Dois prisioneiros condenados à morte trocam cartas. Nelas, eles trocam confidências sobre seus assassinatos. Neste relato perturbador, vamos nos embrenhar nos labirintos da mente destes criminosos.
Sinopse:
Dois serial killers no corredor da morte trocam cartas reveladoras sobre como praticaram seus crimes e como funcionam suas mentes doentias. O laço de cumplicidade entre eles se intensifica quando ambos planejam, mesmo trancafiados, uma nova e espetacular morte.
Cartas no corredor da morte é um livro epistolar escrito por Cláudia Lemes e Paula Febbe e violento tal qual a mente de assassinos em série. Nele, as autoras constroem e apresentam as lógicas distorcidas de criminosos que banalizam a vida humana em busca de uma falsa racionalidade.
A mente de um criminoso é tortuosa e repleta de concepções que não conseguimos entender. Sem dúvida alguma, eles não representam a normalidade do status quo. Eles entendem a realidade e a relação com as pessoas por um outro viés. O que para nós é abominável, para eles é justificável. Isso não os torna alienígenas, apenas pessoas que se libertaram do mundano e chegaram a um nível que os torna impróprios para conviver em sociedade. Gurniak e Love representam dois homens em um outro estado mental.
Aliás, antes de começar, fica o meu aviso para o leitor: se você tem gatilhos relacionados a estupro ou situações violentas, não leia. É um livro forte que vai apresentar situações que envolvem sexo, sangue, violência. Se você também não estiver no momento psicológico adequado, também fica a minha sugestão de não encarar a leitura. Eu curti muito a escrita das autoras, e elas tem uma ótima visão sobre a psiquê de criminosos.
A trama de Cartas no Corredor da Morte é bem simples e fácil de entender. São dois homens se abrindo um para o outro a respeito das suas experiências. São criminosos com mentalidades diferenciadas: Love possui uma mente liberta de pudores e suas experiências sexuais revelam um pouco desse lado; Gurniak é um homem em uma missão de "purificação". Enquanto que Love é um hedonista, Gurniak sai em busca de padrões para as coisas. Para ocorrer a salvação é preciso seguir um plano. E este plano envolve mortes e mutilações. Na mentalidade dele, é tudo em prol de um objetivo maior. A paranoia do personagem é tão forte que ele se coloca no papel de um messias salvador, que a partir de sua automutilação (um sacrifício necessário) ele se coloca a serviço de forças superiores. Para ele, o mundo se encontra em decadência e cabe a ele cumprir esse propósito. Em sua mente tortuosa, sua irmã Sophie é tudo o que existe de puro na humanidade. Não vou estragar a surpresa dos leitores, mas basta saber que Sophie funciona como uma figura angélica para a podridão transparente de Gurniak.
Já Johnny Love é fruto de suas experiências ao longo da vida. Tendo sido estuprado cedo em sua vida, o personagem desenvolve uma visão aberta sobre sua sexualidade. Provavelmente ele não desenvolveu os diques que a sociedade coloca em nossos egos, nos impedindo de sermos totalmente livres com nossa sexualidade. Sua visão sobre seu corpo e como ele deve usá-lo é agressiva para nosso olhar repleto das concepções pudoradas de nossa sociedade. Mas, para ele, sua libertinagem é um ataque de volta ao mundo que o marcou. Uma coisa que teria sido interessante na visão de Love seria se as autoras tivessem focado mais nessa relação que ele teve com os frequentadores do sex shop. Sem dúvida alguma foi um momento marcante na vida do personagem. Representou uma transformação ao ver como o homem é hipócrita e contraditório em seu discurso.
A história tem duas partes (não vou dar os nomes delas porque tenho receio de dar spoiler). A gente vê a relação entre os dois personagens surgindo de duas formas. Na primeira parte a relação é de Love sendo um homem submisso às vontades de Gurniak. A idolatria de Love por Gurniak o coloca de uma forma em que o personagem quer saber como funcionam os meandros da mente do outro. Em determinado momento, o personagem quase perde o contato com o outro ao tê-lo desagradado. Mas, pouco a pouco vemos essa relação se invertendo drasticamente. Na segunda parte é o contrário. É Gurniak quem precisa de Love por conta de alguns desdobramentos que acontecem na narrativa. E a forma como essa hierarquia funciona é que vai nos encaminhar em direção ao final.
A escrita das autoras é sensacional. Pelo que eu entendi, cada uma incorporou um dos personagens. O engraçado: como eu já tinha lido um ebook da Cláudia Lemes, eu logo imaginei que Love fosse a parte da autora. Sim, elas escreveram cartas uma para a outra, e foram essas cartas que compõem a narrativa do livro. Logo, a escrita é feita de forma epistolar. Mas, tudo foi feito de uma maneira tão orgânica que esse é um daqueles livros que lemos em uma única sentada, tamanha a velocidade imposta pelas autoras. As palavras empregadas por ambas são muito bem encadeadas e o leitor consegue facilmente se envolver na narrativa. Podemos dizer que a história começa bem tranquila e aos poucos as autoras vão impondo o seu estilo. Passamos do hediondo até o grotesco em pouco tempo. E o melhor é que isso tudo funciona de forma natural para elas. Não há uma forçação de barra para iniciar um trecho mais violento. Nada disso. Os personagens enxergam a violência e a morte como coisas corriqueiras. Por essa razão eles conseguem transformar coisas comuns em ataques severos a uma pessoa.
Fica também os meus parabéns à edição da Monomito Editorial que possui uma diagramação muito boa, fontes grandes. A revisão do texto está excelente. Não me recordo de ter encontrado erros de revisão (se teve, devem ter sido bem poucos mesmo). Essa é uma daquelas narrativas que o leitor precisa ir preparado: não é uma narrativa tranquila, com bastante tensão em alguns momentos. Mas, também mostra a qualidade da escrita tanto da Cláudia como da Paula ao fazer o leitor se importar e se envolver com estes personagens.
Ficha Técnica:
Nome: Cartas no Corredor da Morte
Autoras: Cláudia Lemes e Paula Febbe
Editora: Monomito Editorial
Gênero: Thriller/Suspense
Número de Páginas: 128
Ano de Publicação: 2019
*Material enviado em parceria com a editora Monomito
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