O jovem Damien nasce em circunstâncias auspiciosas. O embaixador Thorn precisa lidar com as consequências de uma mentira que pode acarretar no surgimento do AntiCristo. O fim do mundo está para acontecer.
Sinopse:
Uma jovem babá morre por causa do pequeno Damien...
Um padre morre apunhalado por revelar a terrível verdade sobre o nascimento de Damien...
Num pacífico jardim zoológico, os animais entram em pânico e lutam até a morte quando vêem Damien...
Um famoso diplomata e sua mulher são seguidos por "acidente" após "acidente", de Roma a Londres e a Jerusalém, ameçados por um terror que não conseguem compreender, terror que se concentra sobre o seu filho Damien... e a sua maligna marca de nascença.
Serão as forças do mal desencadeadas sobre um mundo inocente e desprevinido por causa de Damien?
QUEM É DAMIEN?...
O tema do apocalipse já foi mais trabalhado nas histórias de terror. Quando A Profecia foi lançada e depois foi para as telonas, muitos autores se debruçaram sobre estes auspícios. Entretanto, a história escrita por David Seltzer continuou sendo clássica. Muito mais por mérito da excelente adaptação para o cinema do que pelo livro em si. Como iremos ver a seguir existem inúmeros problemas de execução na narrativa que comprometem o resultado final.
Antes de mais nada, separemos o filme do livro. A comparação é complicada e a adaptação é muito competente. Não tira os méritos do livro, mas o filme dirigido por Richard Donner conseguiu extrair o que havia de melhor na narrativa de Seltzer e ampliar ainda mais. A escrita do autor é muito instável, refletindo um pouco de falta de habilidade ao lidar com o ritmo da história. Uma boa narrativa precisa saber dosar bem os momentos descritivos com os diálogos. Caso isto não seja feito de forma eficiente, ocasiona o que vemos em A Profecia: grandes momentos de descrição seguidos por grandes momentos de diálogo. Existe toda uma quebra de ritmo quando há a transição da descrição para o diálogo. Temos capítulos com páginas e mais páginas de diálogos que se sucedem por menos de uma linha.
Ex:
Personagem A: Blablablablablabla blabla blablablabla
Personagem B: Sim, e blablablablabla blablabla blablabla
A: Mas, é claro.
B: E você?
A: Estou bem. Como está o tempo?
B: Lindo.
A: Vamos sair hoje?
B: Não. Para onde você queria ir?
A: Ao cinema.
B: Assistir o que?
A: Um filme.
B: Que filme?
A: Não sei. Você tem sugestões?
B: Não. E você?
Isso torna o ritmo da história estranho. Principalmente quando se alternam trechos com descrições compostas por parágrafos muito longos (alguns desses parágrafos possuem mais de uma página). Por outro lado, a escrita é bem tranquila feita em uma linguagem simples e direta. Parece até que o autor já tinha escrito o livro pensando em vendê-lo para o cinema (o filme é do mesmo ano que o livro). A narrativa é em terceira pessoa, mas vista do ponto de vista do embaixador Robert Thorn. Os diálogos são bem verossímeis e não vi problema além da construção dos mesmos.
Os personagens servem ao propósito ao qual eles são criados. Por eu ter visto A Profecia 1 e 2, eu queria ter visto um pouco mais do Damien que apenas é uma presença na história. Okay, vou entender o Damien mais como a expressão do mal a ser combatido do que com um personagem per se. Gostei muito de como Seltzer trabalha o casal e constrói o fato de eles não acreditarem em um subplot na história. Vamos vendo a derrocada de Robert acontecendo de forma bem progressiva na trama. Acho que no filme o personagem é apresentado de maneira mais estoica. Aqui no livro ele é apenas um cara que tentou proteger sua esposa de uma tragédia em um momento de fragilidade. O autor poderia ter trabalhado um pouco mais a dúvida sobre se Damien era ou não o Anticristo a partir das neuroses de Katherine. Desde o início da história ela já é apresentada como alguém que sofre de inseguranças e transtornos emocionais. E o Damien é apresentado na segunda página como o Anticristo. Essa premissa poderia ter demorado mais a acontecer. Poderia-se fazer o leitor imaginar que Damien era apenas um menino normal.
Até porque um dos temas principais do livro é a fé. O casal não segue muito a religião, apesar de Katherine ter uma formação católica. Para Robert, um político, lidar com religião é apenas através do entendimento que este é o ópio do povo. Mas, suas premissas são confrontadas com acontecimentos fabulosos que o colocam contra a parede. A questão é se Robert acredita ou não no que está acontecendo. E se acredita, o que vai fazer a respeito? Também senti falta de uma participação maior da Igreja. Vi apenas um grupo de satanistas que depois se arrependem (sabe-se lá porque) e mais adiante alguns outros representantes do clero. Para algo que já aconteceu outras vezes, não é possível que a Igreja não tenha criado algum grupo para ajudar a combater o Armagedon. Senti um pouco de preguiça criativa do autor nesta parte.
O repórter ficou meio perdido no meio da história toda. Ele começa como um papparazzi querendo uma história picante para alavancar sua carreira. E acaba se envolvendo em toda a trama. Não entendi as razões para isso. O autor não me convence do que acontece mais à frente na narrativa. Soou pouco crível. Ah, já ia esquecendo de mencionar Katherine. Outro baita acerto do autor. A faceta transtornada dela é muito bem construída. Ele consegue entregar uma mulher insegura e que o marido acaba tendo que fazer uma loucura para mantê-la sã.
Quem busca um livro com cenas arrepiantes, este aqui tem algumas incríveis. O que eu não encontrei em O Bebê de Rosemary, achei aqui. Neste sentido, ele consegue chocar com cenas bestiais. Vou apenas citar por alto para não dar spoilers: a cena do enforcamento é do cacete e você não espera aquilo. Outras mais próximas à metade da narrativa também são muito boas. Tem alguns momentos na histórias em que ele faz flashes-sequência entre cenas se passando em diferentes lugares de forma a passar ao leitor um efeito de tensão. Dessas histórias clássicas, eu gostei bastante desta ideia do Seltzer, algo que eu não vi em outros autores. De fato o autor pensou muito em filmar o seu livro. Impossível ele não ter imaginado que isso poderia acontecer. O plot twist no final também é muito legal. Quando você pensa que vai acontecer uma coisa, ele inverte a sua expectativa. Isso dá um efeito incrível.
No geral, apesar das falhas, A Profecia é um livro rápido e que entretém. É aquele tipo de livro de terror que não é para que tem um coração fraco. Acima de tudo é um livro sobre fé e até onde somos capazes de chegar para proteger nossa família. Com uma escrita irregular, porém com personagens razoavelmente bem construídos, é um clássico do gênero e precisa ser lida por todos. Recomendo bastante (apesar de recomendar mais o filme do que o livro).
Ficha Técnica:
Nome: A Profecia Autor: David Seltzer Editora: Record Gênero: Terror Tradutor: A;B. Pinheiro de Lemos Número de Páginas: 199 Ano de Publicação: 1976
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