Depois de muitos percalços, Ian e Gmor conseguem finalmente chegar em Merovia onde precisam fazer parte de uma equipe de caça ao que se acredita ser um bando de ghouls que estão assolando a região. Mas, o que a dupla encontra é muito mais sombrio do que eles pensavam.
Sinopse:
Ian e Gmor chegam a Merovia e se juntam a uma expedição militar que vai partir para enfrentar um clã de saqueadores que aterroriza o norte da região. Mas assim que chega a uma aldeia remota em meio à neve, onde os invasores parecem se esconder, Dragonero se vê envolvido em algo bem diferente: ele terá que enfrentar uma Dríade da floresta, que transforma homens em lobisomens e os mantém ao seu lado como servos. Ian é o único capaz de lutar com a bruxa, mas, para vencer, ele deverá descobrir um novo e incrível poder, fruto do sangue do dragão que corre em suas veias.
Diferentemente de outras edições da série, essa é uma mais dedicada a uma aventura fechada com alguns detalhes de construção de mundo que podem vir a ser empregados posteriormente. Algumas das edições passadas tocavam indiretamente em temas sociais ou faziam críticas veladas. Aqui é só uma boa e divertida aventura, o que, de nenhuma forma, age em detrimento da série. Sempre mantendo um bom nível de narrativa e arte, Dragonero mantém um certo nível de imprevisibilidade que é cativante. Um ponto engraçado é que levou quase quatro edições para eles finalmente chegarem em Merovia, mas é legal que os autores se preocupem com coerência e continuidade. Fica aqui só um parênteses porque os leitores desta resenha podem achar que estou pegando pesado com autor e artista, mas é que o nível das histórias de Dragonero é tão alto que a barra de comparação é lá em cima. Qualquer história de Dragonero (e no geral da Sergio Bonelli Editore) é milhas à frente de outras mensais do mercado. Não fiquem chateados porque qualquer quatro estrelas de uma HQ da Bonelli é cinco em qualquer outra parte do mundo.
Depois de viver momentos perigosos com os zágharos, Ian e Gmor chegam a Merovia, uma região isolada da cordilheira do Suprelurendar. Ao chegarem na aldeia eles são abrigados pelo chefe e são informados do motivo de sua convocação. Parece que um grupo de monstros (que os locais supõem ser ghouls) estão atacando as caravanas. Por isso eles querem enviar uma expedição até onde ocorreram os ataques para lidar com a ameaça. Só que tem um pequeno problema: o líder da expedição vai ser um homem chamado Kolmich, filho de uma importante família local que está financiando a empreitada. Inicialmente Kolmich se apresenta como tendo feito parte de um destacamento de cavaleiros que era conhecido por sua bravura e coragem em combate. Mais tarde Ian descobre que Kolmich foi apenas um ordenança e se preocupa com a missão. Mas, ao irem para os confins do Suprelurendar, a inexperiência de Kolmich será o menor dos problemas já que ameaças perigosas espreitam nos arredores. E uma estranha vila não mapeada pode saber mais do que aparenta.
A artista desta edição é Antonella Platano que traz sua experiência para as páginas de Dragonero. Sua abordagem na arte da HQ vai muito no trabalho com luz e sombras. Suas perspectivas são sólidas, tendo o cuidado de analisar como a luz incide nos objetos e como as sombras se comportam no cenário. O que gostei na arte de Platano é em como as sombras são capazes de nos dar uma ideia de superficial/profundo, alto/baixo, grande/pequeno. Até mesmo a angulação do ponto de visão é bem trabalhado pela artista. O design de personagens dela não tem nada de especial, mas é de alto nível, conforme exigido pela editora. Prefiro mais quando ela desenha ambientes externos dado a sua habilidade em escolher o melhor ângulo para apresentar uma cena. E isso porque estamos falando de uma edição que se passa toda em uma floresta nevada e uma enorme vastidão branca por toda a parte. Mesmo assim ela consegue dar vida a essas cenas e o ambiente ao redor de Ian e seus companheiros parece mais ameaçador do que o normal. O que não gostei de sua arte foram as cenas de ação. Elas são um pouco confusas e não conseguiram passar emoção e tensão. Mesmo assim elas acontecem poucas vezes o que não prejudica a edição como um todo.
Se posso mencionar alguns temas escondidos nesta edição, um deles é o do nepotismo e do favorecimento. Para a expedição de Ian era preferível que alguém mais experiente tomasse o comando para poder decidir o que fazer no calor do momento. Não precisava ser o próprio Ian, poderia ser o capitão da guarda que atuou como "conselheiro" de Kolmich, apesar de ter tomado boa parte das decisões. Mas, para agradar os burgueses locais que estão pagando os custos da missão, a presença do jovem nobre acabou de fazendo necessária. E essa escolha colocou a missão em perigo em um número de vezes, fora a necessidade de Ian de precisar tomar conta do "comandante". Nos faz refletir em nosso mundo o quanto temos pessoas que se tornam indicadas para posições-chave que estão ali apenas por motivos políticos. Seja para fazer média ou ter os olhos de um determinado grupo presentes em uma dada iniciativa.
A segunda questão tem a ver com a vila não mapeada que decididamente sabia mais do que deixava transparecer. Não tem a ver com o fato de eles estarem envolvidos ou não com os acontecimentos. Só que a inação é tão culposa quanto a ação. É possível entendermos os motivos pelos quais os aldeões tomaram a decisão. Se tratava de uma situação de sobrevivência e eles precisavam cuidar de si mesmos. Pessoas como Ian vão e vem. Aos poucos se torna claro que eles se acomodaram em uma situação absurda como aquela e não conseguiam enxergar uma saída. Mesmo quando colocados diante de uma saída possível, eles preferiam optar pela pior escolha. Não sejamos hipócritas: desviar os olhos para uma situação errada coloca os envolvidos em tão culpa quanto quem comete uma ação. Sabemos o que está acontecendo e escolhemos não denunciar, não nos colocar contra. E alguém que chantageia sempre aumenta os parâmetros até eles se tornarem insustentáveis.
Quanto aos desenvolvimentos da história, e para não entrar em spoilers, vimos o quanto a presença dos abominosos tem aumentado em frequência e poder. Mesmo que a existência destes neste volume existissem há algum tempo e fossem restritos a um bolsão do mundo. De qualquer forma percebemos o quanto sua influência maléfica (e seu fascínio) são poderosos e podem produzir efeitos inesperados. Achei bem diferente a maneira como Vietti introduziu lobisomens na história e não sei se isso tem a ver com o grande vilão desta edição ou se eles são assim mesmo. No entanto, fica também mais um mistério para colocar na conta dos estranhos poderes de Ian e como as descobertas que ele fez nesta edição irão interferir em suas futuras missões. O que é certo é que Ian se tornou quase que um inimigo natural dos abominosos.
Um oitavo volume de transição entre histórias, mas que consegue manter o alto nível das histórias do personagem. A arte continua muito boa e só ficou um pouco aquém de outros artistas em alguns quesitos. A narrativa apresenta pequenos acréscimos à história e joga algumas pistas ao vento para que possamos juntá-las em edições futuras. Não sei por que mas algo me diz que possivelmente veremos mais de algumas situações apresentadas aqui. Não referente às duas aldeias, mas aos desdobramentos e conhecimentos adquiridos. E vamos à próxima edição, aventureiros!
Ficha Técnica:
Nome: Dragonero vol. 8 - O Fascínio do Mal
Autor: Stefano Vietti
Artista: Antonella Platano
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicaçao: 2021
Outros Volumes:
Vol. 0 Vol. 6
Vol. 1 Vol. 7
Vol. 2
Vol. 3
Vol. 4
Vol. 5
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