Resenha: "Clair de Lune" de Laisa Couto
- Paulo Vinicius
- 30 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Uma história de amor que demonstra que mesmo os deuses podem ser vítimas de um amor impossível.

Nesta história, Laisa Couto nos apresenta Sileno, um sátiro, filho de Pã que vive sua vida tranquilamente. Por ter parte do sangue de um deus, ele possui características semelhantes às de seu pai: tem parte do corpo de um animal, mas é capaz de encantar qualquer mulher que ele deseje. Ou melhor, é capaz de fazer com que as pessoas atendam a todos os seus desejos. Mas, ao longo deste conto, Sileno se dará conta de que mesmo um deus pode ser afetado por um amor impossível.
Depois de ler Lagoena, outro livro de Laisa Couto, me dei conta de que a autora é capaz de criar histórias completamente atemporais. Tanto Lagoena como Clair de Lune são histórias que podem se passar em qualquer período histórico. Não existem muitas marcas definidoras (tipo um telefone, ou um personagem que pega um ônibus, ou um carro). Lagoena começa em uma cidade bem simples no interior e Clair de Lune se passa em uma cidade qualquer e Sileno entra em um bar qualquer. Gosto desse estilo porque acaba tirando o foco da história no que acontece ao redor do personagem para se concentrar no próprio personagem per se.
Podemos dizer que o tema da história não só é o amor impossível, mas também a obsessão de obter o inalcançável. Laisa nos apresenta um protagonista entediado e que não vê tanto encantamento nas coisas pela qual ele passa. Suas noites são regadas a todo tipo de experiências boêmias. Quando ele encontra Clair de Lune sua percepção muda completamente. No começo se tratava de uma curiosidade por uma bela mulher que ele desejava possuir. Mas, à medida em que ela negava aquilo que ele tanto queria, sua fixação vai se tornando maior e a sua habilidade como semideus acaba se invertendo. Agora, não é mais Sileno que tem todas as suas necessidades atendidas, mas ele que quer atender a todas as necessidades de Clair de Lune. Em determinado momento do conto, um dos personagens dialoga com Sileno perguntando se ele desejava Clair de Lune por sentir um amor real, ou apenas para obter aquilo que ele não era capaz de conseguir. É um interessante questionamento: quando amamos muito alguém que nos recusa, estamos amando de fato ou apenas correndo atrás daquilo que nos é negado, como uma espécie de orgulho ferido que precisa ser curado?
Laisa Couto nos apresenta o enredo e os personagens bem lentamente. Já havia percebido essa "falta de imediatismo" da autora em Lagoena. A autora não corre com a apresentação de tudo, mas deixa que os elementos fluam por si só. Acho isso outra qualidade da pena da autora. Quando o leitor percebe, ele já está imerso na trama e apenas observa aquilo que está acontecendo com avidez. Eu adorei a história apesar de ter notado alguns pequenos problemas. Por exemplo, eu achei o final abrupto demais. Entendi que a história era como se fosse uma espécie de conto mitológico e no final haveria uma espécie de "moral" ou "lição". Não sei se a intenção da Laisa tenha sido isso, mas acabou soando dessa maneira. Achei também que a autora poderia ter trabalhado um pouco mais a relação entre Sileno e Pã. Porque a presença dele é muito superficial e a relação de distanciamento entre ambos não fica tão bem estabelecida assim.
O estilo de escrita é em terceira pessoa o que contribui para o ar etéreo e mitológico do conto. Alguns momentos podem incomodar o leitor por conta de uma grande quantidade de descrições e emoções do personagem. A mim não incomodou porque serviu para que eu me empatizasse melhor com Sileno e seus problemas. Gostei também do fato de Laisa ter construído diálogos simples e fáceis de serem compreendidos. Ela poderia ter caído no erro de fazer com que os deuses falassem a la Shakespeare, de maneira dramática ou estoica demais. E não foi isso o que aconteceu.
Clair de Lune é um conto bacana, rápido e emocionante. Mais do que isso: nos mostra uma história de amor trágica colocada em um universo de mitos e lendas. O enredo é bem amarrado, apesar de finalizado de maneira muito brusca. Porém, o ar de mistério permeia o ambiente fazendo com que o leitor se perca nessas histórias de deuses e semideuses, mas apresentados de uma maneira muito humana e sentimental.

Ficha Técnica:
Nome: Clair de Lune
Autora: Laisa Couto
Conto que compõe a coletânea Imaginários vol.6
Editora: Draco
Gênero: Fantasia
Ano de Publicação: 2015
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