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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Dragonero vol. 11" de Luca Enoch, Gianluigi Gregorini e Luca Malisan

Nesta edição vemos a conclusão da jornada de Ian pelo Grande Valo, que vai levar nosso personagem a rever uma pessoa que ele julgava morta há muito tempo. Mas, esta pessoa não parece feliz em revê-lo. E na segunda história, o retorno melancólico de uma Mãe Guardiã ao monastério. Onde pecados de seu passado voltam para assombrá-la.


Sinopse:


A RAINHA DOS ALGENTES


Com as montarias perdidas e bloqueados nas Fossas dos Farghs, onde localizaram o mago desaparecido, Ian e Gmor precisam encontrar uma maneira de retornar ao Valo, escapando dos algentes que cortam todas as rotas de fuga. Mas uma nova ameaça paira sobre eles: uma figura misteriosa que comanda e organiza militarmente os algentes e que parece muito determinada a exterminar todos os membros da expedição.






Essa é mais uma edição focada em construção de mundo. Enoch aproveita essas edições para expandir ainda mais a mitologia do personagem e das criaturas que habitam o universo de Dragonero. Nesta edição conhecemos mais sobre os algentes e as mães guardiãs. E, para nenhuma surpresa dos leitores já acostumados com a proposta do autor, descobrimos que sabemos bem pouco a respeito. Ele nos entrega algumas respostas enquanto oferece novas perguntas. Estou gostando de ver como não há a menor pressa em revelar mais do mundo ao mesmo tempo em que as histórias que chegam para o leitor são sempre muito divertidas e cheias de ação.




ATENÇÃO: Spoilers da edição anterior!



Temos duas histórias nessa edição. Na primeira, chamada A Rainha dos Algentes, descobrimos que ninguém menos que Ecuba, que foi a mãe guardiã de Alben e achávamos estar morta quando Ian e seu grupo tentavam deter as ambições do mago Jeranas (no volume 0). Ecuba agora é a líder de um enorme grupo de algentes e ela deseja se vingar de todos os magos que ousarem pisar no Grande Valo. Ian e Gmor precisam tirar Sheda e Arentel das fossas dos farghs imediatamente e chegarem a um local seguro. Inicia-se uma corrida desesperada contra o tempo e a perseguição de Ecuba é mortal. Na segunda história temos o retorno de uma mãe guardiã ao monastério após um fracasso. E conhecemos mais sobre os mistérios que circundam essa ordem de guerreiras. Onde um pecado mortal levado pelo amor de uma jovem garota leva à sua perdição, a guardiã, agora em desfavor, precisa sobreviver à perseguição de suas iguais. Só que um segredo ainda mais profundo se esconde em suas origens.


Começando pela arte da primeira história, ainda é o Gregorini e só tenho a elogiar sua arte. A segunda parte da história tem uma orientação maior na ação e ele não desaponta. É curioso que mesmo quando temos as formas distorcidas dos algentes, o visual badass da Ecuba ou os farghs, que parecem mamutes bizarros, Gregorini consegue nos entregar imagens que conseguimos entender. Em algumas cenas mais violentas, fiquei pensando como ele foi capaz de dar sentido ao estranhamento causado por tudo o que acontece em cena, e o artista tira isso de letra. É preciso salientar, contudo, que os quadros estão mais carregados no preto, porque a ação acontece nas planícies escuros da superfície dessa terra maligna. Como a história é mais curtinha, não tenho mais a acrescentar do que já disse na resenha passada, somente confirmar que Gregorini é o melhor artista até o momento que passou pela série.

Sobre a história em si, ela serviu para levantar vários questionamentos sobre os algentes. Desde a edição passada vimos como mesmo Ian não sabia tudo sobre estes seres. Ele os imaginava como desprovidos de inteligência complexa e focados apenas na destruição de seus oponentes. Mas, o problema não é bem assim. Imaginava-se que sua comunicação era instintiva e que eles não eram capazes de organizar suas ações. Sabia-se apenas que eram destemidos e somente sua destruição absoluta era capaz de pará-los. E como explicar as ações coordenadas por Ecuba? Ou sequer que eles aceitam o comando da ex-mãe guardiã? E como ela faz para se comunicar com eles? Durante a edição, Ecuba fala como sobreviveu a toda a confusão que aconteceu na época do confronto com Jeranas, mas várias perguntas permanecem em aberto. Por exemplo, por que os algentes aceitaram justo ela? Não se preocupem por que Enoch não vai revelar toda a verdade por trás da nova vida de Ecuba, nos deixando com ainda mais perguntas.


Resta a Ian e Gmor sobreviver ao ataque impiedoso dela e de seus comandados. Em uma aventura que vai colocar nossos personagens no limite e aonde não há como simplesmente enfrentar toda uma horda de seres que não conhecem o significado do cansaço. Ecuba está atrás de sangue e nada irá impedi-la. Devemos nos lembrar o quanto a guerreira marcial era poderosa na época da ida ao Grande Valo. Imagine agora que ela não precisa se preocupar em proteger ninguém. Também somos confrontados com o dever absoluto de uma mãe guardiã a seu mago, onde o juramento de proteção é levado ao extremo e vemos até onde uma delas vai para defender aquele a quem fez esse juramento. Ecuba e Sheda estão dos dois lados da moeda.


A segunda história se chama A História da Monja e somos levados de volta a Fhaucasepta, o lar das mães guardiãs. Esta é uma narrativa que se foca em seus juramentos, deveres e punições. Uma das mães retorna após fracassar em seu dever e precisa passar pelo escrutínio da madre superiora. No passado, ela já havia cometido um erro ao se deitar com um homem fora do período estabelecido para que elas gerassem filhos. Sua punição se tornou uma mácula a qual ela passou a ser julgada por suas iguais. Se ela já era julgada antes, imagine agora que fracassou em seu dever primordial. Mesmo com toda a tristeza e arrependimento que se assolaram em seu coração ao não ser capaz de realizar o dever da vida de uma mãe guardiã, ela precisa ainda lidar com a punição que a espera por sua falha. E ela já havia aceitado que seria punida, até que uma revelação surpreendente a fará buscar todas as formas de permanecer viva. Mas, para isso ela precisará sobreviver às suas irmãs.

A arte desta segunda história ficou a cargo de Luca Malisan que é claramente um artista que se foca no pano de fundo dos cenários. É um artista bastante detalhista em suas composições e sabe criar o ambiente necessário para gerar uma reação ao leitor. Tem alguns momentos de cair o queixo como a própria represa que forma Fhaucasepta que já tínhamos visto lá no volume 0, mas ele consegue jogar uma visão do alto que é estonteante. Ou quando a mãe guardiã olha para um céu estrelado pensando em seu destino. Claro que é complicado colocar uma edição que possui duas histórias desenhadas por artistas diferentes e não fazer uma comparação. E a arte de Gregorini me encantou demais, fazendo com que o que Malisan faz em seu trecho seja meramente comum. Não é demérito algum e faz dessa décima primeira edição bem acima da qualidade geral da série. Minha reclamação tem a ver com as cenas de ação que são um pouco truncadas e o leitor demora a entender o que está acontecendo. Quando as cenas são mais paradas e voltadas para mostrar cenários amplos é que a arte dele consegue ser melhor apreciada.


Um volume muito bom mesmo, continuando já o belo ritmo iniciado na edição passada. A história constrói ainda mais a fundação de histórias que virão no futuro, apresentando novos detalhes e perguntas a serem respondidas depois. Não apenas isso como o nascimento de mais um vilão para Ian, alguém que tem bons motivos para desejar se vingar a todo o custo. A arte de Gregorini continua lá no topo, mas a segunda história que conta com a contribuição de Luca Malisan não deixa o nível cair e consegue entregar algo digno.











Ficha Técnica:


Nome: Dragonero vol. 11 - A Rainha dos Algentes

Autor: Luca Enoch

Artistas: Gianluigi Gregorini e Luca Malisan

Editora: Mythos

Tradutor: Julio Schneider

Número de Páginas: 100

Ano de Publicação: 2021


Outros Volumes:

Vol. 0 Vol. 5 Vol. 10

Vol. 1 Vol. 6

Vol. 2 Vol. 7

Vol. 3 Vol. 8

Vol. 4 Vol. 9


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