Na última aventura de Sherlock Holmes, ele e a filha de Watson precisam ajudar uma mulher da alta sociedade a resolver um mistério. Segundo ela, seu filho foi assassinado por ela mesma. Mas, o mistério por trás desse crime pode levar o detetive a lugares nunca antes explorados.
Sinopse:
"As boas damas" é a aventura de Annabel Watson, filha do famoso doutor e parceiro de investigações de Sherlock Holmes. Anos depois da morte dos pais, Anna vive com Holmes, seu tutor legal, que está prestes a se aposentar, até uma última cliente aparecer: uma dama da sociedade, que confessa ter assassinado o próprio filho, desafiando o detetive a descobrir suas motivações. Holmes, com Annabel a tiracolo, vê-se diante de um mistério que parece encobrir um mundo sobrenatural.
Sherlock Holmes é um personagem que já foi representado de mil maneiras diferentes. Encontrar uma história original com o personagem é meio complicado. Qualquer coisa que se procure usar já pode ter sido explorado em algum momento. Clara Madrigano testa alguns elementos até ousados em sua narrativa, mas será que ela conseguiu reinventar o mais famoso detetive de todos os tempos? Antes de tudo, acho que vale pelo menos a experiência.
Eu me pergunto se sou o melhor crítico para esta história escrita pela talentosa Clara Madrigano. Digo isso porque não sou muito fã de histórias de mistério. Conheço as histórias de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie e eu sempre tive opiniões bem divididas a esse respeito. Entretanto, eu gostei da história da autora e ela tem alguns pontos positivos a serem destacados. Por exemplo, ela conseguiu adaptar a sua escrita ao período no qual se situa os personagens. A escolha de palavras reflete bem o clima vitoriano das histórias do detetive. Apesar de algumas escolhas sobre a personalidade de Holmes que eu discutirei a seguir, a ambientação e a escrita fazem sentido em relação aos personagens criados. Só que não achei a história tão "detetivesca" assim. Não sei... senti falta daquele estilo mais voltado para a investigação. Em alguns momentos, me pareceu mais uma aventura do que uma história de detetive. Não sei se estou conseguindo me fazer claro nesse sentido.
Antes de falar de Holmes, queria dedicar algumas linhas à Annabelle Watson. Para mim ela é a estrela do show. Clara criou uma personagem que adiciona bastante à história. Ela não é simplesmente uma Watson de saias. Muito pelo contrário: ela tem personalidade própria e participa ativamente das investigações. Não é um supergênio cometendo erros comuns. Trata-se de uma personagem redonda, com qualidade e defeitos. Eu compraria outros romances de Clara Madrigano com a Anna como protagonista. Ela tem muito a ser explorado. Pode não ser necessariamente uma personagem a la detetive, mas existem muitas possibilidades. Até mesmo lidar com aspectos do oculto, já que a autora abriu essas portas.
O Holmes de Clara é diferente do padrão. Difere no sentido de que ela prefere explorar um lado mais humano e cansado do personagem. Uma vida de aventuras, investigações e emoções o tornaram um personagem mais afetuoso apesar de ele preferir se esconder na máscara do detetive cínico e cético. A conexão que ele tinha com Watson é muito bem explorada pela autora até com um twist curioso. É possível pensar nesse sentido, apesar de eu não me lembrar de nada nesse estilo. A autora faz também uma desconstrução do mito do grande detetive apontando que não passavam de histórias contadas por Watson. O quanto disto é verdade? Vai saber. Novamente eu caio na impressão de que a autora queria passar o bastão de Holmes para Anna e para uma transição mais suave ela desconstruiu o personagem através de alguém intimamente ligado ao detetive.
Gostei do fato de a autora ter me enganado em certo ponto. Ela me levou em uma direção quando na verdade era outro que ela explorava. É o velho truque da carta de baralho: ela balança uma carta na sua frente para enganar os seus sentidos em relação ao verdadeiro truque embaixo da manga. O aspecto sobrenatural da obra levava a uma conclusão bem específica que na verdade não era. E não quero falar mais porque vou acabar estragando a brincadeira da autora. Só digo uma coisa: nem tudo o que reluz é ouro, tá.
Parte do estilo investigativo está lá principalmente na parte final do conto. Mas, achei pouco. Não sei se era a intenção da autora escrever uma história estilo Sherlock mesmo. Porque esse estilo de histórias possui um padrão de narrativa muito específico que a autora não seguiu. E não foi uma quebra de estilo ao apresentar um novo estudo sobre o gênero; mas ela de fato não seguiu o gênero. A apresentação do crime estava lá e a solução do mistério também; mas a parte investigativa com as pistas e as descobertas não estavam inteiramente lá. É como se faltasse algo.
Um outro ponto que é válido até alertar a autora é que existe a necessidade de fazer uma revisão textual. Existem errinhos bobos frequentes, mas nada que um polimento não consiga resolver.
As Boas Damas é uma boa aventura usando o bom e velho Sherlock Holmes. A autora explora um ponto de vista bem diferente sobre o detetive que faz com que você demonstre interesse pela história. Mas, o que mais me chamou a atenção foi a excelente protagonista que merece mais histórias. Apesar de ela não manter as características intrínsecas ao gênero de detetive, o romance fornece alguns momentos de diversão.
Ficha Técnica:
Nome: As Boas Damas
Autora: Clara Madrigano
Editora: Dame Blanche
Gênero: Fantasia/Policial
Número de Páginas: 120
Ano de Publicação: 2017
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