Em um mundo no futuro, os humanos descobriram um meio de prender seres de outra dimensão capazes de criar sóis em corpos decaídos que ficam sob a responsabilidade de cuidadores. Mas, quando um deles se apaixona por quem deveria cuidar, o mundo pode virar de ponta cabeça.
Sinopse:
A superfície retangular de Almagesto se impõe na metade do cosmos. Não é um planeta idílico, nem amável, nem pacífico; nem sequer é de todo correto chamá-lo de planeta. Mas, é muito bonito subir nas balaustradas de seu porto, embriagado por seus mil aromas, e ver o desfile contínuo dos Sóis. Cada um é diferente do anterior, com força distinta e muito calor e luz... e personalidades diferentes.
Porque o que faz de Almagesto diferente é que seus Sóis são criados com o pensamentos de uns seres extraordinários. São aqueles que fazem os sóis nascerem e se porem na hora, lhes permitem brilhar e acalentar suas ruas. Criaturas de outra dimensão, atados a nossos corpos mediante tecnologia. Alastair os vigia, os protege e também cuida deles. Para que possam fazer o melhor que puderem. Para que a madrugada nunca termine.
Uma história sobre o amor em suas várias formas. Pode parecer uma história água com açúcar ou que não combina exatamente com ficção científica. Mas, pense de novo. Vivemos em um mundo hoje onde as pessoas andam raivosas e sem buscar a compreensão umas nas outras. Teresa P. Mira de Echeverria nos mostra que é possível não apenas amar alguém, mas amar várias pessoas. Um tipo de amor que ultrapassa as barreiras do corpo, que é capaz de criar e mover estrelas no céu. A autora certamente escreveu uma narrativa tocante e bonita que eu recomendo a todos dar uma oportunidade e refletirmos sobre o que significa de verdade a palavra amor. Talvez assim possamos voltar àquela outra palavra que habitava tanto a falar de amantes de ficção científica há alguns anos atrás: o transumanismo.
A história se passa em um planeta chamado Almagesto. Um construto artificial que é sustentado por vários sóis que se alternam uns após os outros. Esse sóis foram criados por alienígenas vindos de uma outra dimensão, criaturas com inteligência e poderes divinos, verdadeiros criadores de estrelas. Mas, para poder controlá-los, os humanos os roubaram de sua dimensão ainda em estado larval e, através de uma tecnologia avançada, os transplantou para corpos vazios de seres humanos. Esses corpos geralmente estavam em um estado de decadência ou possuíam alguma desvantagem física que prejudicava a sustentabilidade de seus hospedeiros. Essa foi a maneira que a humanidade encontrou para controlar estes seres divinos. Cada um deles é colocado sob a tutela de um cuidador. Este se torna responsável pelo bom funcionamento destes seres. Um destes cuidadores é nosso protagonista, Alastair. Um homem desencantado com sua vida e com a humanidade que acabou descobrindo estar apaixonado por uma das criaturas que deveria proteger. Só que ela já tem o seu coração tomado por outro de seus iguais. Sem que Alastair soubesse, sua protegida também vem despertado sentimentos por ele, mas ela necessita de mais do que o amor por um indivíduo. Afinal, sua consciência está além das limitações do ser humano. E agora? Será que essa relação com um dos Sóis irá mudar para sempre a vida de Alastair?
Segunda história que eu leio da autora e fico cada vez mais surpreso com a criatividade dela. Na outra história, chamada À Sua Imagem (também lançada pela Monomito) temos um protagonista tentando sobreviver em um mundo em formação, cuja sociedade é baseada em aparências. Aqui temos uma ficção científica mais dura, com altos conceitos como a criação de sóis, o transumanismo e a busca por algo além do mundo material. Recomendo uma leitura mais calma e tranquila, caso contrário o leitor vai se perder na narrativa. A estrutura do texto é muito boa, com capítulos curtos que ora estão sendo apresentados pelo lado de Alastair, ora pelo lado de Bella. Se trata de uma narrativa em terceira pessoa, mas mais focada em quem está sendo apresentado daquela vez. A autora usa bem poucos diálogos, preferindo se concentrar no que os personagens pensam e sentem. Isso permite ao leitor se relacionar melhor com os personagens. Apesar de ser uma novella, a narrativa tem um bom tamanho e eu senti que ela começou e fechou muito bem. Não deixou buracos de enredo.
O tema principal é o amor. E não é algo piegas, sendo um sentimento que envolve todos os personagens. Para que Alastair consiga entender o que Bella realmente deseja, ele precisa se relacionar com cada um dos personagens que se encontram em seu grupo. Entender as diferentes manifestações do amor. Com Berghem um amor poderoso e forte que ultrapassa as barreiras do tempo. Com Jack, o amor que preenche, aquele amor bandido do qual você sente ciúmes porque ele é caro de quem você ama, mas Alastair não consegue deixar de amá-lo. Com Jacob um amor companheiro, que está ao seu lado quando você mais precisa dele. Que é capaz de lhe dar palavras de sabedoria quando você necessita ouvi-las. Eryr representando a polifonia, os diferentes sons advindos dos suspiros do amor. Um amor que veio a partir do ódio, mas que foi capaz de encontrar uma nova chance. Em Edgar, o amor que atravessa o tempo e o espaço, eterno e perene. Nadezhda que fornece a noção de que o amor é muito mais do que o encontro carnal. E Bella que a tudo preenche. Achei que a autora foi capaz de dar tridimensionalidade a todos os personagens. As coisas poderiam ter saído errado, principalmente porque a narrativa é intimista. Se foca mais na relação entre os personagens apesar de que no começo temos um plano geral do que acontece em Almagesto.
Meu único porém está no fato de que eu senti falta de um desenvolvimento maior do conflito entre Alastair e os Sóis e a sociedade que os cercava. Se estamos frente a frente com uma sociedade em decadência, era preciso mostrar como a visão de Alastair conseguiria vencer a visão miúda da humanidade. Vemos alguns momentos na narrativa que nos ilustram como os humanos objetificaram seres tão divinos. Esse antagonismo fica muito no pano de fundo e salvo um momento crítico quase no final da história, não vemos outros humanos. Não posso contar muito porque corro o risco de dar spoilers pesados, mas queria ter visto mais como a sociedade reagiu a tudo o que estava acontecendo. Não consigo aceitar a inércia.
Gostei demais dessa história e ela conseguiu acalentar o meu coração. Em um momento em que vivemos tão distantes em todos os sentidos uns dos outros, uma história como essa serve para nos lembrar como amar é um sentimento tão engrandecedor para nós. O quanto o amor pode assumir diferentes formas. O quanto pensamos pequeno ao nos referir a esse sentimento. Teresa P. Mira de Echeverria não se preocupou com gêneros ou formas de amar. Nos mostrou que o sentimento ultrapassa tudo isso e que o ser humano é capaz de ser sublime e alcançar outro estágio de existência.
Ficha Técnica:
Nome: Alvorada em Almagesto
Autora: Teresa P. Mira de Echeverria
Editora: Monomito
Tradutor: Toni Moraes
Número de Páginas: 120
Ano de Publicação: 2021
Link de compra:
*Enviado em parceria com a Monomito Editorial
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