Em um Brasil situado no futuro um grupo de pessoas tenta conseguir um tesouro incrível a mando de um chefe do crime. Rodrigo Assis Mesquita ressignifica a ideia do que é o gênero cyberpunk nesse incrível conto.
Nos últimos tempos eu venho gostado de ler uma série de histórias publicadas por uma nova geração de autores nacionais que vem mostrado que podem fazer a diferença. Sou fã do Lauro Kociuba e do Eric Novello, e inclui no meu Kindle uma série de histórias de autores como o Rodrigo Mesquita. Depois de ler Guerra Justa do Carlos Orsi e Brasil Cyberpunk 2115, cheguei à conclusão de que os autores nacionais entenderam melhor o conceito de literatura cyberpunk melhor do que muitos autores estrangeiros.
Hel é uma hacker que mora no que restou da antiga São Paulo. Uma cidade agora formada por grandes corporações e pessoas que cada vez mais caminham para uma fusão com máquinas. Cauã, amigo de Hel, procura sua amiga para lhe ajudar em uma missão difícil. Ele foi contatado pelo estranho Lobo para recuperar alguns itens importantes para um benfeitor conhecido como o Homem de Terno. Mas, Hel verá que mesmo uma missão simples pode se complicar de uma hora para outra.
A ambientação cyberpunk foi criada para, de certa forma, fazer uma critica social sobre um futuro não tão distante. Obras como Neuromancer e Snowcrash nos apresentam realidades crueis e objetivas onde as grandes empresas tomaram o lugar dos governos. Em Brasil Cyberpunk não é diferente. Gostei muito da maneira como Rodrigo fez com que o leitor fosse imerso em uma ambientação que, apesar de familiar, não é nem um pouco familiar. Achei que o autor poderia ter trabalhado mais na ambientação, mas como o livro acabou ficando no tamanho de um conto, não houve essa possibilidade. Em muitos aspectos, eu percebi que o autor estava testando as águas. Brasil Cyberpunk acabou sendo uma obra fantástica em uma ambientação que não pretendia ser pretensiosa, mas acabou apresentando muito mais para o leitor atento.
Um elemento importante em obras cyberpunk são as referências à cultura pop. É a maneira que o autor desse gênero tem para mostrar ao leitor que a distância da obra em relação à realidade do leitor não é tão grande assim. Já comentei o meu descontentamento com a forma como William Gibson tratou isso em Neuromancer e como Carlos Orsi foi muito feliz em sua história. É tudo questão de equilíbrio: nada em excesso é algo positivo. Para mim, as referências apresentadas por Rodrigo Assis ficaram ótimas. Nada em excesso e toda vez que foram apresentadas, sempre foi com bom humor. O próprio elemento principal de enredo é uma referência pop... e apresentada de uma maneira surpreendente. Quando o leitor percebe o que está acontecendo de verdade, ele toma uma rasteira. Me recordo de ter gargalhado quando cheguei ao ponto de revelação do plot.
Essa é uma das melhores marcas do enredo: o humor leve. Rodrigo preenche as páginas com este bom humor. Mesmo em situações perigosas, os personagens sempre fazem uma tirada marcante. Me senti em um filme de ação do Stallone durante a cena do restaurante. Sem dúvida alguma o autor foi muito feliz ao adotar este tom. Cyberpunk não significa que o autor tem que escrever um futuro sombrio com personagens baixo astral. Por exemplo, como não rir quando Wellington diz aonde encontrou a arma durante a briga no restaurante?
Os personagens não são tão bem desenvolvidos muito por caso do espaço necessário. É dada uma profundidade maior à história de Hel e pelo que eu pude perceber o autor pretende revisitar a ambientação em um futuro próximo. São deixados alguns ganchos, mas a história se fecha por si só. Ela não depende de outras sequências. Não tenho como falar a respeito dos demais personagens porque não houve tempo para nos relacionarmos melhor com eles. Talvez com Hel e Cauã o leitor consiga estabelecer mais vínculos.
Brasil Cyberpunk é uma leitura rápida e extremamente agradável. Sofre de alguns problemas, mas como me referi antes, acho que o autor não imaginou que a obra fosse ter um feedback tão positivo. A ambientação é interessante e deixa o leitor com vontade de querer conhecer mais. Se o objetivo do Rodrigo Assis era despertar o interesse do leitor, ele certamente despertou o meu.
Ficha Técnica:
Nome: Brasil Cyberpunk 2115 - Você Não Pode Ter Tudo o que Quer
Autor: Rodrigo Assis Mesquita
Editora: Auto-Publicado
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 45
Ano de Publicação: 2015
Avaliação:
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