Voltando à busca de dragões para poder tocar a vida, o Quin Zaza se depara com um grupo de dragões migratórios. E durante a tentativa de pegar um, Takita acaba caindo da nave junto de um dragão. Ela vai parar em um vale onde irá conhecer mais sobre os seus estranhos hábitos.
Sinopse:
O caça-dragões Quin Zaza que navega os céus se depara com um bando de dragões pequenos migratórios. Mas durante a caçada, a novata Takita acaba caindo para fora da nave e ao acordar no fundo de um vale, percebe que um dragão bebê que se perdeu do bando está ao seu lado. À medida que passam o tempo juntos, vai se formando uma relação carinhosa entre Takita e o dragão bebê... Mas também ela aprende a realidade cruel da natureza ecológica dos dragões.
Nessa terceira edição, o Quin Zaza se depara com um raro fenômeno conhecido como corredor de dragões: um grupo de dragões migratórios que se mesclam quase como se fossem uma única criatura. Todos pensam se tratar de uma oportunidade única para capturar alguns dragões e conseguir um bom lucro. Só que o que parecia simples rapidamente se torna uma tragédia quando durante a caçada, Takita acaba sendo arrastada por um dragão e caindo da aeronave junto com ele. Para sorte de Takita, ela cai em um vale onde faz amizade com uma jovem caçadora chamada Aescher. Lá ela vai conhecer alguns comportamentos dos dragões e viver uma perigosa aventura no monte Kin. Isso enquanto seus amigos estão preocupados imaginando se sua companheira estaria ou não viva.
A arte do Taku Kuwabara melhorou um pouco nessa edição. Ele continua a insistir em paisagens amplas e splash pages e embora alguns deles até sejam bons, o resultado continua a ser bem abaixo do que se imagina. Ele emprega alguns truques que desviam o olhar do leitor e ajudam a esconder os problemas: hachuras com linhas mais próximas umas das outras produzindo um efeito de homogeneidade, uma preocupação maior com escala e perspectiva e o emprego do cinza como uma terceira cor que proporciona algumas brincadeiras visuais interessantes. Contudo, os personagens continuam com expressões genéricas demais, modelos corporais muito semelhantes e a falta de detalhamento no fundo que é irritante. E me espanta porque ele parece ser um artista talentoso. Por exemplo, ele consegue criar alguns modelos de dragões bem estranhos (se é que posso chamar essas coisas de dragões) com bicos, pseudópodos, várias caudas, bocas que se abrem de formas bem bizarras. Ou até como ele curte desenhar o céu e o horizonte com bastante competência até. Se ele usasse essa habilidade em situações mais básicas, o mangá seria acima da média. Mas, admito que a arte melhorou em relação aos volumes anteriores.
Já mencionei o quanto a temática de caça aos animais e a semelhança com a caça de baleias me incomoda, então não voltarei a esse assunto. Só o quanto me deixa rabugento na hora de falar sobre a narrativa. E ele volta a empregar um tropo comum a histórias de caçadores ou sobre caçadores que é a cadeia alimentar. Antes de mais nada, caçadores que adotam práticas antigas sabem que todo animal caçado deve ser comido. Isso remonta às comunidades mais primitivas da Antiguidade. Não se caçava por esporte, mas como uma forma de sobrevivência. Claro que no mangá isso chega até a ser meio contraditório já que a tripulação da Quin Zaza assim como os outros caçadores de dragões o fazem por dinheiro. Não há nenhuma honra nisso. Em vários momentos da narrativa, o autor tenta pintar uma imagem honorífica do que os seus personagens fazem, mas isso acaba não colando diante do simples fato de eles caçarem, degolarem, defumarem e tirarem óleo dos bichos por dinheiro. Aliás, há todo um preparo da tripulação para a caçada e eles seguem realmente as atitudes de pescadores de mares profundos. Quem for fã do mangá, recomendo que assistam Pesca Selvagem, que mostra o cotidiano dessa profissão. Várias situações apresentadas por Taku Kuwabara estão lá (até a do personagem que cai do barco).
Takita conhece um pequeno dragão a quem ela se afeiçoa. E aí se desenvolve uma bonita amizade. Ela é levada por Aescher a uma vila no interior do monte Kin onde ela consegue abrigo. Daí vemos um pouco da fauna terrestre desse mundo e até o motivo pelo qual os dragões não descem para a terra. Vimos também como funcionam as relações entre os dragões, com predadores e presas. Takita fica surpresa porque ela tem a impressão daquela que está caçando. Ela só enxerga as criaturas como alvos a serem lancetados. Só que nessa edição ela se depara com uma estranha complexidade em seu modo de vida, as diferenças inerentes entre eles e até o fato de que existe a possibilidade de convivência e coexistência. Isso é tudo lindo até um momento em que ela fala para o bebê dragão que ela tinha acabado de devolver ao seu grupo depois de vários capítulos de muito esforço para mantê-lo vivo: "Olha, quando você crescer, volta aqui para eu poder te caçar." Sério? Ela desenvolve um elo fofinho com o dragãozinho para depois falar que vai matar e comer ele?
O quarto volume começa com um acidente ocorrido com a Quin Zaza. Enquanto eles estão saindo do monte Kin, uma enorme aeronave se choca, causando enormes danos que exigem um conserto bem caro. Vanny embarca na nave responsável por causar o acidente e conhece Bruno, um personagem exótico que é um aficcionado por pesquisar e desenhar dragões. Ele deseja saber todos os detalhes sobre esses fabulosos animais e quando descobre os contatos que a tripulação da nave teve, sua curiosidade aumenta. Principalmente com os dotes artísticos de Gaga. Os outros membros do grupo tentam fazer os reparos, mas acabam esbarrando na impossibilidade de pagar, o que pode levar o bando a se separar. É então que eles chegam na cidade de Luza que acaba de fazer uma requisição de caça. Um terrível dragão com a fama de ser um devorador de naves está atacando todas nas imediações. A recompensa pela sua morte é enorme.
Queria comentar um pouco do emprego do cinza nas últimas edições. O autor passou a usar com mais contundência esse recurso para ajudar a compor algumas cenas. A gente vê que ele tenta criar novos detalhes e diferenciações de cores seja nos uniformes, nas casas ou até em objetos espalhados pelo cenário. Fornece uma riqueza maior e atende, em parte, àquela ausência de detalhes que mencionei antes. Mas o cinza também ajuda a fortalecer os espaços sombreados pintados pelo autor. O autor tem se esforçado para apresentar cenários variados como a floresta e as montanhas desta edição e mais para o final um belo cenário de cachoeiras. O que me incomoda é a falta de detalhamento. Por que criar uma splash page de um cenário trabalhado de forma incompleta? Acho arriscado demais se formos comparar a arte do Kuwabara com a de outros como Taniguchi ou até mesmo o Oda (autor de One Piece). Esse último, mesmo produzindo em massa, consegue entregar cenários ricos em detalhes e inspirações as mais variadas.
Dois grandes temas circundam esta edição. A aparição de Bruno nos faz pensar na imagem do pesquisador-observador. Não sei se a intenção foi essa, mas o personagem me faz pensar nas viagens de Charles Darwin a bordo do Beagle. Tudo o que Darwin queria era pesquisar o maior número possível de pássaros para poder escrever seu livro. E ele criou toda uma teoria sobre a evolução das espécies. Não digo que seja isso o que vai acontecer ao Bruno, mas mais pensando na visão de alguém que possui um pensamento de vanguarda dentro de uma sociedade que ruma em outra corrente. Vanney se impressiona com o jeito obsessivo do pesquisador e não sabe bem o que pensar dele. Em um primeiro momento, sua impressão é a de um idiota arrogante, mas isso vai mudando à medida em que ela se familiariza melhor com o que ele pretende. E isso se liga ao questionamento do próprio papel do caçador de dragões e se essas criaturas são ou não passíveis de serem destruídas pelo homem. O problema é a criatura que é grande e destrutiva demais ou o homem que é invasivo demais?
A questão está posta e achei intrigante... até vir os vícios da temática de caçar dragões. E é divertido comer, aniquilar, destruir, destroçar, seccionar dragões. O sorrisinho maroto do personagem que quer tacar o bicho na panela. Aí o autor me perde.
O segundo grande tema desta edição é o destino de cada membro da tripulação do Quin Zaza. O que os motivou a fazer parte da tripulação e se eles se veem naquele lugar por muitos anos. Afinal, como vimos na terceira edição, esta não é uma profissão simples e acidentes podem e vão acontecer. Embora tudo tenha corrido bem com Takita, e se ela tivesse morrido de verdade? É óbvio que todos eles se fazem esse questionamento. Quando uma oportunidade para uma vida melhor surge para um dos tripulantes, Vanney é a que mais fica mexida. Ela continua a ser o elemento mais misterioso do grupo e a maneira como ela e Mika são contrastante ajuda a criar um grau de profundidade maior para a trama. Não dá para dizer muito para onde a história vai nesse pequeno drama que acontece no fundo porque este volume termina em um momento-chave. Vale dizer até que esta é uma edição bastante focada na Vanney, o que para mim me agradou bastante ao distribuir um pouco mais o espaço em cena.
A história prossegue bem e o autor começa a criar mais alguns elementos para reforçar sua construção de mundo. Ao variar mais os cenários, o autor se vê obrigado a criar quadros mais impactante e diferentes. A inserção do cinza ajuda a dar mais ênfase em ferramentas como a escala e a perspectiva. O emprego de splash pages e cenas de página inteira acaba por expor os pontos fracos de sua arte. O desenvolvimento de personagens é fascinante tanto na terceira como na quarta edição. Se a terceira é mais focada na Takita, a quarta é voltada para a exploração dos sentimentos da Vanney. E a jornada prossegue.
Ficha Técnica:
Nome: Caçando Dragões vols. 3 e 4
Autor: Taku Kuwabara
Editora: Panini Comics
Tradutora: Dirce Miyamura
Número de Páginas: 208 e 192
Ano de Publicação: 2020
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