Estas são histórias passadas em Telguuth, um planeta que fica no centro do universo. Embora maravilhoso, ele esconde terrores inimagináveis.
Aviso: essa série é parte integrante das revistas Heavy Metal Primeira Temporada, publicadas pela editora Mythos. Nós estamos analisando história por história das cinco edições. Caso vocês desejem ler sobre outras das séries na revista, cliquem nos links abaixo:
Guerreiros ABC
Contos de Telguth
Mundo dos Labirintos
Estas são histórias curtinhas de cinco páginas espalhadas por todas as edições da primeira temporada da Heavy Metal que tem como protagonista o mundo de Telguuth. Um mundo de fantasia, mas com várias pitadas de terror que o envolvem. Temos histórias de governantes que desejam dominar o mundo, lugares onde a magia não deve ser usada ou um mal ancestral irá despertar, um homem que deseja se tornar um deus com consequências inimagináveis. Não temos uma história linear com um protagonista per se, mas as histórias são bem divertidas. Aquelas narrativas com uma virada no final que sempre dão aquele sorriso de canto de rosto. O autor Steve Moore é conhecido por ter dado as primeiras oportunidades a um jovem Alan Moore. Ele tem uma produção constante embora mais limitada a suas publicações na revista 2000AD. As histórias de Telguuth revelam o seu interesse pelo estranho e pelo oculto algo que vai permear a sua obra.
Temos uma série de artistas que trabalham nestas histórias. Nas cinco edições em que temos nove histórias espalhadas estão artistas como Paul Johnson, Carl Critchlow, Siku e Dean Ormstron, que ficou conhecido no Brasil por seu trabalho em Black Hammer. Dos quatro, me agradou mais a arte de Paul Johnson por ter aquele vínculo com o gênero fantástico. Não é bem algo relacionado à qualidade do traço porque os quatro são muito bons mesmo, mas é como o artista consegue traduzir o clima do estranho, do mágico e do fantástico para dentro das páginas. Na história Tornar-se um Deus (na Heavy Metal 1ª Temp vol 5), Johnson consegue traduzir um ambiente alienígena e bizarro com plantas que parecem saídas de algum episódio do Além da Imaginação. Sem falar no confronto entre magos onde vemos dois feiticeiros usando formas distintas de encantamentos. E tudo isso traduzido na arte seja com glifos místicos ou com manifestações energéticas.
Vou comentar sobre algumas histórias, tentando não dar spoilers (e não conseguindo, porque são histórias curtinhas). É que eu gostaria que os leitores dessem uma oportunidade a elas porque elas representam uma boa ligação entre uma narrativa de terror e uma de fantasia. Inclusive contando com o elemento do horror cósmico lovecraftiano. Por exemplo, no volume 2 temos uma das histórias mais bizarras entre os contos chamada de Cabeças Falantes. Nela somos apresentados a Morotino, aprendiz de um feiticeiro que foi encarregado de fazer uma encomenda com Taznoth, um mago estranho que vive além dos Ermos de Glay. Ao se aproximar da casa do dito mago, Morotino se depara com uma cena absurda: cabeças de pessoas presas no solo e que estão falando com ele, implorando para serem retiradas de onde se encontram. Elas alegam terem sido enfeitiçadas por Taznoth e deixadas ali à própria sorte. Só que o aprendiz se lembra do que seu mestre falou: nunca se desvie de seu caminho e ignore tudo o que presenciar por lá. E agora... o que ele deve fazer? Como salvar essas pessoas? E será que essas pessoas precisam ser salvas?
Em outra história, vemos uma série de magos serem impedidos de entrar em Garnax, uma cidade que não quer saber de nenhum envolvimento com magia. Todos aqueles que são pegos pelos guardas do portão são deportados de volta a seus reinos. A explicação é que no passado, Garnax foi assolada por um demônio de pedra chamado Uhurros, o Horrendo. Se tratava de um ser que se alimentava de seres humanos e que quando chegasse a 1000 mortes ele se tornaria um deus. Graças aos esforços de um grupo de magos eles conseguiram impedir há séculos atrás que a profecia se tornasse realidade e Uhurros chegou "apenas" a 999 mortes. Por essa razão os guardas são tão obcecados por impedir a entrada de magos em seu reino. Para que a tragédia não volte a tomar conta dos habitantes de Garnax. Mas, sabemos como isso vai terminar, não é?
Sabemos que os magos gostam de Um Pouco de Conhecimento, certo? Com esse título, temos a história do primeiro volume da Heavy Metal em que Pel Morgath segue em busca de mais. Ele invoca Zamproth, um demônio vindo dos interstícios do outro mundo. E Morgath tem apenas um único desejo: conhecer tudo sobre o reino e o mundo em que eles vivem. Apenas com o conhecimento ilimitado ele pode se tornar o maior mago de Telguuth. Só que Morgath não é bobo e sabe como os pactos com os demônios acabam. Por isso ele traçou um plano para obter aquilo que quer ao mesmo tempo em que não tem sua alma destruída ou devorada por um demônio maldito. O que ele verá será algo além de sua compreensão e que colocará sua mente em perspectiva. Mas, será que ele conseguirá escapar das maquinações de um ser que possui milênios de idade? Se Morgath se acha inteligente, Zamproth já teve vários outros seres que o convocaram no passado e sabe como obter também aquilo que ele deseja: carne humana. Este é o confronto entre aquele que deseja o conhecimento e aquele que o detém.
Os Contos de Telguuth são aquele tipo de diversão despropositada que só poderia ter vindo de uma mente como a do mentor de Alan Moore. As histórias são repletas de voltas e reviravoltas e ele consegue entregar mais em cinco ou oito páginas do que muitos outros autores precisam de encadernados e mais encadernados para levar adiante o que imaginaram. Nem sempre quantidade tem a ver com qualidade. Me incomoda um pouco a falta de coesão mesmo que o protagonista seja o mundo em si e não personagens, mas algumas histórias puxam mais para o scifi enquanto outras tem um pé na espada e feitiçaria. Os artistas são bem variados desde alguns mais conhecidos como Dean Ormstron até outros menos conhecidos. Mesmo assim vale o seu tempo como leitor.
Ficha Técnica:
Nome: Contos de Telguuth
Autor: Steve Moore
Artistas: Paul Johnson, Siku, Dean Ormstron, Carl Critchlow e Simon Davis
Compõe as edições 1 a 4 da primeira temporada da revista Heavy Metal
Editora: Mythos
Tradutores: Érico Assis, Octávio Aragão, Antônio Tadeu e Hélcio de Carvalho
Número de Páginas: 100 cada edição
Ano de Publicação: 2018 a 2019
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