Teresa Crawley pertence a uma importante família que há gerações ocupa os altos escalões da sociedade londrina. Mas, ela se casou com um cretino que tem gastado toda a fortuna da família com jogos. E para piorar ele deve dinheiro à máfia russa, além de ter dormido com a mulher do chefe local. Teresa quer se livrar a todo custo dele, mas depois de separada. Isso porque se ele morrer antes pode se tornar mais um dos fantasmas da família. Esse é um caso para Dylan Dog.
Sinopse:
Sal tem um vício… o jogo. Um vício particularmente ruim, que o deixa em débito com a máfia russa. O homem ainda tem um pé na cova por ter traído a própria esposa com a mulher de um dos chefões do crime. Teresa, a esposa, está para obter o divórcio do marido desregrado, mas os espíritos dos antepassados que pairam na antiga mansão da família não querem que Sal seja morto antes de se divorciar, para não terem que conviver pela eternidade com aquela alma ímpia. Caberá a Dylan a tarefa de salvar a pele do sujeito.
Histórias de fantasmas sempre giram na ideia de vingança ou de assuntos inacabados. São personagens que permanecem na Terra para observar aqueles que ficaram. Mignacco dá uma subvertida nessa ideia para trazer para nós uma história diferente. Só que o resultado final acaba estranho e meio caricato demais. Estávamos vindo de uma ótima sequência de histórias do Dylan abordando não só o desenvolvimento do personagem como o do resto do elenco e como as mudanças estavam afetando-o. E chega essa edição e é um ponto de parada antes de continuarmos. O roteiro é divertido até, mas bastante fraco dada a barra elevada na qual os últimos roteiristas deixaram para trás. Curiosamente, a arte está fantástica nesta edição com um Sergio Gerasi dominando a cena e o fundo. Não consigo encontrar uma linha para criticar o artista; talvez uma ou outra escolha diferente, mas no mais está de alto nível. Uma pena que a arte e o roteiro parecem não ter conversado bem.
Nesta edição, Dylan Dog é procurado por uma mulher da alta sociedade. Teresa Crawley é linda, rica e poderosa. Pertence a uma das famílias mais tradicionais de Londres, detentora de uma riqueza extraordinária. Mas, ela se casou com Sal, um tolo fútil e viciado em jogos. Teresa sabe das transgressões de seu marido, inclusive que ele a trai com frequência. Só que Sal passa a pegar dinheiro emprestado com a máfia russa e fica cada vez mais endividado, levando o nome da família Crawley para a lama. Para piorar, o tolo leva a mulher de Timoffey, homem forte da máfia russa em Londres. O chefão coloca a cabeça de Sal a prêmio. O motivo de Teresa ter procurado Dylan é por causa dos fantasmas da família. Eles assombram a mansão Crawley e estão alertando Teresa sobre a possibilidade de Sal morrer. E qual o problema nisso? Bem, se Sal morrer ainda casado com Teresa, ele se torna mais um fantasma a habitar a mansão Crawley. E tudo o que Teresa deseja é se separar do miserável o quanto antes. Mas, Sal precisa sobreviver a mais uma noite em que ele está sendo caçado por russos. E somente a ajuda dos fantasmas poderá salvá-lo. E é aí que começa a estranha missão de Dylan.
A arte de Sergio Gerasi é acima da média. Basta olhar para o quadro ao lado para ver do que estou falando. Percebam o cuidado com cada detalhe presente em cena. Desde as paredes aos objetos em cena e a como ele delineou aquilo que apareceria ou não. Gerasi nos traz uma mansão que tem vários detalhes clássicos e parece ter se inspirado no clássico Assombração na Casa da Colina, de Shirley Jackson. A cenografia é muito bem feita e isso permite ao leitor imaginar onde as cenas estão acontecendo. Boa parte da edição se passa na mansão Crawley então era necessário torná-la o mais realista possível. Outro detalhe importante de cenografia é a quadrinização: na maior parte das vezes entre dois a quatro, o que permite à arte mais espaço para brilhar. Permite também a construção de cenas mais amplas, concentrando-se no ambiente e naquilo que acontece à sua volta.
Mas, Gerasi não fica apenas nos amplos quadros. Seu domínio de sombra e perspectiva fornece um outro universo de possibilidades à história. Por exemplo, seu design de personagens é mais redondo e complexo, com o emprego de diferentes modelos para os personagens. E estamos lidando com personagens bem distintos como os fantasmas que pertencem a diferentes períodos da História. Isso faz com que cada um deles tenha uma personalidade própria. Gosto também de como Gerasi usa o lápis para criar sombras no cenário e no rosto dos personagens. Dá a eles mais expressividade no momento de demonstrar ironia, tristeza, raiva, mistério. Os cenários também parecem ainda mais amplos quando apresentados com perspectiva.
Já as cenas de ação são poucas, porém bastante eficientes. Tem um momento de perseguição de carro que acontece por algumas páginas que é bem executada. O autor conseguiu imprimir um emprego eficiente de linhas cinéticas e um trabalho com a passagem de quadros de ação para ação que mantém o leitor preso às páginas. Fora que tudo o que acontece em cena é bastante coerente sob um aspecto físico. Outro detalhe é que quando Gerasi quer apresentar uma cena mais dramática, ele usa um quadro retangular comprido de forma a termos a visão daquilo que está acontecendo a partir do ponto de vista de todos os personagens envolvidos. Por exemplo, tem uma cena em que um dos mafiosos alveja Dylan em que temos a visão inteira do cômodo com o personagem preparando seu revólver enquanto Dylan se assusta e tenta se esquivar.
O roteiro me decepcionou bastante. Em alguns momentos ele chega a ser contraditório como acerca da necessidade ou não de um fantasma estar preso ao local de sua morte. Não entendi por que o mafioso que morreu na mansão pôde voltar à casa de sua família e Sal teria que necessariamente ficar preso à mansão. O mafioso não teria que voltar à casa de sua esposa e permanecer lá? Não ficou claro isso. Fora que a ideia da ajuda dos fantasmas a resolver o caso me pareceu forçada e algumas soluções mágicas foram encontradas por falta de solução no roteiro. Por exemplo, subitamente os fantasmas conseguem manipular objetos em uma área de concentração de fantasmas. Mas, na mansão os fantasmas que habitam o local não teriam o mesmo tipo de poder? Ou se refere apenas a crimes horríveis? Ou são espíritos vingativos? E por que os espíritos dos Crawley permaneceram na mansão? Eles tem algum assunto mal resolvido? Quando o roteiro deixa perguntas demais sem serem respondidas significam furos lógicos. Ainda mais em uma história fechada em si mesma como essa do Dylan. Pior do que isso, sequer consigo pensar em outros temas trabalhados na edição.
Apesar disso existem alguns breves momentos de personagem curiosos. Quando Rani está na mansão Crawley ela consegue visualizar os fantasmas, algo que apenas Teresa (que é da família) e Dylan (por ter afinidade com o mundo sobrenatural) conseguiam fazer. Ou seja, existe mais em Rani do que os olhos permitem ver. Groucho estava terrivelmente bizarro nessa edição, o que é ótimo para o personagem. Em uma cena logo no começo ele chega a passar uma cantada descarada em Teresa. Ao final temos uma virada narrativa que me deixou meio enfurecido. Isso porque o momento surpresa no final me deixou com o sentimento de "por que eu li isso mesmo?". Entendi a ideia de causar um choque no leitor, mas funcionou exatamente ao contrário para mim. Senti que nada foi resolvido e que servimos como bobos na história. Enfim, essa é uma edição que vale pela linda arte de Gerasi que arrasou com os quadros. Quanto ao roteiro, os leitores podem pular numa boa porque não faz falta alguma para a mitologia do personagem.
Ficha Técnica:
Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 8 - Os Fantasmas Protetores
Autor: Luigi Mignacco
Artista: Sergio Gerasi
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicação: 2019
Outros Volumes:
Vol. 1 Vol. 7
Vol. 2
Vol. 3
Vol. 4
Vol. 5
Vol. 6
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