Uma aterrorizante história de uma mãe que vai em busca de Dylan por causa do estranho suicídio de seu filho, que tinha síndrome de Asperger. Só que tem um agravante: mesmo depois de morto, o menino conversa por chat com sua mãe. Será apenas o desespero de uma mãe que amava seu filho ou existe uma trama mais sinistra por trás?
Sinopse:
Em um chat, Susy começa a receber mensagens do filho que, acometido pela síndrome de Asperger, suicidou-se tempos antes, em tenra idade. Mais uma vez está em curso a eterna luta entre o bem e o mal, cujas linhas divisórias são incertas e envoltas pela fumaça da batalha. Dylan deve iniciar uma terrível descida nas trevas, em busca da alma perdida de um menino.
Continuando em um ótimo ritmo de boas histórias. Gigi Simeoni nos traz uma daquelas histórias de partir o coração. Que falam a todos aqueles que são pais ou mães ou que perderam um filho por algum motivo. Nessa edição veremos a pura batalha entre o bem e o mal, e feito de uma maneira respeitosa, sem parecer piegas demais. Essa sexta edição mostra tudo aquilo que as edições de Dylan Dog tem de melhor: mistério, sobrenatural e algum tema reflexivo. Ah, e tem também o old boy precisando criar um perfil nas redes sociais. Será que ele irá manter? E temos uma extensa participação do Groucho, que mostra todo o seu lado estranho para os leitores.
Uma mulher chamada Suzy procura Dylan Dog para lhe ajudar a resolver um dilema que vem a afligindo. Há um ano atrás ela perdeu seu filho, Joy, porque ele cometeu um suicídio enquanto estava no internato Roseville. Joy sofria de síndrome de Asperger e não conseguia permanecer em uma escola comum, sendo sempre vítima de chacota por seus colegas. Principalmente por causa de sua fixação com a vida após a morte. Desde pequeno ele gosta do tema e fez todo um caderno de anotações sobre as aventuras de Dylan Dog, a quem ele tinha bastante admiração. Seguindo o conselho do diretor da última escola que ele frequentou, Suzy coloca Joy no internato Roseville. Mas, desde então o menino se retraiu ainda mais e fazia sinistros desenhos. Um dia, Suzy recebe a notícia de que Joy se atirou da janela de seu quarto no internato. Mesmo com todos os indícios levando a acreditar que o menino se suicidou, a mãe não conseguia acreditar nisso. Passado um ano e com Suzy ainda sofrendo por seu filho, ela começa a receber mensagens em suas redes sociais de alguém que está usando o perfil de seu filho. E esta pessoa sabe detalhes íntimos da sua vida com Joy. Será um enganador? Ou será alguma coisa mais sinistra?
Gigi Simeoni cuida do roteiro e da arte desta edição. Possui uma arte bem concentrada no uso de linhas verticais, rabiscos e perspectiva. Aquele tipo de arte que estamos familiarizados como sendo típico do quadrinho italiano: bom uso do P&B, atenção aos detalhes. Gostei demais da arte do Gigi e uma pena que cuidar de roteiro e arte seja tão trabalhoso porque eu desejaria tê-lo cuidando dos dois com mais frequência. E não pensem que por estar cuidando das duas funções faz alguma delas ser menos do que a outra. O roteiro está bem preciso em conjunto com uma arte que é de babar. Vejam os detalhes de perspectiva na página ao lado. Percebam o domínio do preto e branco. Não é apenas preencher o espaço com cores. Dominar o P&B significa saber quando um espaço do quadro deve ficar vazio e quando deve ser preenchido pelo preto. Ou como usar gradações do preto para gerar um cinza mais claro ou um grafite. Vejam a atenção aos detalhes da fisionomia do rosto na fotografia. Tudo é meticulosamente pensado para criar o clima adequado à cena.
O roteiro é sensacional. E aí vou dividir minha análise em três temas: a luta do bem contra o mal, o amor de uma mãe pelo seu filho e o preconceito contra autistas. No primeiro caso, a gente vê os autores evitando trabalhar esse tema do bem contra o mal. Imagina-se que seja algo clichê demais e os leitores não iriam gostar. Mas, como já afirmei outras vezes, um bom clichê é atemporal. Quando bem trabalhado, qualquer temática pode gerar uma boa história. Nesta edição temos um antagonista que é simplesmente maligno. É aquela existência que só se legitima causando a dor e o sofrimento às pessoas. A própria definição do demônio em comparação com as forças positivas. Dylan assume o papel de um cavaleiro branco (e bastante mulherengo e sarcástico) para defender uma mãe que ama seu filho. Ele aceita o caso porque percebe a dor no coração de Suzy e vê que existem forças malignas que desejam levar a essência de seu filho à danação. O papel de Dylan nesse volume é o de deter esses planos até porque ele é o único que tem a sensibilidade necessária para entender a existência de forças além da compreensão humana.
Essa é uma edição marcada também pela demonstração do amor de uma mãe por seu filho. Imaginem o desafio que é criar um menino que possui síndrome de Asperger, principalmente sem ajuda do pai e de sua família. Suzy e Joy criam uma relação de amor única em que ambos se tornam companheiros. Juntos eles são capazes de enfrentar todos os desafios apresentados pela vida. Mas, infelizmente acontece uma tragédia que tira muito cedo um filho da vida de sua mãe. Isso devasta a vida de Suzy. É como se tivessem tirado um grande pedaço de seu coração, como se ela estivesse morta em vida. Dylan percebe essa dor nos olhos dela quando Suzy o procura. E é interessante que ela sabe que seu filho está morto. Suzy entende que não há volta nisso. Mesmo quando as forças sobrenaturais se revelam. Tudo o que ela deseja é que Dylan descubra quem matou o seu filho porque, em seu coração de mãe, ela sabe que Joy não se matou. O que vai mover a trama é esse amor incondicional que levará mãe e filho, em diferentes planos de existência, a buscar ajudar um ao outro. Uma das cenas finais é de fazer qualquer um se emocionar.
Preciso também falar um pouco do tal internato Roseville. Isso porque Gigi Simeoni toca em parte no tema do abuso cometido por instituições ditas especializadas em lidar com crianças autistas ou com outros tipos de déficits de aprendizagem. Vários são os casos de agressões físicas ou morais realizadas com essas crianças. Isso é coisa séria; demonstra o quanto ainda existe bastante despreparo ou má intenção da parte de algumas pessoas que se dizem "especializadas". Lógico que lidar com crianças assim exige paciência e atenção. Mas, mais do que isso, pede amor no coração. O caso de Joy, apesar de cercado de elementos sobrenaturais que ditam as histórias de Dylan, também possui bases reais e a cada ano que passa as denúncias vão ficando numerosas. Claro que existem também os bons exemplos, mas o problema está aí e precisa ser enfrentado. Em um mundo onde a tolerância se torna uma virtude cada vez mais rara, precisamos ler mais sobre histórias que falam da relação pura entre uma mãe e seu filho.
Sexta edição sensacional vinda no esteio de uma quinta que foi marcante para a mitologia do personagem. Aqui temos um roteiro preciso com uma arte que transborda talento de um dos principais roteiristas da série. Uma história que fala bastante sobre amor, sobre bem e mal e sobre como precisamos de mais tolerância nesse mundo. Só quero dizer também o quanto passei a curtir as edições de Dylan Dog e é por histórias como essa que fico mais e mais ansioso por ler outras edições.
Ficha Técnica:
Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 6 - Na Fumaça da Batalha
Autor: Gigi Simeoni
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicação: 2019
Outros Volumes:
Vol. 1
Vol. 2
Vol. 3
Vol. 4
Vol. 5
Vol. 7
Vol. 8
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