Grant McKay consegue desenvolver o Pilar, uma tecnologia que o permite explorar diferentes universos. Com uma equipe formada por ele, alguns cientista, um segurança, o dono da empresa e seus dois filhos eles saem em uma missão que parecia tranquila. Parecia...
Sinopse:
Grant McKay, líder da Liga Anarquista de Cientistas, finalmente realizou o impossível: ele decifrou a Ciência Sombria e abriu caminho através das barreiras da realidade com a sua criação, o Pilar. Mas algo deu errado, e agora Grant e a sua equipe estão perdidos, perambulando pela vastidão sem limites do Sempreverso, fantasmas vivos naufragados em um oceano infinito de mundos alienígenas. O único caminho é adiante. A única pergunta é: quão longe eles estão dispostos a ir para voltar para casa? Junte-se ao escritor Rick Remender (Fabulosa X-Force, Vingadores Secretos) e aos fantásticos artistas Matteo Scalera (Vingadores Secretos, O Indestrutível Hulk) e Dean White (Fabulosa X-Force, Kick-Ass) em uma alucinante aventura de ficção científica sem limites para a imaginação, repleta de horrores incompreensíveis e descobertas sem fim.
Sou alguém que gosta de ficção científica. Daquelas interessantes, provocativas, inteligentes. Que nos instigam a imaginar realidades estranhas e possibilidades malucas. Parando para pensar um pouco, Black Science teria tudo o que eu gosto em uma HQ. Só que não sei explicar o motivo, a narrativa da equipe de dimensionautas de Remender não conseguiu me cativar. Me via o tempo todo contando as páginas para ver em que momento a história iria acabar. Não é que a narrativa seja ruim, mas ela não clicou para mim. Achei tudo confuso e esquisito, e acho que essa era a ideia do Remender. Só que narrativas que fazem você ficar confuso precisam de ao menos um fio de ordem para onde a gente se agarrar. Ao final, não fui capaz de compreender aonde o autor queria chegar. E isso é ruim para um primeiro volume.
Grant McKay faz parte de Liga Anarquista de Cientista, um grupo de pesquisadores que procuram encontrar altas soluções para os problemas da humanidade se envolvendo em pesquisas perigosas. Eles são financiados por um inescrupuloso empresário chamado Kadir. Seu último projeto consistia na criação de um dispositivo chamado de o Pilar, uma tecnologia que permite romper o tecido que separa diferentes universos. O objetivo é encontrar novas soluções para os problemas que existem no planeta: buscar novos tipos de combustíveis, tecnologia espacial, a cura para doenças. Na mente de Grant algum universo já pensou nos problemas que existem na nossa realidade e já os resolveu. Com uma equipe formada por alguns colegas cientistas, dois seguranças, Kadir e os dois filhos de Grant, todos acreditam que a viagem vai ser tranquila e eles vão conseguir ver coisas inacreditáveis. Das duas afirmações, apenas uma estava correta. O equipamento do Pilar é sabotado e agora eles não são capazes mais de controlar os saltos pelas diferentes realidades. Agora eles precisam sobreviver em ambientes que podem ser amistosos ou hostis; eles só não conseguem definir qual é qual.
Esse primeiro volume é uma longa sequência de ação que se estende do começo ao fim do volume. O leitor mal tem tempo de respirar. Até é legal que Remender nos coloca no meio da ação. A primeira página já começa nos colocando no meio da confusão, sem nos explicar nada. Aos poucos vamos pegando o que realmente aconteceu e alguns flashbacks vão preenchendo as lacunas. Lá pelo terceiro ou quarto capítulo o leitor já está mais familiarizado com tudo. Temos um momento de respiro lá pela metade desse volume onde podemos acompanhar as consequências de toda a insanidade do começo. Mas, a sensação de um roteiro que sobrepõe histórias uma em cima da outra permanece e o meu nível de confusão também. O roteiro não é ruim, só o achei apressado demais. Parece que o autor tinha várias ideias e colocou todas elas em um caldeirão e misturou tudo. Desse caldeirão, ele tentou colocar tudo em um prato só. Como não temos esse respiro, ficamos sufocados com a quantidade de informação que nos é entregue de uma só vez. Faltou dar uma desacelerada para que pudéssemos absorver tudo e avançarmos junto com a história.
A arte do Scalera também me causou a mesma impressão e não me agradou. Acompanhei o trabalho da dupla em X-Force e ela me parecia mais clara e atrativa. Aqui, a impressão de algo convoluto permanece. Tem uma explosão de informações espalhadas pelo cenário. O olhar do leitor fica perdido porque não há um foco propriamente dito. É possível criar uma cena com uma profusão de informações desde que haja, novamente, um fio condutor, algo que ligue todos os elementos com coesão. Não foi o que aconteceu. Para completar, Scalera não é um artista que produza uma arte mais sólida, se destacando pelas suas linhas dinâmicas e voltadas para altos conceitos. Coisa que ele consegue entregar em alguns momentos. Tem quer ser muito criativo para bolar um mundo onde sapos mutantes azulados que soltam trovões azuis da boca habitam pirâmides voadoras que atacam outros seres aquáticos que parecem com lagartos amarelos. Boooooommmm... nossa mente explodiu. Parece legal, não? Sim, e é. Só que todo o resto da narrativa sofre com um roteiro que acho que o artista não compreendeu totalmente e não foi capaz de colocar isso na página. Gostei demais também de algumas splash pages bem insanas que ele espalha em algumas edições. Mas, faltou algo.
O protagonista não é o seu herói perfeito. Longe disso. É um personagem repleto de problemas de auto-afirmação, adultério e uso de drogas. Descobrimos logo no primeiro capítulo que, apesar de ele ter uma mulher e dois filhos, Grant não se importa de ter um caso com uma das cientistas. Dar uma escapadinha dentro do laboratório e uns amassos com ela e depois voltar para casa e agir como um marido normal. E prometendo à sua amante, falsamente, que iria se separar da esposa para ficar com ela. Refletindo sobre a própria índole do personagem apresentada aqui, não é possível acreditar nisso. É só mais uma desculpa para uma nova transa no dia seguinte. Além disso, o protagonista é usuário de entorpecentes, afinal nada como ficar legal depois de dar uma tragada. Um comportamento reprovável que Grant reforça com um sorriso besta de que tudo vai ficar bem. O personagem me irritava (no bom sentido de desenvolvimento de personagem) toda vez que as coisas ficavam de pernas para o ar e ele tentava remediar e desviar o assunto. Tudo com um sorriso besta na cara. Apesar de ter tido um sabotador no projeto, não acho que a pesquisa Black Science teria dado certo mesmo em circunstâncias normais.
A narrativa parece um episódio da série Perdidos no Espaço. E provavelmente foi a inspiração para Remender. Os personagens caem de mundo em mundo, sem controle e precisando se adaptar à realidade na qual eles estão. E precisam esperar até que o Pilar recarregue e os faça saltar novamente. Se torna uma espécie de corrida maluca para sobreviver. Começamos também a entender como funcionam as realidades paralelas na história e pouco a pouco desconfiamos de qual será o futuro da série. Uma coisa que eu gostei bastante na narrativa é que ela é imprevisível. Remender não fica tímido de descartar personagens ao vento. Ninguém está seguro. E descobrimos isso com força no final deste primeiro volume. Com a série sendo sobre realidades paralelas, o autor pode se permitir usar algumas soluções bizarras para conter esse problema. Não quero contar muito sobre a natureza desse Eververse e deixo para comentar sobre os desdobramentos desse primeiro volume na resenha do segundo.
O grupo é completamente disfuncional. Se Grant é uma bomba relógio, os demais personagens não ficam para trás. A amante de Grant, Rebecca, está cuidando dos filhos dele, Pia e Nate. E eles a entendem como se fosse mais uma cientista, companheira de seu pai no meio de um projeto ousado. Temos Shawn, um ingênuo cientista que tem o otimismo e a inventividade como suas principais qualidades. Ward é um dos seguranças do grupo, alguém que passou por maus bocados em sua vida, e Grant estendeu a mão. Desde então, Ward vê um amigo na figura do protagonista e fará de tudo para protegê-lo. Tem a doce Jen, que faz parte do grupo de reconhecimento. Alguém que está animada para conhecer e entender as diferentes possibilidades presentes nestes diferentes universos. E Kadir, o empresário que financiou todo o projeto. Alguém que está louco para se livrar de Grant e tomar todo o crédito de ter inventado algo revolucionário para si. A gente percebe desde o primeiro momento que esse grupo vai se desintegrar a qualquer momento. São muitas situações conflitantes, e pessoas com segundas intenções. O fato de Grant perceber logo de cara que alguém sabotou o equipamento faz com que todos desconfiem um do outro. Esse clima vai permear todo esse primeiro volume, principalmente com a relação extraconjugal de Grant e Becca pairando no fundo.
Esse é um primeiro volume bastante confuso e que não conseguiu manter a minha atenção. Acredito que a série tenha bastante potencial e vou acompanhar os próximos para me decidir se continuo ou não. A arte é mediana, mas o roteiro acabou prejudicando o que Scalera poderia fazer. A criatividade na construção das diversas realidades paralelas é sensacional e estou querendo ver que insanidades vão vir nos próximos arcos. Fica também os meus elogios à ousadia de Remender em não se importar muito com o que ele vai fazer com os personagens. Ele faz e pronto. Recomendo dar uma chance e se as altas ideias do autor agradarem vocês a continuarem na jornada.
Ficha Técnica:
Nome: Black Science vol. 1 - Como cair para sempre
Autor: Rick Remender
Artista: Matteo Scalera
Arte Pintada: Dean White
Editora: Devir
Tradutor: não informado
Número de Páginas: 176
Ano de Publicação: 2019
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