Nesta segunda parte, temos algumas boas flash fictions e contos de mais alguns autores conhecidos do nosso blog. A qualidade continua bem elevada e os contos aterrorizantes.
Vou aproveitar essa segunda parte para falar um pouco sobre a apresentação e a iniciativa da ABERST em proporcionar algo tão diferente para os seus autores. O que a associação tem feito é estimular boas publicações ao mesmo tempo em que cria workshops para que os autores consigam trabalhar a sua escrita e propor desafios a eles. Lendo um pouco da apresentação escrita pela Cláudia Lemes, percebemos o comprometimento não apenas em publicar os autores, mas em ajudá-los a se tornar ainda melhores no que fazem. Tenho certeza de que no futuro, todas essas pessoas que participaram dessa iniciativa irão escrever histórias ainda melhores e vão puxar um pouco dessa experiência que veio dessa iniciativa. Parabéns à ABERST e parabéns para a Monomito Editorial por abrir esse espaço.
E, continuando a falar dos contos. Nesta parte falamos dos seguintes contos:
7 - "A Fotografia" (de Antônio DiMarco) 8 - "No Lado Negro da Lua" (de Amanda Reznor) 9 - "Passeio Noturno" (de Tiago Oaks) 10 - "A Nova Queda" (de Ícaro Sampaio Viana) 11 - "Morte e Vida" (de Alexandre Braoios) 12 - "Esfera de Sangue" (de Karen Alvares)
Seguem as resenhas:
7 - "A Fotografia"
Autor: Antônio DiMarco Avaliação:
Quantos de nós já não cometemos o famoso pecado por omissão? É aquela situação em que, para não se colocar em problemas ou criar uma discórdia para si, deixamos de ajudar uma pessoa. Muitos de nós já passamos por essa situação e não nos damos conta de o quanto isso pode ser cruel. Somos tão culpados por um acontecimento trágico quanto aqueles que o perpetraram. Isso porque poderíamos ter feito algo naquele instante que poderia ter mudado tudo aquilo. É a jornada do Homem-Aranha em início de carreira quando ele não deteve um bandido porque ele estava trabalhando. Esse deslize custou muito ao personagem.
É um pouco do que o protagonista vive neste conto. Ele é um cara que tem um caso com uma mulher casada, vive uma vida sossegada e sem grandes problemas. Mas, uma foto do passado vai fazer com que ele se lembre de uma vez em que ele não ajudou um menino que acabou morrendo mais tarde. Se ele tivesse feito algo para ajudar aquele garoto, talvez... Mas, ele deixa para lá e vai curtir a mulher sexy que entra em seu apartamento. Mas, a foto parece não querer deixá-lo em paz.
O grande problema nesse conto é justamente o terror. O autor se foca demais em mostrar que o protagonista é um mulherengo e bon vivant. A parte em que o acontecimento passado começa a assombrá-lo parece ficar muito distante na história. Quando ele se volta para o tema central, tudo parece muito descolado do que está acontecendo. O elemento de terror e que é a mola propulsora da história acabou ficando demais no segundo plano. Por essa razão, não consegui comprar o terror apresentado. Para mim, não funcionou.
8 - "No Lado Negro da Lua"
Autora: Amanda Reznor Avaliação:
Essa história é bem interessante. Amanda Reznor entra na mente de um stalker, um perseguidor. O protagonista é um motorista de bonde obcecado com uma mulher chamada Rute. Essa obsessão o faz colocá-la em um pedestal e entendê-la quase como uma deusa. Só que a idolatria vai tomando contornos perversos à medida em que seus desejos íntimos vão ficando cada vez mais sólidos até que sua própria personalidade muda com o avançar da história.
Algo muito legal na narrativa de Reznor é como ela deixa muita coisa subentendida. Não dá nem para contar muito da história porque, do contrário, eu vou acabar entregando as principais surpresas. Mas, vale mencionar que por trás da fala idolátrica do protagonista, se esconde um comportamento macabro. Não se fixem no que ele diz, mas no que ele não diz. É o não dito que vai permitir ao leitor construir a narrativa a partir de um outro ângulo. É aí que o leitor vai poder saber o que realmente aconteceu com Rute.
Não é aquele conto que conquistou o meu coração, mas preciso aplaudir a habilidade narrativa da autora. Ela consegue não apenas empregar bem um narrador não confiável, mas criar uma narrativa por trás de outra narrativa. E isso é algo muito complexo de se fazer. Afinal, ela está escondendo de nós os verdadeiros fatos à luz do dia. Complicado? Tentem ler. Mas, leiam com atenção.
9 - "Passeio Noturno"
Autor: Tiago Oaks Avaliação:
Trabalhar com as sensações do leitor é uma tarefa muito difícil. Algumas são fáceis de fazer. Por exemplo, fazer o leitor se emocionar com uma cena de reencontro, ou se enfurecer com as atitudes de um vilão, ou rir de uma piada. Sentir medo é uma arte que poucos autores são capazes de entregar. Fazer você suar a camisa, ficar apreensivo, olhar para trás instintivamente. Tiago Oaks nos entrega uma história de perseguição. Um ser maligno persegue uma jovem pelas ruas de Ouro Preto. Parece ser um ser mitológico, mas o leitor terá que acompanhar essa corrida mortal para conseguir descobrir.
Tiago nos entrega uma boa flash fiction, mas eu fiquei um pouco com pé atrás. Não consegui me entregar completamente à explicação do que estava perseguindo a personagem. Conheço a lenda propriamente dita, mas a motivação foi colocada em um local tão estranho que não deu para realmente entrar no que levou à perseguição. Para mim, este trecho com a vendedora deveria ter ficado no começo e não na metade. Me pareceu aleatório demais. No mais, o autor conseguiu pegar muito bem a sensação do medo, da perseguição, do ser estranho estando tão próximo que é possível sentir o hálito decadente no pescoço. Em vários momentos, a gente sente uma agonia danada.
10 - "A Nova Queda"
Autor: Ícaro Sampaio Viana Avaliação:
Para uma flash fiction funcionar bem, ela precisa ser capaz de te apresentar algo muito impactante ou uma ideia muito criativa. No segundo caso, uma ideia pode gerar algo muito bom ou muito estranho. Neste caso, eu fiquei com a segunda opção. Achei a ideia legal, mas senti que uma flash fiction não seria capaz de causar o impacto necessário para atrair a atenção do leitor em algo inesquecível. Me pareceu só uma ideia criativa que não funcionou.
Imaginem se os nossos melhores amigos, os cachorros, fossem anjos caídos. Não sabemos disso porque os livros sagrados que falam deles se tornaram apócrifos e não sabemos onde eles estão. Um dia, parece que a hora da ascensão se aproxima. O momento em que os cães tomarão o paraíso na Terra. E eles não mais roerão ossos. Novamente: uma ideia muito legal, mas que precisava de espaço para funcionar. Algo que o estilo relâmpago não permitiria fazer. Gostei da criatividade, mas também não funcionou para mim.
11 - "Morte e Vida"
Autor: Alexandre Braoios Avaliação:
Esta é uma boa história sobre um espírito buscando vingança. Nos últimos anos, estas histórias tem se tornado comuns no cinema. E saber apresentar bem a história do fantasma vingativo é sempre complicado. Normalmente, desenvolvemos empatia por aquele que está sendo perseguido e não pelo perseguidor. Mas, Alexandre nos coloca diante de uma pessoa que sofreu um grave crime e este foi encoberto pelos assassinos que tocaram a vida adiante. Vemos este espírito lutando para manter sua sanidade ao mesmo tempo em que busca uma forma de se vingar por aquilo que sofreu.
A narrativa é feita em primeira pessoa pela perspectiva do espírito. Só aí já dá todo um diferencial. O autor busca construir uma narrativa feita através das emoções do personagem. Ele usa a imagem do personagem tentando sair do caixão no qual ele foi enterrado. Então é como se estivéssemos sufocando o tempo todo. Porém, não senti que isso funcionou muito. Gostei de como o personagem narra toda a sua saga de vingança e como o tempo para ele é relativo demais. O que para o personagem podem ter parecido horas, foram anos para os que ficaram no mundo terreno.
Podemos dizer que a história se desenvolve bem, mas eu confesso que a metade do conto me pareceu estranha para mim. Fiquei com a sensação de que a história não se desenvolvia. Ou seja, dava para cortar um pouco da narrativa em prol de um dinamismo maior. Aliás, o foco poderia ter sido dado mais aos filhos do personagem que vão acarretar os momentos finais da história. Me pareceu estranho do nada o rapaz ter poderes mediúnicos. Foi quase conveniente demais para atender aos objetivos do autor. Mas, o final é muito bom. Dá aquela sensação de vingança real deixada para o protagonista.
12 - "Esfera de Sangue"
Autora: Karen Alvares Avaliação:
Trabalhar com personagens com algum tipo de síndrome ou fobia social sempre é bem complicado para o autor. É preciso entender como ele enxerga o mundo e as pessoas ao seu redor. São características que chegam a interferir no diálogo do personagem e em o quanto suas ações são lógicas para ele. E é um personagem com fobia social que é o protagonista deste conto de Karen Alvares.
Ela nos coloca diante de um acontecimento de proporções apocalípticas se desenrolando durante o conto. O protagonista acaba precisando superar seus medos para poder fugir do lugar onde vive. É muito interessante ver como ele reage a cada coisa ao seu redor. Até mesmo falar com outra pessoa é uma dificuldade para ele e causa algum tipo de reflexão. Sentimos que o personagem deseja superar os seus medos para poder conviver normalmente com as pessoas. Seu apartamento é sua prisão.
Mais uma vez a autora consegue trabalhar bem a psiquê dos personagens, que é uma marca da sua escrita. Gosto de como ela trata cada ação dos mesmos com uma gravidade, uma importância crucial para a narrativa. Aliás, a frase "seu apartamento é sua prisão" é ótima para definir o que vai se desenrolar no final da narrativa.
Ficha Técnica:
Nome: Confinados Autores: Alexandre Braoios, Soraya Abuchaim, Oscar Nestarez e outros Editora: Monomito Editorial Gênero: Terror Número de Páginas: 184 Ano de Publicação: 2018
Outras Partes:
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