Dylan Dog é um homem de muitos amores. Ele ama todas essas mulheres. Mas, e quando uma delas decide que quer o old boy apenas para si?
Sinopse:
Pela enésima vez Dylan Dog decide escrever a palavra fim em uma história de amor, assumindo toda a responsabilidade pelo rompimento, mas despedaçando o coração de Dora. Norman, o pai da moça, sequestra o Investigador do Pesadelo e tenta, com todos os métodos possíveis e imagináveis, fazer com que ele admita que nunca amou a filha dele. Mas a tarefa se revela mais árdua do que o previsto, porque, para Dylan, os enigmas de amor são os mais difíceis de resolver.
Essa edição vai se focar mais no desenvolvimento da personalidade do Dylan Dog. Uma auto-análise sobre como o personagem encara o amor. E por que ele não consegue encontrar uma namorada fixa. É curioso porque Recchione conseguiu trabalhar esse assunto sem bagunçar a cronologia do personagem e dando uma explicação bem plausível. Não é que o personagem vai mudar ao final dessa aventura, mas ele certamente passou a se conhecer melhor e a entender seu próprio coração. Uma boa edição que não avança a trama principal, mas não deixa de ser profunda e reflexiva. Vou discutir mais abaixo alguns outros pontos dessa edição, mas fica aqui o meu elogio ao Recchione sobre como ele gosta de trabalhar os aspectos psicológicos dos personagens que fazem parte do seu roteiro. Pode ser uma edição dispensável para aqueles que desejam acompanhar mais a história principal ou que desejam ver mais a ação de suas histórias. Para mim, rendeu boas horas de leitura.
A narrativa começa com Dylan indo terminar mais um dos seus rápidos namoros. Ele sabe que irá partir o coração de Dora, mas não há outro remédio. Seu coração não está mais ao lado dela. Quando estava retornando para casa, Dylan acaba sendo sequestrado por um homem encapuzado. Este revela ser o pai de Dora, um ex-membro do MI-6 que quer que Dylan diga à sua filha que nunca a amou. Mas, nosso personagem é orgulhoso e verdadeiro com seus sentimentos e se revela incapaz de mentir. Ao mesmo tempo em que se encontra em cativeiro, Dylan começa a ter alucinações com Mary, alguém com quem ele tem uma amizade colorida. Embora ele tenha uma paixão forte por ela, coisas estranhas começam a acontecer em sua mente, com uma presença tentando assustá-la.
Já a arte de Dall'agnol é, de certa forma, bem diferente do que costumamos ver nas edições do personagem. Mais voltado para um estilo característico com um certo grau de abstração, o artista combina com essa edição, mais lenta e reflexiva. Os rostos meio surrealistas traçam uma linha curiosa entre o real e o que está se passando na cabeça de Dylan. Recchione fez questão de dar espaço para a arte de Dall'agnol trabalhar, tendo menos balões de diálogo do que o normal. Tem várias páginas sem diálogo onde o leitor é convidado a fazer suas próprias deduções sobre o que está se passando na página. Outro ponto positivo é o quanto essa história recai em um simbolismo revelador que permite a nós tirarmos uma série de conclusões. Os trechos que se passam na mente de Dylan são mais enevoados e puxam bastante para o uso do cinza. As cenas são ainda mais embaçadas que o normal, o que pode significar as dúvidas e ansiedades do personagem. Vale destacar também o clima tanto no mundo real quanto na mente do personagem: nevado em um, enevoado em outro. Dois climas que instigam a melancolia.
O personagem tem problemas com a forma como demonstra seu amor. A gente não tem uma resposta certeira do motivo pelo qual ele não consegue se apaixonar da maneira tradicional. Ele sempre troca de amores como quem muda de roupa. Mesmo essa edição não esclarece ao certo como o personagem se relaciona com esse sentimento. Dylan é um personagem que quer ser amado, mas não é capaz de devolver o sentimento na mesma proporcionalidade. Sem contar que suas paixões são como a brisa da primavera: passageira e fugaz. E ao esperar ser amado, Dylan revela ser um homem egoísta já que ele não se importa tanto com os sentimentos daquelas que ama. Ele diz se importar, mas suas ações dizem o exato oposto. Ao acreditar estar protegendo a pessoa de uma futura desilusão, sua falta de tato acaba expondo a pessoa a uma dor cruel. Apesar de Dora ser alguém machucada e estranha, o encontro entre os dois no começo da edição me pareceu frio e esquisito. O choque do término do namoro acabou sendo insuportável para ela, revelando em seu coração um sentimento deturpado e obsessivo.
Os trechos que se passam na mente de Dylan reforçam a imagem de alguém mal resolvido nas questões do coração. Algumas cenas são fortes e mostram o quanto existe uma profunda escuridão em seu coração. O elemento "mágico" ou "sobrenatural" desta edição está nesses trechos. O que é o ser que assombra os pensamentos do protagonista? Seria uma reflexão dele mesmo? Ou alguma outra coisa mais sinistra? Nos pensamentos dele, Dylan está com alguém que gosta de verdade, mas não chega a amá-la. É possível ter um relacionamento baseado nesses moldes. Dylan teme estragar sua amizade com alguém a quem ele tem um profundo respeito. Amizade ou amor? Sexo ou companheirismo? Estar ou não estar? Nesse equilíbrio de uma balança perigosa, o personagem segue sendo atormentado por seus demônios e seu maior inimigo é ele mesmo. Alguns momentos no final foram bastante emocionantes quando Dylan decide ser cândido consigo mesmo, sendo que ele precisava se livrar de uma perigosa situação em que se encontrava.
Uma edição interessante que mexe com o que sabemos sobre o personagem que tanto curtimos. Que fala também sobre o coração dos homens, um órgão capaz de amar e causar a dor, seja em si mesmo ou nos outros que o cercam. Certamente Dylan saiu mais sábio de toda essa tragédia ao entrar em termos consigo mesmo e com o que ele considera ser o correto. Ou seja, o personagem não é a pessoa mais legal do mundo e nem aquela a quem você, leitor, confiaria sua filha, mas ele agora sabe disso. E sabe que ao se apaixonar precisa ser mais franco e honesto com quem está ao seu lado. Caso contrário, ele pode se deparar com outra Dora em sua vida.
Ficha Técnica:
Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 5 - O Coração dos Homens
Autor: Roberto Recchione
Artista: Pietro Dall'agnol
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicação: 2019
Outros Volumes:
Vol. 1 Vol. 8
Vol. 2
Vol. 3
Vol. 4
Vol. 6
Vol. 7
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