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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Dylan Dog Nova Série vol. 11" de Barbara Baraldi e Nico Mari

Uma famosa artista cujas pinturas representam a morte é envolvida em assassinatos. Suas telas são reproduzidas por algum assassino misterioso, mas suas digitais estão presentes por todo o local dos crimes. Só tem um problema: as digitais pertencem à sua mão direita, que ela não tem há vários anos.


Sinopse:


Anita Novak é uma pintora no ápice do sucesso. Mas um terrível acidente a privou da mão direita. A partir daquele momento a sua mão esquerda, como animada por vida própria, começa a pintar quase de forma autônoma, ilustrando a morte.


O Investigador do Pesadelo, contratado pela artista, deverá descobrir o nexo entre os homicídios tracejados na tela e aqueles que acontecem na realidade.





Em uma narrativa inspirada nos romances de Agatha Chistie, Barbara Baraldi nos traz um investigador do pesadelo precisando encarar uma morte mais artística e fatal. Tendo sido contratado por Anita Novak, uma pintora cuja fama se deve aos seus quadros que representam a morte em diversos aspectos, ele se vê às voltas com assassinatos misteriosos. Todos eles ligados à Anita de alguma forma. Acontece que seus quadros passaram a se tornar as cenas reais dos assassinatos representados em tela. E as digitais da mão direita da artista foram encontradas pelo inspetor Carpenter nos locais do crime. Só tem dois detalhes: primeiro é que Anita manteve suas pinturas em segredo antes de revelá-las nas exposições; segundo é que Anita sofreu um trágico acidente anos antes e perdeu exatamente sua mão direita, precisando usar uma prótese. Esse será um caso difícil para Dylan que precisará entrar no mundo das artes e descobrir quem pode ter cometido tal crime.


Quando digo que existem histórias feitas para determinados tipos de arte, isso é totalmente corroborado por Nico Mari nesta edição. Seus traços parecem saídos de uma exposição, com traços elegantes e despojados. Os personagens que ele desenha parecem realmente saídos de quadros ou frequentadores de museus. Mesmo os cortes nas roupas, a tatuagem de Rita, mostram uma preocupação do artista em trazer algo a mais para a história. Outro detalhe é que Mari tem muito de características góticas em seus traços. Seja no aspecto físico dos personagens, seja na apresentação das cenas. Existe tormento na personagem de Anita, e isso é revelado em várias de suas cenas. Seja o olhar desesperado de alguém procurando se agarrar à vida ou uma mulher sedutora passando por uma fila de fãs em uma exposição de arte. Ou mesmo Rita, uma rival de Anita cujo olhar me lembra uma das noivas de Drácula. Um olhar frio e avaliador que te despe de todos os seus preconceitos e virtudes. Todo o vício e a insanidade do que acontece aqui por vezes me faz pensar em Sin City, de Frank Miller, apesar de não ir para a mesma linha.


Essa é uma narrativa de investigação e mistério propriamente dito. Tem alguns momentos meio estranhos ao longo da história, mas não se enganem. É uma corrida atrás de um assassino misterioso. Barbara vai colocando novos detalhes sobre os assassinatos a cada momento e fazendo a gente investigar junto com Dylan como que tudo pode ter ocorrido. É o mesmo esquema inventivo de histórias de mistério: apresenta-se o crime, disponibilizam-se as cenas e os não-ditos, a investigação leva a alguns suspeitos, planta-se uma distração qualquer até a revelação do assassino que é alguém do qual o leitor não esperava. Mas cujos indícios estavam presentes desde o começo. É a velha fórmula de Agatha Christie e Barbara até mesmo emprega aquela famosa etapa de explicação e revelação onde todos os pontos que ficaram obscuros são ligados para mostrar que tudo estava ali e só não reparamos direito nos detalhes. Gostei de como ela fez isso tudo, e fez isso com bastante elegância, nos tirando do prumo em alguns momentos com o que vinha se desenrolando entre Dylan e Anita.

Essa é uma história repleta de sensualidade e sexualidade. Barbara pescou muito bem isso e trouxe para a história sem ser algo forçado. Estava claro desde o começo que Dylan e Anita tinham várias características em comum e a química fica estabelecida desde o primeiro instante. A fragilidade de Anita diante do que vinha acontecendo a ela e sua tendência em se relacionar de maneira próxima com a morte é um magnetismo natural para o Old Boy. Gosto de como Barbara nos coloca a personagem como uma femme fatale sem ela o ser necessariamente. Ela é fatal no sentido de que ela questiona a si mesma se deve continuar existindo. Dylan busca salvá-la de si mesma, ao trazer a personagem de volta para esse mundo, destacando suas virtudes como uma criadora. O envolvimento entre os dois é bem abordado por Barbara e ela dá alguns teases disso acontecendo até que... Bem, aí é spoiler, né. E sabemos como é a vida sexual do Old Boy: intensa e apaixonada.


Vários momentos da trama (e a autora brinca com isso em alguns momentos) me fizeram remeter a Dorian Grey, personagem criado por Oscar Wilde. Suas pinturas revelavam a realidade e o seu autoretrato era aquilo que lhe conferia a imortalidade. Só que a pintura não poderia ser vista por mais ninguém. Aqui é o exato contrário, já que estamos falando de uma artista de exposições cujas obras são seu meio de vida. Só que ao serem vistas, suas obras ganhavam vida e causavam a morte, muito na linha da relação de Dorian com sua pintura. Curiosamente, Dylan reluta em ter seu retrato pintado seja por Anita ou por Rita. Em um diálogo com Anita, Dylan afirma que não deseja se tornar um imortal, fazendo alusão ao famoso personagem. Outro detalhe é que Anita passou apenas a pintar a morte após a perda de sua mão. Se antes ela apresentava quadros magníficos mostrando o melhor da vida, agora suas pinturas são horrendas, disformes e malditas. Ao longo da trama, ficamos tentando entender por que ela só consegue pintar a morte e a narrativa alude a alguma coisa vinda de seu inconsciente. Ao ter tido uma perda horrível e desejar a própria morte, Anita entrou em contato com um mundo escuro e sombrio existente dentro de seu coração. Barbara deixa essa dúvida pairando no ar até o final da história.

A narrativa expõe também a luta de uma personagem que precisou reencontrar a sua razão de viver após um momento difícil. Anita perdeu a mão com a qual pintava, e isso fez com que ela tivesse uma vida muito difícil pela frente. Reaprender a pintar, a comer, a tomar banho, ou seja, mesmo às coisas mais simples foi bastante difícil para ela. Exigiu esforço físico e emocional e vimos momentos em que ela esteve prestes a desistir e se entregar simplesmente à sua autodestruição. Ela foi salva por sua própria força de vontade e com a ajuda de sua agente, Ingrid, que a manteve focada em si mesma. Anita não percebe o quanto ela é uma mulher forte por ter conseguido superar tamanha adversidade. O nosso investigador fala a ela o quanto ela precisou lutar e como chegou tão longe após passar momentos dramáticos. Mas, a personagem estava tão enfiada em seus problemas e frustrações que foi incapaz de ver isso. A melancolia em seu coração a levava a dispensar todas essas coisas.


Uma boa edição com um mistério que se estende por toda a edição e nos leva aos recantos mais profundos da alma humana. Somos levados a um ambiente artístico onde vida e morte caminham juntas seja nos quadros ou nas características das artistas envolvidas. Barbara traz uma trama com várias características do gótico vitoriano (com aquela sensação de Oscar Wilde pairando no ar) e uma arte de Nico Mari que combina perfeitamente com o que foi pretendido ser trazido nessa edição.












Ficha Técnica:


Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 11 - A Mão Errada

Autora: Barbara Baraldi

Artista: Nico Mari

Editora: Mythos Editora

Tradutor: Julio Schneider

Número de Páginas: 100

Ano de Publicação: 2020


Outros Volumes:

Vol. 4 Vol. 9

Vol. 5 Vol. 10


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