Depois dos acontecimentos de Os Melhores do Mundo, Damian Wayne liberta o demônio Nezha que inicia um plano de vingança contra o Homem-Morcego. E ele contará com a ajuda de seu filho para isso.
Sinopse:
Continuando os eventos de Batman/Superman: O Melhor do Mundo e Guerra das Sombras, pai e filho lutarão em uma das histórias mais arrebatadoras já contadas! No coração da Ilha de Lázaro, o legado demoníaco da linhagem da família al Ghul foi finalmente libertado, e o Demônio Nezha está em busca de sangue. Com Damian nas garras de Nezha e Bruce assombrado pelo retorno de um velho amigo, o Cavaleiro das Trevas e o Menino-Prodígio se enfrentam na batalha do século! O lendário escritor Mark Waid comanda este épico na vida do Cruzado Encapuzado!
Para entender essa HQ, é necessário ter lido as cinco primeiras edições de Batman/Superman - Os Melhores do Mundo. É uma continuação direta de lá. No final desse arco os dois heróis trancam o demônio Nezha na ilha de Lázaro. Alguns anos mais tarde, nos deparamos com Damian que vive um momento emocional ruim. A morte de Alfred durante a luta contra o Bane, fez com que ele se recriminasse pelo ocorrido. Bruce não foi capaz de consolá-lo e o jovem parte em uma viagem de penitência. Ao chegar na ilha de Lázaro, ele participa de um torneio onde acaba libertando Nezha que o possui imediatamente. Nezha liberta todos os sentimentos reprimidos do garoto que o incendeiam e o colocam contra seu pai. A partir daí, o demônio coloca seus planos em ação junto com a Mãe Alma, a mãe de Ra's al-Ghul. Todos os seres com poderes mágicos começam a ser capturados e tem seus poderes retirados para alimentarem um artefato mágico poderoso e dar a Nezha poderes inacreditáveis. Caberá ao Homem-Morcego deter seus planos.
Antes de mais nada, quero explicar porque o número 5 da série (o final) não está aí. Ele precisa ser lido após o one-shot Planeta de Lázaro que irei comentar em outra postagem. Então o epílogo dessa série irei comentar junto com o one-shot.
Mark Waid conseguiu criar o seu próprio puxadinho na DC. O trabalho que ele tem feito ao lado do Dan Mora em Os Melhores do Mundo tem sido fabuloso e a editora percebeu que o autor tem produzido ouro. Então, a DC fez o certo e deixou Waid fazer o que quisesse. Batman vs Robin surge como um spin off do que ele vem fazendo. E está na cara que Waid entende muito bem a mecânica de ser super-herói. Seus roteiros são leves e fáceis de entender, apesar de possuírem múltiplas camadas. Waid é um daqueles autores que bebem da Era de Prata na sua forma de escrita. Ele se adequa bem aos parâmetros atuais, mas possui vários pés nesse formato mais clássico. Por mais que Batman vs Robin seja uma HQ que é derivada de outra coisa, é possível lê-la sozinha. Por incrível que pareça. Claro que quem leu Os Melhores do Mundo e conhece o que aconteceu na fase do Tom King no Batman ou acompanha o Damian em sua HQ vai ser recompensado com easter eggs e informações extras. Mas, a obrigatoriedade acaba aí. É extra. Não é essencial. É possível se divertir se focando apenas na minissérie. O roteiro tem algumas conveniências básicas, mas não é nada que afronte a minha inteligência. Apesar de eu achar Os Melhores do Mundo com um roteiro mais inspirado. Só percebi aquela pegada do Waid de Os Melhores do Mundo nas edições 3 e 4. As duas primeiras são bem desinteressantes, mas talvez seja porque o autor acabou precisando explicar demais as coisas.
A arte do Mahmud Asrar é interessante e combina com o clima obscuro e mágico dessa minissérie. Não chega a ser uma arte que me encante os olhos, mas gosto da sua composição de quadros. Asrar entrega detalhes bem bacanas, principalmente quando ele se vê precisando desenhar interiores. Estes são bem detalhados, onde o artista integra os personagens à cena. Há um emprego forte de sombras e silhuetas nas duas primeiras edições de forma a dar esse ar sombrio e melancólico ao quadrinho. Tem uma cena legal onde Asrar desenha a mansão Wayne à noite e embaixo ele desenha a mesma coisa, mas com trovões estourando atrás dela. Dá um ar agourento ao que vai acontecer. É uma cena clássica de terror que funciona até hoje. Cria antecipação no leitor. Nas duas últimas edições o elemento mágico está mais presente então as cenas precisam ser mais insanas. Acho que é aí que o artista se perde um pouco. Sem falar em que temos Scott Godlewski precisando complementar. Não sei se foram os prazos apertados ou se Godlewski pegou apenas algumas páginas por fazer. Fato é que dá uma certa diferenciação entre as duas artes, mesmo com Godlewski tentando emular razoavelmente a arte de Asrar. A quadrinização é bem padrão, com o uso de quatro a sete quadros por páginas. Temos algumas splash pages espalhadas, mas Asrar não costuma empregá-las com frequência.
No fundo esta série é sobre o Bruce e o Damian. Os acontecimentos do final de Cidade do Bane foram traumáticas para ambos. Alfred era uma figura importante na Bat-família e servia como o contraponto humano nesse mundo estranho de capa e bugigangas. A maneira como a tragédia aconteceu ressoa diferente para pai e filho. Bane quebra o pescoço de Alfred na frente de Damian enquanto Bruce estava longe lidando com outra situação. Para Damian, a sensação foi a de impotência diante de um inimigo poderoso demais e ele nada pôde fazer para impedir. Para Bruce, a sensação foi a de ter chegado tarde demais para salvar a vida daquele que funcionou como um segundo pai para ele. No meio dessa tristeza toda, Bruce, que é um cara que não sabe lidar bem com seus sentimentos, não oferece o carinho e o conforto que seu filho precisava naquele momento. Ambos viveram uma perda e precisavam ter passado por aquilo juntos. Mas, não foi isso o que aconteceu. As feridas se abriram mais e o abismo entre ambos só cresceu.
Waid foi bastante inteligente nessa série. Ele criou o personagem Nezha que na revista de Os Melhores do Mundo era um demônio muito poderoso que possuía uma terrível habilidade de possuir a mente e o corpo das pessoas. Nessa revista, Waid usa uma abordagem quase oriental para contar como Batman e Superman fizeram para deter um inimigo dessa proporção. Nezha é mostrado como um ser mágico, nada mais do que isso. É dado um contexto de que heróis no passado tentaram destruí-lo, mas só conseguiram aprisioná-lo. Em Batman vs Robin, Waid agrega mais à mitologia do personagem associando aos poços de Lázaro. Gostei da ideia, não achei forçada nem nada. Oferece mais camadas ao inimigo e consegue conectá-lo ao universo do Morcego. Alguns detalhes dependem de um pouco de conhecimento prévio para entender a gravidade da coisa, mas nada espetacular. Gostei também do fato de que a minissérie vai ter uma consequência maior para a DC, só não sei se vai ser mais limitado ao que o Waid está criando ou se vai se espalhar mais.
Durante a série Bruce revê bastante sua relação com todos os Robins. Damian é o filho rebelde dele. Tem uma personalidade bem complicada de lidar, mais até do que o Jason Todd. O que acho interessante é que Damian é rebelde no sentido de não aceitar determinadas situações sem questionamento enquanto Todd era apenas insensato mesmo. Mesmo estando possuído por Nezha, o que Damian pontua para o Bruce não deixa de ter lá alguns níveis de verdade. O próprio assume isso. Não sei como isso vai afetar futuramente o personagem, mas é válido pensar que o Morcego, quando começou sua cruzada contra o crime, não se imaginou tendo tantas pessoas as quais cuidar. Sempre pensou em si mesmo como um lobo solitário. Ter um filho como o Damian, que precisa muito ser guiado por ter tido uma criação difícil ao lado da Liga dos Assassinos, impõe novos desafios a ele. E novas reflexões onde ele precisa começar a pensar em si mesmo como um pai e um modelo. Vemos também o quanto ele reluta em seguir em frente após a perda do Alfred. É algo ao qual ele não se perdoou e é algo que fez com que o Damian estivesse nessa situação.
Já o Damian se vê precisando lutar contra seu pai. Me questiono o quanto Nezha teve dificuldades para despertar o lado sombrio do garoto. Porque os sentimentos negativos já estavam ali, quase transbordando para fora dele. A rejeição, a impotência e a culpa criaram raízes em seu coração e o levaram a tomar atitudes imprudentes. No fundo, Damian ama seu pai, mas ele está com raiva de si mesmo e de seu pai por não ter lhe estendido a mão quando precisou. É uma briga simples de pai e filho que leva a duras palavras sendo ditas que machucam um ao outro. Tanto é que quando Porcoso buscou mostrar ao garoto que era possível resistir à possessão e colocou em questão o que aquilo tudo significava para ele, foi o que ele precisava para finalmente chegar às suas próprias conclusões. Outro detalhe é como o Mahmud Asrar desenhou bem a luta dos dois, mostrando detalhe a detalhe quase um balé de golpes e contragolpes. Cena bem feita e bem coreografada, mostrando como o artista entende bem as cenas de ação.
Batman vs Robin é uma boa minissérie, fechada em si. Se o leitor não se interessar em ler Planeta de Lázaro, leia a quinta edição que é totalmente possível. Você pode ignorar o evento (não vai estar perdendo lá muita coisa...) e ver qual foi o impacto emocional para pai e filho. Gostei de como Waid encerrou a série em si mesma, e que deu a possibilidade de que aquele leitor mais conhecedor do universo DC ter algum prêmio por saber mais sobre a mitologia do personagem. Ou seja, é uma HQ que vai agradar aos que estão chegando agora com algo divertido, ou aos mais experientes, com uma mitologia mais profunda e densa. A arte cumpre bem o seu papel e nos entrega alguns bons momentos, apesar de ter aquele estigma de possuir outro artista para precisar fechar a edição. No fim de tudo, curti e recomendo.
Ficha Técnica:
Nome: Batman vs Robin ns. 1 - 4
Autor: Mark Waid
Artistas; Mahmud Asrar e Scott Godlewski
Editora: Panini Comics
Tradutor: Diogo Prado
Número de Páginas: 48 cada
Ano de Publicação: 2023
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