No volume final da série, o combate contra Den e Barjack toma um rumo dramático quando ele ameaça destruir a própria Zalem com uma enorme arma. E Alita precisa acertar as contas com o dr. Desty Nova enquanto tenta descobrir uma razão para viver.
ATENÇÃO: TEM MUITOS SPOILERS!
Sinopse:
Alita é salva por Kaos, mas ainda não está fora de perigo. O plano de Den para destruir Zalem e a Cidade da Sucata é colocado em prática. Muitas emoções, batalhas e revelações no último volume de Battle Angel Alita – Gunnm Hyper Future Vision!
Spoilers dos volumes anteriores! Além de ser o volume final da série!
Bem, gente não vou me segurar muito em relação a spoilers, só não dando muito os dessa edição. Nesse volume, Kishiro amarra as pontas soltas do conflito entre o mundo terrestre e Zalem em uma edição explosiva. Algo que ele vinha maquinando desde o primeiro volume e agora alguns segredos sobre a cidade voadora são revelados. Na outra ponta temos Alita senso salva por Kaos para logo em seguida enfrentar Den, o líder do Barjack. Apesar de Den ter uma personalidade cativante, suas ideias revolucionárias são brutais e levam em conta a destruição de tudo para a construção de algo novo. Mas, e aqueles que não tem nada a ver com o conflito, como ficam? E será que Alita conseguirá encontrar Ido e derrotar o dr. Desty Nova?
O volume 4 da edição da JBC é um volume bem parrudo e possui dois volumes e meio nele, o que não ajuda a dar uma avaliação precisa sobre a arte. Isto acontece porque ela sofre com altos e baixos e este é um momento em que o autor teve inúmeros problemas com a Shueisha que era a editora original do mangá (Kishiro levou depois para a Kodansha). Então já é um autor pressionado e querendo fechar a história o quanto antes. A arte em si tem seus altos e baixos, e nos últimos capítulos ela está arrebatadora. Como já mencionei antes, Kishiro tem uma ótima noção de cenas de ação e consegue prender o leitor por páginas a fio. Estamos falando de um volumão de quase quinhentas páginas que passa brincando por nós. Nessa resenha queria destacar a noção que o autor tem de movimentos de artes marciais. Kishiro deu toda uma personalidade ao panzer kunst, uma técnica marcial que ele criou para uma personagem ciborgue. Existe toda uma filosofia de ataque e defesa na técnica, baseada em giros rápidos. Nesse volume conseguimos ver Alita lutando contra adversários grandes, pequenos, múltiplos. Algumas cenas são lindas em seu terror. Tem um combate da Alita contra uma cópia dela em que as duas personagens fazem movimentos super rápidos e a gente fica sem fôlego acompanhando a cena.
Lembro-me que tinha reclamado de como Kishiro havia construído um universo narrativo muito auto-contido na Cidade da Sucata. Mas, desde o volume 3 que ele ampliou bastante o escopo da história. O leitor conhece melhor como é a formação do mundo que ele tinha pensado e somos capazes até de ver como se dão as relações comerciais, as organizações sociais e como Zalem entra na história. Tem até um mapinha em um dos capítulos deste volume que mostra a localização da Cidade da Sucata (com Zalem flutuando acima) e o posicionamento de todas as factories. Agora me ressinto de que a história passa rápido demais e eu gostaria de ver o autor trabalhando melhor os quatro cantos do mundo. Porque a história tem mais a ser explorada como aquela cidadezinha em ruínas costeira onde o Fogia vive, como entram as mercadorias na Cidade da Sucata e o papel dos traficantes de mercadorias. Como temos o Barjack como uma ameaça real e iminente, tudo acaba sendo destruído.
Começamos este volume com Alita tendo sido resgatada pelo misterioso Kaos, um homem que transmite uma espécie de rádio que pega toda a região próxima. Alita logo descobre que Kaos é filho do dr. Nova e que ele desenvolveu uma afeição irritante por ela. Mas, ele proporciona uma cena engraçada que é ver Alita vestida de noiva, com um vestido feito pelo próprio Kaos. Alita e Koyomi estão no furgão do Kaos quando Den acaba encontrando-os. E o combate inevitável se inicia. Como uma tuned, Alita agora se reporta diretamente a Zalem que a emprega em missões perigosas. Esta tem sido sua vida por dez longos anos desde o desastre do volume passado. Mas, a personagem ainda mantém laços com aqueles que vivem na Cidade da Sucata. Por isso que quando Den diz que vai derrubar Zalem, Alita não pensa em seus chefes, mas naqueles que vivem abaixo da cidade flutuante. É muito mais do que cumprir uma missão, mas o de salvar aqueles que ela ama no fundo do seu coração.
Até o momento, ter se tornado uma agente tuned foi um alívio para a personagem. Ela pôde descontar sua raiva em missões de alta periculosidade e até soltar sua insanidade o suficiente para derrotar seus inimigos. Mas, no fundo, ela sabe que ter se deixado repaginar por Zalem é como ter vendido sua alma. Os empregadores de Alita já sabem do lado incontrolável dela, e eles acabam colocando a alegre Lou para ser a operadora de Alita. Por alguns capítulos somos enganados com a boa (e real) relação divertida entre as duas personagens. Lou consegue fazer reaparecer em Alita o seu lado infantil e birrento. Só que nem tudo são flores e logo Alita vai se dar conta de que os objetivos de Zalem são bem mais inescrupulosos do que ela imagina. Só vai ser interessante em como as pessoas que auxiliaram Alita de Zalem vão reagir. Já vimos o quanto a natureza impetuosa da personagem consegue inspirar o coração de outras pessoas.
A introdução do personagem Kaos na equação gerou uma boa discussão. Kaos tem o poder da psicometria: o dom de saber toda a história de um objeto apenas através do toque. Isso permite a ele até mesmo aprender as habilidades de alguém se ele tocar na pessoa. Kaos é quase como um repositório vivo de conhecimento. Mas, ele escolheu viver em seu furgão ao lado de sua assistente Jasmin apenas gravando mensagens de auto-ajuda e apoio moral aos outros, mantendo uma espécie de neutralidade tácita. No entanto, o mundo tem o poder de nos dar um tapa na cara e nos devolver à realidade quando menos esperamos. Não é possível ficar em cima do muro por muito tempo, ainda mais quando se é aliado de Den e filho do dr. Nova. O quanto Kaos está disposto a comprometer sua própria segurança em busca de um ideal? Até onde vimos, o personagem é mais um bobo idealista que só pensa em viver uma existência fútil longe de conflitos. Mas, seu contato com Alita despertará desejos que ele não sabia que possuía.
Outro ponto levantado nesta última edição é a teoria do carma que o dr. Nova menciona em algumas oportunidades. Na mitologia hindu o carma é toda ação seja ela boa ou má gera uma reação em igual intensidade àquele que gerou em primeiro lugar. Acredito que Nova não acredite na ordenação proporcionada por Zalem. É uma desigualdade social direcionada para gerar benesses e evolução apenas a uma pequena parte da humanidade. É como se fosse uma enorme máquina detentora de múltiplas engrenagens. Uma abordagem fordista sobre a própria humanidade. Nova acredita em vencer o carma. Para isso ele gera o caos. Suas ações podem ser boas ou ruins, depende do ponto de vista de quem vê. Em uma primeira análise a sua insanidade é algo terrível, mas pensem no que ele já fez: forneceu os meios para que Alita derrotasse Zapan, ressuscitou o Ido tornando-o até mais jovem do que ele era e restaurou o corpo de Alita quando esta se encontrava em frangalhos. Seus meios são completamente questionáveis e ele é totalmente uma wild card.
Por falar em carma, isso vale bastante para Alita. Aliás, descobrimos que o verdadeiro nome de Alita é Youko e vou ficar só nisso. Nessa edição tem mais alguns detalhes sobre de onde ela veio. Muitas coisas ficaram em aberto para que Kishiro possa explorar posteriormente. Só que uma coisa que fica clara é que Alita acredita que tudo o que tem acontecido a ela de triste e terrível é uma forma para que ela expie seus pecados que ela cometeu como Youko. Ela até chega a aceitar essa condição de forma tácita, o que irrita Nova. Quando ele se refere a vencer o carma, ele também se refere ao destino da própria Alita. Não adianta se apegar apenas ao passado para justificar as tragédias do presente. É preciso encontrar forças para seguir adiante com sua vida e estabelecer novos laços.
Esta é uma edição explosiva em revelações só que me incomodou um pouco a velocidade com que elas são passadas. A impressão que temos é que Kishiro tinha várias ideias e decidiu terminar antes a série. Muitas coisas ficaram em aberto, apesar do final lindíssimo que ele cria para todo esse confronto com Zalem. Usar a imagem que ele usou significa também o conceito de renovação, uma ferramenta para iniciar uma nova era. A arte tem seus altos e baixos e a narrativa em si deixa muito em aberto sendo que não temos uma sinalização de que a série continuaria (hoje sabemos que ela continua). No mais, fico com vontade de saber onde mais veremos a jornada de Alita e se ela encontrará a verdadeira paz.
Ficha Técnica:
Nome: Battle Angel Alita vol. 4
Autor: Yukito Kishiro
Editora: JBC
Tradutor: Arnaldo Masato Oka
Número de Páginas: 584
Ano de Publicação: 2018
Outros Volumes:
Vol. 3
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