Hasan precisa fazer uma série de filmagens sobre os movimentos das dunas no deserto. Ele vai contar com a ajuda de seu irmão Tariq para isso. Mas, as dunas escondem segredos e mistérios inconcebíveis aos olhos e percepção dos homens.
Sinopse:
Isolado no deserto com seu irmão, Hasan descobre que tem mais a respeito das lendas sobre as dunas do que ele pensava inicialmente.
Esse é um daqueles casos em que o autor acabou querendo mais do que o necessário para a sua história. Todos nós já ouvimos falar, seja no cinema, em séries ou documentários, que o deserto esconde muitos segredos. Inclusive os beduínos representam um dos povos mais intrigantes existentes ainda hoje. É nessa linha que Nicholls cria a história de dois irmãos que precisam permanecer isolados por algumas semanas no deserto de forma a conseguir filmagens das dunas a fim de criar um documentário para uma grande rede de televisão. Eles contam com um baita aparato de filmagem e sobrevivência, mas existem alguns mistérios que apenas aqueles que são originários do deserto conseguem enxergar.
Até aí parece uma história simples e bem legal. Só que o autor aproveita o espaço para tocar em outros temas. Por exemplo, Tariq é um homem idealista que vê na luta contra a opressão um meio de vida. Ele acha absurdo Hasan viver uma vida simples, quase nômade enquanto ele é um verdadeiro patriota. Temos essa diferença de ideias entre os dois, sendo que Hasan acusa Tariq de ter abandonado a essência de sua comunidade em prol de lutas que não vão trazer benefícios para aqueles que vivem vidas simples. Okay, eu acho um debate interessante colocando os irmãos em polos opostos e trabalhando as diferenças e similaridades. Mas, no caso deste conto em particular, isso serviu mais para desviar a concentração do leitor em relação ao que realmente estava sendo trabalhado. Um debate como esse merecia uma atenção maior com um espaço maior. Entenderia um subplot de discussão sobre o avanço do homem em direção a áreas antes inexploradas ou a destruição selvagem de redutos naturais, colocando a natureza como uma entidade repleta ainda de segredos a serem descobertos.
Uma coisa que eu curti bastante na história é a insinuação do medo. É como o autor vai fazendo um crescendo no suspense e provocando no leitor uma sensação de temor. Gosto desse estilo de terror, onde você não causa medo pelo shock value, por mostrar subitamente uma cena horrível, mas por trabalhar o psicológico. E este conto tem toda a vibe de terror psicológico. Aliás, o que é o dune time? O tempo das dunas seria uma espécie de passagem onírica do tempo em que a pessoa afetada tem sua percepção sobre a passagem do tempo dobrada. Criaturas misteriosas habitam esse tempo das dunas e podem levar os incautos à destruição. Tem um momento mais à frente onde os irmãos se perdem um do outro que é assustador. De ficar com os cabelos em pé sem saber o que fazer. O que imaginar quando você desconhece o perigo que o cerca?
Dune Time é uma boa história curta que trabalha lendas dos beduínos e até apresenta alguns mitos bem antigos da região árabe. Sim, aquilo que aparece no final do conto pertence ao período antes da chegada de Maomé. Lembrando que o Islã pegou bastante coisa daquilo que já existia na cultura beduína e incorporou para si. Gostei dessa retomada de ideias, mostrando para o leitor que existe muito ainda a ser explorado por aqueles cantos. Mas, não posso deixar de criticar o excesso de temáticas presentes na história que poderia ter sido perfeita se tivesse mantido o foco e a simplicidade.
Ficha Técnica:
Nome: Dune Time
Autor: Jack Nicholls
Editora: Tor.com
Número de Páginas: 31
Ano de Publicação: 2016
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