Em uma missão de resgate a um luresindo, Ian e Gmor precisam retornar ao Varliendar, a Terra dos Dragões, onde ambos estiveram em uma luta mortal há muito tempo atrás. As lembranças voltam à tona enquanto eles enfrentam uma horda de algentes que parecem estar sendo liderados por uma rainha. Mistérios em cima de mistérios em uma edição com ação do início ao fim.
Sinopse:
AS FOSSAS DOS FARGHS
Um mago luresindo, enviado ao Varliendar para verificar a integridade da floresta negra que cresce ao redor das tumbas dos dragões, desaparece junto com a sua escolta militar e com a mãe guardiã que atua como sua guarda-costas. Ian e Gmor devem organizar uma expedição de resgate antes que as hordas de algentes consigam localizar o abrigo dos desaparecidos.
Essa é uma edição incrível. Narrativa, arte, personagens. Devorei esta edição como um leitor faminto por mais. É impressionante o quanto a série consegue manter um alto nível em suas histórias ao mesmo tempo em que rotaciona artistas que sempre apresentam algo diferente. Embora prefira as histórias de Stefano Vietti por conta daquilo que fica nas entrelinhas, Luca Enoch consegue trazer o épico, o dramático às histórias dos personagens de Dragonero. Essa vai ser uma daquelas resenhas em que só vou apontar elogios e nem tenho tanta coisa assim para dizer a respeito.
Um mago luresindo foi dado como desaparecido ao ir até as tumbas dos dragões investigar a floresta negra que nascia na região. Por sua experiência ao ter enfrentado o cruel Jeranas, Ian é chamado para descobrir o paradeiro do mago e de seu grupo. Precisando enfrentar alguns dos fantasmas do passado, ele se depara com uma horda de algentes que parecem diferentes dos seres sem mente com os quais ele está acostumado. Estes parecem ter um direcionamento e estão sob o controle de uma influência maligna. Depois de uma fracassada missão de rastreamento que acaba com a morte de todo o seu grupo de escolta, Ian precisa convencer o comandante da guarda no Valo sobre a necessidade de retornar até as fossas dos Farghs. Ele acredita que o luresindo pode ainda estar vivo, mas a alta periculosidade da missão e a baixa possibilidade de sucesso o coloca em uma situação complicada com o comandante. Mas, a intervenção de Alben dará o suporte necessário a Ian. Agora, é entrar em uma região perigosa e realizar a missão. Fácil, certo?
A arte de Gianluigi Gregorini é um colírio para os olhos dos leitores. O seu domínio sobre o preto e as sombras é ideal para essa edição que se passa em um lugar sombrio e maligno. O que ele faz com perspectiva é algo bastante único. Seus quadros são sólidos e conseguem passar o drama, o perigo ou a imponência que alguma situação em específico exige. Essa décima edição exige do artista uma sensação de claustrofobia, de, embora Ian esteja em uma enorme planície, que a aura maligna da região tome conta dos seus arredores. É preciso passar um sentimento de desesperança, de algo gigantesco e aterrador. A capacidade de Gregorini de usar as sombras fornece também uma tridimensionalidade aos personagens. Parece que eles vão saltar do quadro em nossa direção. Uma cena de uma perseguição com os algentes correndo em um quadro em que eles estão de frente, me recordo de que me inclinei para trás, achando que os personagens viriam na minha direção. Poucas vezes me recordo de um artista tão habilidoso no uso do preto puro e simples.
Ao mesmo tempo, essa é uma edição com uma história em alta velocidade. Parece que Enoch pisou na sétima marcha e colocou o volante nas mãos do artista. As cenas de ação começam na primeira página e vão até a última. E que cenas de ação! Gregorini tem um feeling muito bom para o combate, como potencializá-los e transformá-los em algo que entretenha o leitor. A coreografia das cenas é precisa e ele consegue pegar o ângulo certeiro para dar a sensação correta para quem está do outro lado. Junto com o seu domínio de sombras é uma habilidade assustadora que nos coloca diante de algumas das melhores sequências vistas até agora na série. Posso enumerar algumas como a perseguição inicial feita pelos algentes que é dramática a ponto de acharmos que o protagonista pode realmente morrer ou mais à frente quando eles enfrentam vermes da areia e precisam encarar o poder de uma criatura assustadora. Tem uma cena incrível com Taisha saltando com uma lança virada para baixo, acertando a cabeça de uma dessas criaturas.
Essa é uma história que retoma algumas ideias do volume 0 e faz os personagens reviverem alguns de seus momentos. Acredito que na próxima edição teremos as consequências diretas das ações, mas aqui é quase como se o autor fizesse uma recapitulação ao mesmo tempo em que insere pequenos novos detalhes à história. A imensa planície embora pareça desértica esconde perigos inimagináveis. A gente pensava que apenas as torres de poder representavam algo a ser temido e havíamos nos esquecidos dos malignos algentes. Pois Enoch nos fez lembrar o quanto estas criaturas representam uma ameaça importante a todos os reinos. E a necessidade da existência do Valo. É engraçado porque ao acompanharmos as aventuras de Ian ao longo destas edições, o imaginávamos capaz de atravessar Varliendar como se não fosse nada. E não é bem assim que funcionam as coisas. Mesmo com toda a sua experiência, Ian se vê em situações bem complicadas na história.
Voltamos a ver a menção à exploração desastrosa feita por Ian às planícies que levou à morte de todo o grupo sob seu comando. Algo que ficou marcado e gerou rancor da parte da guarda vermelha. Depois da missão de reconhecimento, o personagem fica marcado como alguém que ou não sabe comandar ou está amaldiçoado de alguma forma. O roteiro deixa claro a hostilidade dos guardas em relação a Ian desde o começo. É diferente vermos que o alvo das falas tortas e dos olhares distantes não é Gmor dessa vez, e sim o Ian. Nosso personagem luta ainda com o remorso de ter falhado. Sua auto-estima e confiança estão baixas porque ele não se sente à vontade precisando se preocupar com os outros. Talvez o seu espírito como comandante de homens esteja mais afetado do que ele deixa transparecer.
Várias perguntas são colocadas nesta edição e possivelmente teremos algumas delas respondidas. Por exemplo, quem é a misteriosa rainha dos algentes? Isto é, ela é uma algente propriamente dita com poderes especiais, ou alguma coisa ainda mais tenebrosa? E por que os algentes a seguem? O luresindo desaparecido parece ter descoberto algo na tumba dos dragões. Encontrar o mago se tornou fundamental porque mais uma vez o destino dos reinos pode estar nessa resposta. Até porque o confronto com Jeranas aconteceu há pouco tempo e as marcas deixadas por ele não estão completamente cicatrizadas. Sem falar no sangue de dragão que Ian teve contato e que gerou toda uma série de mudanças no interior do personagem. Algo que ele ainda não compreende por completo e sabe que vai precisar desse conhecimento no futuro para lidar com alguma ameaça que ele apenas sente estar chegando no horizonte.
Essa é uma edição que coloca muitas perguntas e dá um tom bastante dramático ao que vem acontecendo a Ian. A narrativa de Enoch está acima da média e parece que estamos chegando em um momento climático da narrativa. Pelo menos é o que tem sido passado nestas últimas edições. A arte de Gregorini é disparada a melhor que vi até o momento. De cair o queixo de qualquer fã de fumetti. As cenas são empolgantes e a preocupação com detalhes, ângulos e perspectivas dão um tom ainda mais rico a uma narrativa que já está boa demais. Uma edição essencial para quem gosta de Dragonero. E o melhor: é um arco em duas edições, ou seja, teremos mais Gregorini no volume 11.
Ficha Técnica:
Nome: Dragonero vol. 10 - As Fossas dos Farghs
Autor: Luca Enoch
Artista: Gianluigi Gregorini
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicação: 2021
Outros Volumes:
Vol. 0 Vol. 6
Vol. 1 Vol. 7
Vol. 2 Vol. 8
Vol. 3 Vol. 9
Vol. 4
Vol. 5
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