Arnie Cunningham é um garoto que sofre muito bullying na escola. Seu único amigo é Dennis Guilder. Um dia enquanto ambos estão voltando para casa, Arnie se apaixona por um Plymouth Fury antigo. Mesmo com as reservas de Dennis, Arnie compra o carro. E é aí que tudo começa a dar errado.
Sinopse:
Arnie Cunnigham era um fracassado. Cheio de espinhas, magrelo e desajeitado com as garotas, o garoto passava os dias pelos corredores da escola, tentando fugir da gozação dos colegas. Isso até Christine entrar em sua vida. Foi amor à primeira vista. Desde então, o mundo passou a fazer sentido. Tudo o que Arnie queria era ficar perto de Christine. Mas não espere um novo Romeu e Julieta, afinal, estamos falando de Stephen King. Christine é um carro. Um Plymouth Fury 1958. Um feitiço sobre rodas que se apodera de Arnie e o transforma. Há algo poderosamente maligno solto pelas estradas de Libertyville. Uma força sobrenatural que vai deixando um rastro de sangue por onde passa.
Christine é um dos melhores romances de terror escritos por Stephen King. A década de 1980 foi um período muito prolífico para o autor. Sua maestria em construir personagens certamente surgiu neste período. Mesmo propondo uma história bizarra, o encaminhamento do enredo ocorre mais a partir de um estudo de personagens. Os elementos sobrenaturais somente são inseridos na história mais veementemente na última parte.
Dennis Guilder e Arnie Cunningham são amigos de infância. Arnie é aquele tipo de aluno que sofre bullying por ser diferente dos demais. Um rosto repleto de espinhas, uma postura introvertida e um estranho interesse por xadrez e carros. Dennis sempre agiu como um protetor e um parceiro de Arnie contra os alunos da escola. Em uma tarde de diversão entre os dois amigos, Arnie se interessa em um estranho Plymouth Fury que atrai a atenção dele. Um carro feio e decadente aos olhos de Dennis que acaba sendo comprado por Arnie. Seu antigo dono, o rabugento Roland D. LeBay parece ser uma pessoa horrível. Logo que entra no carro junto com Arnie, Dennis percebe estranhas vibrações vindas do carro. E o pior: o carro é tratado por um nome feminino, Christine. Como se fosse uma mulher ciumenta e não um objeto inanimado. Pouco a pouco vemos sendo construída entre Arnie e Christine uma estranha e sombria ligação.
Certamente Christine compõe, para mim, o top 5 das melhores histórias de King. Desde a construção dos personagens, o andamento do enredo e a resolução dos problemas, tudo tem um propósito no romance. Apesar do tamanho do romance, eu achei que ele cumpriu aquilo que King desejava para seus personagens. Muitos vão discordar, mas considerei o tamanho da história apropriada. Isso porque era necessária para o autor construir as relações e sentimentos de todos os envolvidos na história. Mesmo aqueles que possuem apenas uma função periférica como Will Darnell ou Buddy Repperton. Até os pais de Arnie são necessários para nos ilustrar como a criação dele se deu dentro de um ambiente repressivo apesar dos pais se dizerem liberais. Até mesmo a passividade de seu pai diante do autoritarismo da mãe vale para a construção da personalidade de Arnie.
Dennis funciona como um narrador não-confiável. A primeira e a terceira partes são contadas a partir de suas impressões pelo que havia acontecido. O relato de Dennis funciona como um desabafo. Ao expor tudo o que aconteceu naquele ano, Dennis espera alcançar um mínimo de redenção. A segunda parte constitui uma narrativa normal e procura mostrar mais da aproximação entre Arnie e Christine. Saímos um pouco da narrativa de Dennis para algo mais especulativo da parte do narrador. Alguns trechos desconhecidos pelo narrador (onde ele tenta deduzir o que aconteceu) é o que o torna não-confiável.
Em Christine, Stephen King retorna ao tema da luta entre o bem e o mal que ele havia desenvolvido em A Dança da Morte. Apesar disto, não existe um maniqueísmo, ou seja, não há personagens puramente bons e puramente ruins, A mãe de Arnie é uma pessoa que ama Arnie, mas possui sua característica dominadora. Dennis ama seu amigo, mas deseja possuir sua namorada Leigh. A própria Leigh demonstra uma personalidade ruim ao longo da história. Esta é uma das virtudes da escrita do autor.
Os elementos sobrenaturais começam a aparecer mais a partir da segunda parte. As habilidades de Christine são apresentadas de maneira progressiva como o domínio de Christine sobre Arnie. Não gostei da justificativa para LeBay ter passado seu espírito para Christine. Não comprei a noção de que LeBay seria um changeling, uma espécie de espírito malvado e trapaceiro que é capaz de transferir sua essência. LeBay poderia ser simplesmente alguém ruim que ao morrer teria passado sua maldade para o carro. King já havia trabalhado a noção de que pessoas ruins transmitem sua maldade para objetos inanimados em O Iluminado. O próprio Hotel Overlook recebeu maldade de todos aqueles que cometeram atrocidades nos seus quartos.
A ambientação é muito boa. Gosto da maneira como King torna mesmo os personagens mais insignificantes para a história como elementos críveis. Consigo lembrar da discussão na tarde da aquisição de Chrstine com a "rainha do be-bop"; ou do bando de Buddy Repperton que conseguimos distinguir todos os elementos; ou até do intrépido detetive Rick Mercer que aparece no começo como uma pessoa sem importância. Personagens locais e situações marcantes contribuem para a progressão da história. Buddy e seus comparsas agridem Arnie; a garagem do Darnell serve para o aprofundamento da relação entre Arnie e Christine; o período de Arnie no hospital serve para desestabilizar a relação entre Leigh e Arnie.
Christine é um dos melhores romances de terror de Stephen King. Mesmo sendo uma história longa eu não senti dificuldades em terminar a leitura por causa da fluidez da escrita do autor. Gostei de todos os elementos narrativos da história e realmente me importei com o que acontecia com os personagens. Sempre destaco que isto é sinal de um romance marcante.
Ficha Técnica:
Nome: Christine
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Terror
Tradutora: Louisa Ibañez
Número de Páginas: 616
Ano de Publicação: 2013
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