que está no centro do poder americano e suas ações tem consequências ainda mais devastadoras caso levadas para o lado errado da equação.
Gwendy agora é uma congressista depois de ter passado por uma vida bem diferente. Ela se tornou escritora, criando narrativas de mistério e sendo bem sucedida no processo e chegou a escrever uma biografia sobre um homossexual que conviveu com a AIDS. Seus livros a levaram a outro patamar e seus interesses acabaram levando-a ao Congresso, representando um estado conservador como é o Maine. Vivendo no centro da política, ela consegue agora ver os escândalos, os comportamentos tolos, os problemas da vida política. Mas, são problemas menores do que aqueles causados pela caixa de botões. Esta ficou em seu passado, e seu presente é ao lado de um namorado fotógrafo (que vive em zonas de risco) e seus pais que possuem uma saúde periclitante. Quando ela termina suas tarefas políticas e se prepara para passar um natal tranquilo com seus pais, a caixa de botões faz um retorno dramático. No meio de um furacão de problemas envolvendo uma possível guerra com a Coreia, seu namorado passando por maus bocados em uma zona em conflito e o estranho desaparecimento de jovens em Castle Rock, Gwendy precisa descobrir se suas ações são controladas pela caixa ou se suas escolhas foram e sempre serão apenas e unicamente suas.
Vamos começar comentando que este é um livro escrito por Richard Chizmar e não por Stephen King. Mesmo escrito a quatro mãos no primeiro volume, a gente conseguia discernir vez por outra a mão do mestre. Aqui o assunto é diferente e não significa que é melhor ou pior. Apenas que é outra coisa. Chizmar tende para uma fantasia com alguns toques meio sombrios e sua atenção se foca em sua protagonista. Assim como o primeiro livro, os capítulos são curtinhos e o leitor pode conseguir devorar esse livro em um dia se se dedicar o bastante. Ele conta com algumas ilustrações esparsas de Keith Minnion, mais para dar um simbolismo especial a alguns acontecimentos. Aliás, a vibe desse livro é outra já que o primeiro bebia um pouco dos contos de fadas para contar sua história. Esse aqui tem um teor mais para a fantasia com toques sobrenaturais. Até por isso não entendi tanto o motivo das ilustrações. A escrita segue aquele padrão cinematográfico em três atos bem definidos e claros para o leitor. Falando rapidamente sobre a edição da Suma, ela está em capa dura assim como o primeiro volume, em um formato bem elegante e uma formatação bastante agradável para os olhos. Ele é uma delícia de se manusear. A tradução é da Regiane Winarski, que é a nossa especialista no mestre do Terror (embora não seja um livro dele), e que consegue traduzir bem o que o escritor desejava trazer para suas páginas.
Senti que o autor acabou concentrando muito seus esforços na figura da Gwendy. Ele até consegue transmitir bem aquela sensação de cidade do interior, algo que ele compartilha com Stephen King, mas seus personagens ficaram um pouco aquém do que eu esperava. Vou evitar comparar com o King porque é covardia e pretendo analisar o Chizmar por aquilo que ele escreveu. Alguns personagens estão completamente avulsos na trama, inclusive o antagonista que Gwendy precisará encarar. O personagem não é trabalhado e sua existência é superficial. Tem um momento da investigação em que se fala o que o moveu a cometer os sequestros, mas o motivo é tão jogado que não me convenceu. Mesmo o xerife da cidade com quem Gwendy passa mais tempo também não funciona direito. Já o mesmo não posso dizer a respeito do núcleo familiar. Gostei das interações com o sr e a sra Peterson e aqui Chizmar consegue dar mais espaço para essa relação. Reclamei lá na resenha do primeiro livro que ele precisava atentar mais a isso já que sua relação familiar era importante para a própria história. Seus pais foram fundamentais para a sua transformação na mulher que ela é hoje e o autor consegue representar bem o apego que ela tem a eles. Os momentos em família estão entre as partes mais calorosas do livro. Alguns de vocês vão esperar alguma situação trágica acontecendo durante um jantar, sei lá, um panetone do mal ou um espírito natalino brincalhão. Não é nada disso. Os encontros familiares servem para reforçar os sentimentos e os valores de Gwendy.
Uso isso como gancho para falar do dilema vivido por Gwendy nesse volume. Com a caixa de volta, as tentações também retornam. Ela já sabe que a caixa possui um incrível poder de atração e até mesmo uma vontade própria. No papel de uma congressista, imagina o estrago que ela pode fazer se apertar um botão e matar um presidente ou destruir o exército de um país. Sua posição de poder eleva as apostas a um novo patamar. Por isso que é importante toda a tarefa de contenção que Gwendy faz, até porque ela já viu de perto o que esse instrumento é capaz de fazer. Uma questão que ela vai se fazer é qual é o objetivo de Richard Farris ao introduzir de volta esse instrumento em sua vida. Gosto de como Chizmar responde pouquíssimas coisas ao mesmo tempo em que introduz novidades. Farris vai se tornando um personagem misterioso do qual queremos saber mais a respeito. Lá no final da história, ele terá uma conversa marcante em que ele deixa algumas frases no ar que são misteriosas para dizer o mínimo. Sem falar em algumas situações diferentes que a caixa faz Gwendy passar. Tem um tweak que acontece com a Gwendy que me deixou com a pulga atrás da orelha para o terceiro volume.
No âmbito da personagem, ela se questiona se o sucesso que ela conquistou se deveu a partir de seus esforços ou se foi uma obra da caixa, mesmo que fosse um efeito residual. Lembrem-se que ao longo de sua infância e adolescência, Gwendy conviveu com os chocolates e as moedas de prata oferecidos pela caixa. Os chocolates que forneciam a ela uma vitalidade poderosa, além de beleza e inteligência e as moedas que eram raras e forneciam riqueza. Estar de posse da caixa fazia as coisas penderem a seu favor. Voltamos a um velho dilema: nossas escolhas são guiadas por um destino inefável ou pelo livre-arbítrio do que escolhemos? Gwendy passa pela síndrome do impostor já que ela é muito bem sucedida mesmo sendo jovem. O que ela não consegue aceitar é em o quanto ela se tornou uma pessoa que se importa com os outros. Ela tem uma postura sensível, atenciosa e atrapalhada de um jeito bonitinho. Gwendy não perdeu a simplicidade de seu coração mesmo tendo se tornado uma escritora famosa e agora uma política em ascensão. Gwendy sabe de onde veio e os problemas pelos quais passou para chegar até ali. Só que a caixa coloca uma série de dúvidas em seu coração que vão fazê-la ficar diante de algumas dificuldades.
Castle Rock está sendo ameaçada por um novo mal. Chizmar traz algumas das pessoas que já afetaram a cidade para nos mostrar os antecedentes: Frank Dodd, o cachorro Cujo e o assassinato na Escadaria que aconteceu no primeiro volume. Gwendy vai se deparar com o possível caso de um serial killer e suas mãos estão meio que atadas porque ela não sabe muito bem como pode ajudar. Em pouco tempo sua presença na cidade e seu cargo como congressista são colocados em dúvida por pessoas que querem que o caso seja resolvido logo. Isso sem falar numa leve cutucada do autor no fato do Maine ser um estado conservador e Gwendy ser uma mulher democrata. À medida em que o caso vai ficando mais complicados, as dúvidas que Gwendy tem sobre si se interpõem em sua atuação e causam alguns momentos bem tensos. Só que o caso dos desaparecimentos não é exatamente a trama principal desse segundo livro. Ele é focado em... Gwendy. Novamente. Este é um segundo livro bem legal com um tom mais otimista e filosófico que atinge aos leitores que estão passando por essa fase da vida. O curioso é que esse é um livro natalino e gostaria de ver este livro sendo transformado em um filme (filme... série não, pelo amor de Deus). Tem tudo para ser mais uma destas histórias clássicas dessa época do ano.
Ficha Técnica:
Nome: A Pena Mágica de Gwendy
Autor: Richard Chizmar
Série: A Pequena Caixa vol. 2
Editora: Suma
Tradutora: Regiane Winarski
Número de Páginas: 352
Ano de Publicação: 2022
Outros Volumes:
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*Material recebido em parceria com a Editora Suma
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