Sejam bem-vindos a uma Terra onde uma terrível doença chamada Closer afetou boa parte da humanidade causando inúmeras mudanças geopolíticas. A família Ballard tenta se adaptar a essa nova realidade à sua própria maneira.
Sinopse:
O vírus Closer domina o globo, rompendo as barreiras entre nações e etnias e mergulhando a raça humana no caos de um futuro distópico. Será que os humanos resistirão a este novo mundo?
Eu tenho uma história com esse mangá. Lembro de ter tentado colecioná-lo lá em idos do início da minha fase adulta. Na época ele era lançado por outra editora e tinha uma publicação muito espaçada. Chegavam poucas unidades nas bancas e comprar uma edição era quase uma caça às bruxas. Mesmo assim a história tinha me cativado e eu consegui comprar até o volume 7. A publicação era feita em formatinho meio tanko então só esse volume aqui já representa metade do que eu havia lido anteriormente. Esse ano eu voltei a comprar mangás, e adivinha qual foi o primeiro? Ler essa série é uma questão de honra para mim.
Esse primeiro volume é extremamente eficiente em fazer o básico: te apresentar o mundo, os personagens e a narrativa, causando tamanho impacto no leitor que ele quer comprar o próximo volume. A escrita do Hiroki Endou é envolvente e questionadora em vários momentos tocando em temas bem interessantes. O roteiro não compromete e mesmo nas cenas de ação o autor é capaz de entregar momentos bem orgânicos. Isso sem se tornar uma longa sequência de cenas de ação. Admito que não gosto muito de mangás que se focam mais na ação do que no enredo, por esse motivo eu acabo sendo muito seletivo com o que eu compro. Os capítulos são bem interligados, apesar de eu não ter entendido o propósito do capítulo especial que se situa entre os capítulos 4 e 5. Era para apresentar a irmã da Hannah?
Os desenhos do Endou são bons. Ele consegue alternar o rosto dos personagens mesmo mantendo o estilo de olhos grandes. Você percebe que o grupo da Sophia é formado por membros de diversas etnias (apesar do coronel ser o muçulmano mais japonês que eu vi na minha vida). Mas, as meninas que são resgatadas realmente parecem não-japonesas. Endou gosta também de trabalhar expressões faciais bem representativas: a gente percebe quando o personagem está com raiva, feliz ou reflexivo. Fica nítido em suas expressões. Um ponto alto nos desenhos de Endou são os cenários de fundo: riquíssimos em detalhes. Adorei as imensas cidades em ruínas que me fizeram lembrar das filmagens de Eu Sou a Lenda. Aquelas construções florestais em ruínas tomando os imensos arranha-céus, postos de gasolina e lojas. Ou quando o autor traz a ação para as ruínas de Macchu Picchu e procura representar as ruínas incas. Achei que ele podia ter se espraiado mais aqui, mas okay, deram o efeito desejado. Eu só não gostei de algumas construções robóticas que eu vi nos primeiros capítulos. Pareceram apressadas e genéricas. Quando conhecemos Sophia que possui muitos detalhes robóticos, aí sim tudo muda de figura. Ah, e não posso esquecer do efeito dado pelo vírus Closer nos personagens. O efeito quebradiço é incrível mesmo.
A maneira como o autor nos coloca imersos na história é bem eficiente. Ele não nos afoga em tudo o que existe no mundo, mas vai nos apresentando aos poucos. Nesse sentido podemos observar dois personagens-orelha: Hannah Ballard e depois Elijah Ballard. No Prólogo, Hannah funciona como o leitor na narrativa. Ela vai nos mostrando os cenários e os acontecimentos e vamos vendo a gravidade de tudo o que aconteceu ao mundo. Tanto é que nem conhecemos tanto do que Hannah pensa acerca de tudo o que está acontecendo. Elijah também é uma tela em branco até o momento. Quero entender ainda o que ele estava fazendo com Cherubim no meio do nada. Mas, Elijah vai nos mostrando o que aconteceu com o mundo depois da descoberta da cura para o Closer. Mesmo diante do grupo de Sophia, Elijah está ali ainda observando tudo o que se passa. Ele vai tirando suas conclusões como se fosse alguém de fora (e toma um fora da Helena justamente por isso).
Esse primeiro volume é muito focado em aspectos religiosos. Me parece que o autor deve discutir muito esse tema da fé e de como o ser humano se relaciona com o sagrado mesmo em um mundo decadente. São muitos questionamentos nesse sentido para ser uma mera coincidência:
- um mundo decadente deveria ser "resetado"? - por que Deus permitiria que tantas desgraças se abatessem sobre o homem? - se rezarmos, seremos realmente atendidos ou isso é apenas um ópio para os nossos problemas?
O primeiro questionamento será a mola propulsora do começo da história. Tudo começa com uma revolta de um dos membros da equipe de Lane e Chris que se revolta contra tudo e deseja que o ser humano desapareça para sempre. O detalhe é que esta revolta surge a partir de um acontecimento trágico na vida do personagem. Lane que já tinha uma visão cética acerca de tudo compra a ideia para si o que acaba ocasionando tudo o que se sucede a seguir. Chris quando retorna mais à frente também está com o mesmo espírito de Lane. O que ele busca quando retorna é algo muito mais pessoal do que simplesmente salvar a humanidade. Quando a história retoma com Elijah vinte anos depois, vemos um personagem ainda muito inocente tentando encontrar sentido no que não faz sentido. A dispersão do Closer não foi uma vontade divina, mas uma providência humana. O que ele busca é entender por que o divino não toma providências para dar ao ser humano uma segunda oportunidade.
Já quando passamos para a parte de Helena e Kachua vemos duas meninas afetadas por tudo o que há de ruim no mundo. Ambas acabam se tornando prostitutas sem opção pelos membros da Propater. Enquanto Kachua mantém vínculos com seus ancestrais incas, buscando iluminação em mundo de trevas, Helena é uma mulher mais prática. A segunda precisou aprender a sobreviver diante de uma realidade cruel. O autor nos mostra também um outro lado da revolta rebelde nos mostrando as limpezas étnicas que acontecem nos territórios controlados pelos guerrilheiros. Ainda quero entender por que essas limpezas ocorrem. Quando Helena é encontrada pelos protagonistas, sua visão de mundo é bem melancólica, mas começamos a ver alguma mudança ao longo da estadia com Elijah e companhia. Das duas, Helena é a personagem que mais me intrigou enquanto Kachua tem uma construção mais simplória.
O grupo de Sophia é completamente disfuncional. Temos um especialista em explosivos que tem algum tipo de conhecimento intelectual diferente, um assassino cruel que possui algum tipo de trauma pesado, um coronel muçulmano com um estranho passado e uma mulher de 41 anos em um corpo de uma menina de metade da sua idade. Isso é uma receita para um vulcão completo. Tanto que vemos alguns dos personagens se chocarem. Ficamos conhecendo um pouco mais de Sophia nesse primeiro volume. É incrível o que ela passou e ainda conseguir manter sua sanidade. Ou será que manteve mesmo? O seu papel no grupo é de ser o elemento de ligação entre estes vários seres absolutamente voláteis. Quase como se tivesse um papel materno sobre todos. Quando o autor ia começar a deslindar um pouco mais dos personagens fomos colocados em uma cena de ação muito legal. Okay, fica para a próxima os demais desenvolvimentos.
Tem muita coisa para falar, mas vou guardar alguma coisa para comentar na próxima resenha. Esse mangá é um prato cheio para quem gosta de boa ficção científica. Tem ação, tem desenvolvimento de mundo, tem altas ideias, tem tudo o necessário. E consegue produzir um dos melhores primeiros volumes de mangás que eu já fui capaz de ler. Impactante aonde precisa ser, interessante em diversos momentos e com cenas de ação de deixar o queixo caído.
Ficha Técnica:
Nome: Eden vol. 1 Autor: Hiroki Endou Editora: JBC Tradução: Denis Kei Kimura Gênero: Ficção Científica Número de Páginas: 450 Ano de Lançamento: 2013
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