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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Amanhecer Esmeralda" de Keith Giffen, Gerald Jones, M.D. Bright e Romeo Tanghal

Essa é a origem de um dos maiores Lanternas Verdes do universo DC: Hal Jordan. De um homem repleto de problemas pessoais, ele é escolhido por Abin Sur, que estava morrendo, para se tornar um homem capaz de vencer seus próprios medos. O início de uma grande jornada.


Sinopse:


Amanhecer Esmeralda é uma série limitada de 1989-1990. A série recontou as origens de Hal Jordan e como ele se tornou um Lanterna Verde na continuidade pós-Crise. Foi criado por Keith Giffen e Gerard Jones, com a primeira edição escrita por Christopher Priest.





Sou muito suspeito para fazer uma resenha desta série limitada e de Amanhecer Esmeralda II. Foi uma das séries da DC que me apresentaram ao mundo dos quadrinhos quando era criança. Além dela, Crise nas Infinitas Terras e a fase do Exílio do Superman são as que mais guardo com nostalgia. Depois de décadas finalmente pus as mãos em um compilado importado com as duas séries (ai ai, Panini... ai ai, que a senhora não reedita esse clássico). E é engraçado como algumas coisas só funcionam com a gente em uma certa época. Sempre achei Amanhecer Esmeralda e Crepúsculo Esmeralda duas das coisas mais incríveis dos quadrinhos DC. E, fui ler novamente... e não. Não é tão incrível assim. Ou devo ser um velho chato ou a história realmente é bem mediana. Mas, enfim, é legal revisitarmos esses mitos que criamos quando tinhamos outra idade para ver se a história envelhece bem. Ou se é apenas aquele encantamento do passado. Mesmo assim, a minissérie é bastante eficiente e consegue entregar o que ela se propõe a fazer: uma história de origem.


Antes de mais nada, só para não confundir os leitores do blog, decidi separar em duas resenhas, uma pegando a primeira mini e a próxima comentando sobre Amanhecer Esmeralda II. Mais por causa do tom de ambas as histórias e até pela equipe criativa que é ligeiramente diferente. Então, aqui só vou comentar sobre Amanhecer Esmeralda, a primeira mini.


Após o evento Crise nas Infinitas Terras, ocorrido na metade final da década de 1980, a DC conseguiu arrumar sua casa e levar todos os seus heróis para um único lugar, a Terra-1. Não mais trocentas versões dos heróis habitando realidades paralelas (ah, se o editor da época soubesse que tudo o que ele fez foi em vão... tsc tsc tsc). Após o evento, a DC procurou reformular as histórias de origens de seus heróis. Como uma tábula rasa onde eles poderiam modernizar os mitos e trazer tudo para um novo público. Os primeiros a passarem pelo makeover foram o Batman (com o incrível Mike W Barr), o Superman (com John Byrne e sua clássica fase) e a Mulher-Maravilha (com o incomparável George Perez). Mas, é claro que esses não eram os únicos heróis da DC que precisavam passar por isso. O Lanterana Verde tinha um histórico nos gibis da DC bastante confuso, principalmente porque ele era confundido com o Lanterna original, o Alan Scott. A fase dele com o Arqueiro Verde ficou muito famosa, mas Hal Jordan não era o cara que é hoje. Ou melhor, o personagem Lanterna Verde não era nada parecido com os dias atuais. É aí que entra a necessidade de reformular o personagem.


O Lanterna Verde cai nas mãos de Keith Giffen e Gerard Jones. E aqui é preciso pontuar uma particularidade dessa mini. Isso porque não temos um roteirista tocando tudo sozinho. Giffen vai tocar a mini a partir de um planejamento geral da mesma, destacando como o personagem vai sair do ponto A para o ponto B. Já Gerard Jones vai pegar mais as partes específicas da história, apontando os diálogos dos personagens e traduzindo o planejamento de Giffen para as páginas. É bastante curioso pensar que mesmo uma narrativa como Amanhecer Esmeralda, que possui um roteiro bem simples e direto, conseguiu transformar o personagem no que ele vai ser na década de 1990. A história possui vários problemas e buracos, mas mesmo assim ela entrega tudo o que o leitor precisava saber sobre o personagem: quem ele era, suas motivações, seus receios e seus mistérios. Claro que tem umas bizarrices, como jogar o Legião na lama só para que a cor dele deixasse de ser amarela. Mas... são os anos 90, gente. Se pararmos para pensar, o roteiro é bem aquém da fase do Byrne no Superman ou do Perez na Mulher-Maravilha. Mas, ele consegue mudar o status do personagem dentro do universo DC. Outros heróis do pré-crise nunca mais conseguiram uma fase tão longeva quanto a do Lanterna.

Ajuda também o fato de que a arte do M.D. Bright é bem eficiente em delimitar qual vai ser o tom da história. As três primeiras partes da mini são bem pé no chão. Bright vai desenhar a base aérea, uma cidadezinha (que depois viemos a saber que se trata de Coast City) e o elenco de apoio. Uma arte bacana, nada demais e que mostra o cotidiano do personagem. Nada de quadros amplos, todos pequenos e intimistas. Personagens conversando, situações acontecendo no fundo. Não gosto de como os personagens do Bright tem pouca expressividade, mas okay, dá para o gasto. A coisa só vai melhorar lá pela segunda metade porque a história vai pedir que Tanghal dê uma enlouquecida e comece a criar uns cenários alienígenas bem doidos. É aí que ele vai brilhar. A arte do Bright é mais orientada para a ação e a exploração. A narrativa brilha quando somos levados a Oa, o QG dos Lanternas Verdes, e lá Hal Jordan se depara com um mundo louco e completamente diferente de tudo o que ele viu em sua vida. As batalhas são bem coreografadas por Tanghal e a gente não se perde naquilo que está acontecendo (só algumas vezes...). Para o que a história quer, funciona. Tem algumas páginas inteiras ou splash pages que até são legais, mas nada que vá te chamar a atenção.


Dando uma passada rápida pelo o que é a história, já que essa origem já foi contada mais de uma dúzia de vezes, somos apresentados a Hal Jordan. Ele perdeu o pai quando era criança, vítima de um acidente de aviação ao qual ele presenciou de perto. Isso o transformou em um cara impulsivo, mulherengo e que não dava bola para as regras que lhe eram impostas. Ele trabalha para a base aérea Ferris, mas por causa de seu temperamento ruim, é apenas um piloto reserva, ficando mais em simuladores. Isso o revolta e faz com que ele tome atitudes bastante reprováveis, como dirigir bêbado e ser responsável direto pela morte de seu melhor amigo. Isso vai mudar quando ele acaba sendo arrastado para uma nave que tinha acabado de cair na Terra. Um estranho alienígena chamado Abin Sur diz que Hal foi escolhido para se tornar o próximo Lanterna Verde do Setor 2814. Ainda perdido nas maluquices que ele imagina ter ouvido desse alienígena, ele acaba se vendo precisando enfrentar uma terrível ameaça dourada chamada de Legião. O que fará Hal Jordan?


A narrativa de Giffen funciona porque Hal Jordan não se encaixa bem no molde do super-herói. Ele até vai se encaixar, mas muito lá para o futuro e do jeito dele. Hal é um personagem que poderia ser qualquer um de nós, com suas qualidades e defeitos. Ele recebe um poder especial que vai servir mais como mote para ele conseguir uma segunda chance na vida do que para ampliar algo que ele já tivesse. O personagem é uma perfeita bola de demolição no início da mini. Toma atitudes bastante reprováveis, é egocêntrico. Ele só é mantido na base aérea porque a filha do chefe, Carol, ainda tem sentimentos por ele. O momento inicial é mostrar o quanto esse personagem precisa trilhar um longo caminho até se tornar um indivíduo melhor. Mesmo quando ele coloca o anel inicialmente, suas motivações não são exatamente heróicas. Ele está cuidando dos seus, diante de uma tropa de "guardas espaciais" cujo principal objetivo é ser desapegado, é pensar grande. O leitor fica preso na história porque percebemos que esse é o começo de uma estrada que iremos percorrer juntos ao lado dele. Ver como no começo Hal faz tudo para fugir das acusações de direção perigosa e no final ele toma uma atitude altruísta é o que me faz voltar.

Ao mesmo tempo, Giffen não afunda o leitor em toda a mitologia por trás do Lanterna Verde. Vemos a calma e a paciência de entregar pouco para o leitor e aos poucos inserir novos elementos para a trama. Por exemplo, Geoff Johns é muito mais apressado para entregar elementos de mitologia em sua fase nos anos 2000, o que afasta alguns leitores de sua série. Permanece quem persiste e acaba conseguindo entender as coisas depois. Por exemplo, nessa mini só sabemos que o anel é um instrumento de poder (nem se fala ainda em força de vontade), que existem muitos lanternas e que eles ficam em Oa onde os guardiões são seus superiores. Ah, e tem a bateria central. Pouca coisa é realmente explicada aqui, algo que Sinestro vai fazer com o Hal na segunda série. Giffen prefere manter a narrativa centrada na figura do Hal Jordan, para que o leitor saiba quem é o indivíduo e a partir daí a história é tecida nessa direção. Como essa pessoa vai reagir às mudanças ou como Hal vai aproveitar essa nova chance que lhe foi dada. Alguns pequenos detalhes são entregues aqui e ali como o que os guardiões realmente representam, a ideia extrema de ordem que os lanternas carregam (e algo que Hal não necessariamente concorda) e como os lanternas funcionam a um escopo universal.


Existe uma bela progressão na história do Hal. Giffen soube bem usar a jornada do herói para construir o personagem. Temos o momento inicial, a relutância, os primeiros confrontos, as dificuldades encontradas, a busca por um mestre (que é uma primeira parte já que Killowog vai ser substituído por Sinestro na segunda série), o confronto com um adversário poderoso, a busca pela ambrosia e o final glorioso. Todo o percurso é percorrido pelos roteiristas. Por isso que disse que a narrativa é eficiente. E é interessante perceber como ela segue o esquema de três atos também (introdução nas duas partes iniciais, desenvolvimento nos dois do meio e clímax nos dois finais). O roteiro segue bem a cartilha. Por isso que disse que ao reler para montar a resenha, a narrativa não funcionou tão bem assim comigo. Porque ela é muito padrão, não tem nenhuma novidade ou alguma inovação de roteiro. As coisas funcionam e fazem o leitor voltar para mais depois. E é isso.


Gosto demais dessa série, mesmo tendo lido novamente e minha nostalgia tenha reduzido um pouco. Ainda é uma das minhas histórias favoritas e o Hal Jordan ainda é um dos meus personagens favoritos. Acho que é o tipo de história que serve como ponto de entrada para conhecermos o personagem. Estou em dúvida se ela funciona melhor do que Hal Jordan - Renascimento, mas prometo dar uma opinião mais concreta quando reler essa mini também. A arte não é fenomenal, mas funciona bem para o que o roteiro lhe pede. Os quadros de Bright tem uma boa sinergia com os roteiros de Giffen e Jones. No mais, volto depois com a resenha de Amanhecer Esmeralda II.












Ficha Técnica:


Nome: Lanterna Verde - Amanhecer Esmeralda

Faz parte do compilado Green Lantern - Hal Jordan vol. 1

Autores: Keith Giffen e Gerard Jones

Artistas: Romeo Tanghal e M.D. Bright

Colorista: Anthony Tollin

Editora: DC Comics

Número de Páginas: 304 (152 para Amanhecer Esmeralda)

Ano de Publicação: 2017 (desse compilado)


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