Dick Grayson retorna a Bludhaven depois de recuperar sua memória. Ele quer recomeçar em uma cidade que precisa de um anjo da guarda. Só que os inimigos são muitos e podem ser demais até para ele. Mas, uma herança inesperada o coloca em uma nova jornada que pode torná-lo um símbolo para uma cidade.
Sinopse:
Asa Noturna está de volta, e sua vontade de manter Blüdhaven segura nunca foi tão forte! Mas sua cidade adotiva elegeu um novo prefeito com o sobrenome Zucco, o nome do assassino de seus pais. Ao investigar o passado do político com a Batgirl, ele desenterra detalhes que irão chocar e alterar para sempre o futuro do herói. Começa aqui a nova fase escrita pelo aclamado roteirista Tom Taylor (DComposição, Injustiça)!
Já fazia muito tempo que tinha me afastado de mensais de super-heróis (com exceção de X-Men) porque minhas últimas experiências não tinham sido muito boas. E esse ano tenho dado sorte de acompanhar algumas histórias bem divertidas. Não sou fã do Batman, não tenho interesse nos quadrinhos do Batman (por ser um cara do scifi e da fantasia acabo preferindo Superman e afins). Sempre me pediam para ler o arco atual do Asa Noturna e deixava para lá ou dizia que só não me interessava. É então quando encontro um volume 1 perdido em uma banca a um preço convidativo e levo para experimentar. Comprei de forma despretensiosa, tentando entender o motivo de tamanha comoção com uma HQ sobre um personagem que acaba não sendo do panteão principal da DC. E que merecia ter mais destaque. Que surpresa agradável. No primeiro capítulo (de seis edições contidas no encadernado), Tom Taylor já tinha me fisgado. A história é envolvente, a arte é um esculacho de boa. Ao final desta primeira edição, rapidamente comprei o segundo volume. Quero mais! Já entrou fácil nas minhas melhores leituras do ano.
Neste início de arco, Dick Grayson resolve voltar para Bludhaven após ter conseguido se recuperar de sua amnésia. Ele ainda está sofrendo os efeitos do ferimento na cabeça, mas sabe que a cidade precisa dele. Ao chegar lá, se depara com uma cidade ainda mais corrupta do que outrora. Dividida entre mafiosos, criminosos com superpoderes e agentes do caos, Bludhaven parece não ter esperanças. Por mais que o Asa Noturna tente fazer a diferença, ele sabe que será um longo caminho. Só que Alfred deixou uma herança para ele após sua morte. Isso pode fazer com que a vida de Dick mude completamente da noite para o dia. Mas, ele vai precisar encarar velhos e novos inimigos. O Arrasa-Quarteirão está de volta é o chefão do crime de Bludhaven. O antigo prefeito acaba sendo morto por ele e uma figura ascendente na política da cidade se torna a prefeita: Melinda Zucco. Sim... daquela família Zucco. Que assassinou os pais de Dick. Ao mesmo tempo, Dick e Bárbara Gordon estão juntos novamente. Será esse o início de um relacionamento mais sério ou será apenas fogo de palha? De todas as maneiras, Dick tem muitos problemas a serem solucionados. Ora... isso não é perfeito para ele?
Tom Taylor recomeça a vida de Dick. Em um cenário já conhecido por ele mas que, com sua ausência, precisa ser redescoberto. O roteiro é simples, porém muito eficiente. Bludhaven foi a casa do Asa Noturna por muitos anos, mas os recentes acontecimentos o mantiveram afastado de lá. Então temos todo um novo elenco de personagens com novos problemas. Ao invés de seguir uma abordagem tradicional, Taylor faz um leve desvio e coloca para o protagonista um novo desafio: adotar uma abordagem mais construtiva do que simplesmente enfrentar bandidos. É genial e combina com a personalidade do personagem. Consigo imaginar o Dick sendo uma pessoa mais da luz do que das trevas. Um dos motivos para ele ter se separado do Bruce foi sua maneira apaixonada de ver a vida. Faz sentido até o arco ter o título de Saltando para a Luz. Porque chegou a hora de abraçar seus objetivos com firmeza. Todo esse primeiro arco serve para introduzir o novo contexto da vida do personagem, com seus próximos adversários, suas dificuldades, seus relacionamentos e suas metas futuras. Nesse ponto, Taylor foi perfeito porque criou um mapa com o que podemos esperar que ele faça com o personagem.
Bruno Redondo é o artista regular da série. E que coisa inacreditável ele está fazendo a cada edição. A única edição que ele divide com outros desenhistas é a 82 com Rick Leonardi e Neil Edwards para cuidar das páginas que empregavam uma arte mais retrô. A arte de Redondo tem muita profundidade e vivacidade. Claro que isso se deve também à escolha de cores feita por Adriano Lucas, mas o artista consegue fazer o personagem voar de verdade. As cenas são plásticas e o fundo das páginas é muito detalhado. O roteiro vai abraçar bastante a ideia de passado, presente e futuro, e Redondo vai incorporar isso nas páginas. Apesar de Dick ter sido o Menino-Prodígio anteriormente e ter tido vários papéis ao longo de sua vida, esse Asa Noturna é uma nova pessoa. É alguém em transformação, e a maneira como Redondo homenageia a história do personagem é lindíssima. Algumas páginas são maravilhosas como a que usei para a vitrine desta postagem que é a silhueta de Dick saltando pelos prédios com o personagem centralizado em frente ao sol. Tem várias destas cenas espalhadas pelas edições e Redondo usa alguns ângulos bastante inusitados.
Seu design de personagens também é magnífico. Preciso fazer uma confissão: que Barbara Gordon lindíssima essa que ele colocou em seu traço. Já tinha visto a Oráculo sendo abordado por artistas sensacionais no passado como o lendário Brian Bolland, mas esta do Redondo está magnífica. Assim como suas versões de vilões como um assustador Arrasa-Quarteirão que parece ser verdadeiramente perigoso. Outro trabalho muito bom feito por Redondo está nas expressões dos personagens. Ele consegue captar bem seus gestos e maneirismos. Através deste domínio ele alterna entre um tom mais sério ou algo mais voltado para o cômico. A melhor maneira de exemplificar essa pegada do Redondo está em uma cena envolvendo o Dick, a Babs e dois policiais em um interrogatório. Tem uma página fascinante com Dick precisando dizer qual era o seu álibi para a noite anterior e ele diz que estava com a Babs. Os policiais querem saber qual é a natureza dos dois. O diálogo todo é impagável, mas a maneira como Redondo potencializa a cena através das expressões dos personagens é bem legal. No fundo, é isso. Redondo e Taylor tem uma química incrível que se traduz nas páginas.
Algo que curti também bastante na arte do Redondo é sua ótima compreensão de cenas de ação. Raras vezes vi alguém tão habilidoso e capaz de entregar cenas coerentes. E ele vai usar uma série de recursos como as linhas cinéticas e o efeito DeLuca (que está bem exemplificado no quadro abaixo). O leitor consegue imaginar as cenas se desdobrando em tempo real. Os movimentos fazem sentido, o posicionamento dos personagens é totalmente verossímil. Tem duas cenas maravilhosas que exemplificam isso. Uma delas se passa durante uma simples perseguição em que Dick precisa pular de um prédio, descer no teto de um ônibus e seguir em frente. Redondo consegue apresentar detalhadamente a cena. Outra boa sequência é de Dick e Tim enfrentando dois supervilões. A cena é muito bem coreografada e Redondo até mais usa o tempo de tela para mostrar como Dick usa de maneiras diferenciadas o seu bastão de combate. Para mim, o Redondo é uma descoberta para narrativas que exijam momentos como esse.
A ideia básica de Tom Taylor é apresentar o Asa Noturna como um solucionador de problemas. Se o Tim Drake é o Batman perfeito, o Damian é o filho do Homem-Morcego e o Jason é o irmão desgarrado, Dick é uma pessoa diferente. E ao longo de todo esse arco, Taylor coloca o personagem como uma versão melhorada do próprio Batman. Alguém que não desce ao lado obscuro de sua personalidade e busca uma outra forma de ajudar as pessoas. Vai além: não é o Asa Noturna necessariamente que pode fazer isso, mas o próprio Dick Grayson. É essa busca de identidade que o autor vai fazendo ao longo dessas seis edições que servem como uma introdução para o seu arco. Porque a história do autor não está em Dick tentando mostrar que não é mais o Robin. Dick sabe que não é mais o Robin. Ele não quer ser comparado mais. Taylor dá identidade ao Asa Noturna. Essa é a história do Asa Noturna e não do ex-parceiro do Batman. Isso fica claro lá pela terceira edição. O Dick que a gente tem aqui é uma pessoa confiável, que estende a mão para as pessoas nas horas de necessidade. E os outros membros da comunidade de super-heróis confiam de olhos fechados nele. Quando lá na frente, Dick decide tomar uma medida drástica para ajudar a sua cidade, nós já estamos familiarizados com o personagem e sua decisão é óbvia.
A narrativa de Taylor tem momentos tensos e divertidos. Uma sequência que realmente me emocionou foi a carta deixada por Alfred a Dick. É ali que o bom e velho mordomo do Batman comenta sua relação quase de pai com Dick e como ele enxerga o futuro dele. Alfred descreve todas as qualidades do personagem e em o quanto ele é diferente do Bruce. Aliás, o velho mordomo é uma figura onipresente (mesmo que morto) em todo este primeiro volume. Ao mesmo tempo em que a história adota um tom emocional, ela tem os seus momentos leves e divertidos do provável casal Dick e Babs. A química entre os dois fervilha nas páginas e não há nenhum problema em os dois se relacionarem a valer. Não quebra o arco do personagem e não há editorial que fique enchendo o saco se os dois vão namorar, casar ou ir para o espaço (Batman do Tom King e seu falso casamento). É essa alternância entre a tensão, a ação, o romance e a diversão que faz a história ser tão fácil de ser lida. Sem mencionar que Taylor não complica demais a história. Ela tem objetivos simples e palpáveis.
Estou bastante curioso com este arco do personagem e Taylor conseguiu me vender bem a sua história. De um personagem no qual ele pode brincar com uma caixa de areia sem entrar nos grandes acontecimentos do universo DC. Eventualmente vão haver os acontecimentos no mundo do Batman que o Dick terá que se envolver, mas Taylor pode ter rédeas livres aqui para fazer o que ele achar melhor. E pelo indicativo dos leitores, seu arco só melhora nas edições seguintes. Estou pagando para ver, mas já fiquei bastante animado. Redondo se mostrou uma revelação para mim, não conhecia o trabalho dele. Fiquei chocado com a qualidade das páginas que ele apresentava. Enfim, Taylor jogou a barra lá para cima.
Ficha Técnica:
Nome: Asa Noturna vol. 1
Autor: Tom Taylor
Artistas: Bruno Redondo, Rick Leonard (n. 82) e Neil Edwards (n. 82)
Arte-Finalistas: Bruno Redondo, Andy Lanning (n. 82) e Scott Hanna (n. 82)
Colorista: Adriano Lucas
Editora: Panini
Tradutor: Rodrigo Oliveira
Número de Páginas: 160
Ano de Publicação: 2022
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