O volume 2 está repleto de ação com a continuação do cerco ao grupo formado por Elijah, Sophia e seu grupo. Muitas explosões nas ruínas do antigo império inca. E um pouco da história de Kenji.
Sinopse:
O conflito com os soldados da Propater atinge seu ápice. A disputa entre os hackers Sophia e Travis decidirá a primeira etapa deste embate, mas o plano de Wycliffe também terá um papel fundamental nos desdobramentos do confronto!
Cada vez eu me surpreendo ainda mais com a escrita do Hiroki Endou. Acho até que mais pessoas deveriam embarcar nessa história. Com 9 volumes, a série mostra que não tem pudores em lidar com determinados temas. O autor tem uma coragem inacreditável para abordar questões como preconceito, guerra e como o homem é moldado através destes conflitos terríveis. Este segundo volume está primoroso em relação ao primeiro, e tem alguns trechos que são de arrepiar.
Aqui é impossível dissociar escrita de narrativa. A escrita do Endou está profundamente interligada aos desdobramentos de narrativa. Alguns leitores vão ficar um pouco incomodados com alguns capítulos mais parados onde o autor desenvolve certos aspectos da trama como a ligação de Kenji com o seu irmão, a maneira como Wycliffe enxerga o mundo e os sentimentos de Elijah durante o combate. A escrita toma um tom mais acelerado durante os combates. Aliás, esta é uma edição com uma sequência ininterrupta de combates em quase a sua totalidade. Um prato cheio! Alguns diálogos soam estranhos porque o autor acaba colocando parte das ideias que ele deseja na história, mas o conteúdo dos mesmos é tão bom que eu nem me importei.
Os desenhos estão brutais nessa edição. Tem algumas cenas mais gore onde o autor não poupou tripas voando, ou personagens perdendo membros. Teve uma cena que eu já tinha lido anos atrás, mas havia esquecido; vi novamente e o meu choque foi igual ao que eu tive antes. Simplesmente mortal. Achei que o autor não aproveitou tanto o cenário de Macchu Picchu. Dava para criar uns elementos magníficos aliados ao cenário de devastação provocado pelo embate entre o grupo de Sophia e os soldados da Propater. Isso é compensado pelo trecho das memórias de Kenji onde eles aparecem em três cenários basicamente: a cidade onde vivem, Sacrifice Town e o laboratório de pesquisas. Eu gosto de como o Endou se foca nos detalhes cibernéticos. Ah, e como não falar dos Aeons? Apesar de que em alguns momentos, o autor dá uma simplificada nos detalhes por conta dos momentos de ação. Mas, no geral, os Aeons ficaram muito bons.
Os personagens são mais aprofundados nesta edição. Temos o passado de Wycliffe e do Kenji. Eu imaginei que a história do Wycliffe podia ser aquela. Achei legal a ideia do autor de perpetuar um ciclo. O que acontece ao Wycliffe é uma forma de se redimir pelo que aconteceu em seu passado. Não sei se o que ele fez foi uma redenção completa, mas acredito que, para ele, naquele momento, representou algo de positivo para ele. Já Kenji continua a ser um estranho no ninho. Queria entender a razão de toda aquela revolta. Não ter conhecido os pais gera aquilo? Caramba, é melhor eu ter cuidado com órfãos espalhados pelo mundo. O autor deixa passar uma ideia de que outras coisas podem ter acontecido ao personagem, e eu quero entender mais disso. Também queria entender como Kenji enxerga o coronel. Porque a relação dos dois parece ser muito estranha também.
Já Elijah recebe poucos momentos de tela. Vemos o que ele é obrigado a fazer e como isso acaba afetando a psiquê dele. Apesar de que ele se recupera bem rapidinho do choque daquilo. Soou também muito conveniente aquilo. Mas, tudo bem. O que eu entendi é que o Endou quer mostrar como o Elijah vai perdendo progressivamente a sua inocência. Só é estranho pensar como Elijah durou tanto tempo sozinho nesse mundo cruel. A relação entre Elijah e Helena está se estreitando... ou seja, vocês já podem prever o que vem por aí, né. Talvez essa seja a minha única reclamação em relação à escrita do Endou: em alguns momentos ele cria coisas bem criativas para os personagens; em outros ele pode ser muito previsível.
" "Guerra Religiosa" é uma coisa que nunca existiu na história da Terra. Por trás de toda guerra, há uma discriminação institucionalizada e uma desigualdade econômica. Mais da metade da população mundial continua lutando só para ter o que comer. Para eles, "Deus" e "fé" são "apoios" para se manterem vivos."
Minha mente explodiu nessa hora. O autor já havia dado pistas do que ele pretendia trabalhar e do como ele abordava certos temas em momentos anteriores. Vai ser a partir do capítulo do passado do Kenji que a coisa fica séria. Vamos começar falando sobre a questão religiosa. Aqui temos um combate entre uma aliança muçulmana que deseja a manutenção da fé e a liberdade de crença e uma Propater que enxerga na religião algo desnecessário diante de tantas mortes causadas pelo Closer. No primeiro volume, o autor questionou o motivo de Deus ter permitido a difusão do vírus Closer. Aqui, ele questiona a necessidade da crença na vida das pessoas. Pelo que a negociante comenta com o irmão de Kenji, existe um conflito pela própria alma das pessoas que sobreviveram ao holocausto causado pela doença. Assim como Lane no primeiro volume, Kenji tem o desejo de atuar como um deus, matando aqueles que ele considera perniciosos para o mundo. Tem uma fala macabra do Kenji conversando com o seu irmão no carro.
Outro tema abordado pelo autor são os horrores causados pela guerra. Podemos traçar esse tema em dois momentos: as mortes causadas pelo Cherubim controlado por Elijah e o passado de Wycliffe. Falando do primeiro, a maneira como Elijah reage àquela situação é muito normal. Acho até que o coronel estava esperando por aquilo. Só achei estranho a rápida recuperação do Elijah. Matar daquela forma causa muitas mudanças nos sentimentos e na mente das pessoas. Já Wycliffe nos mostra um lado da guerra que muitas vezes não vemos. A guerra é feia, suja e nojenta. Monstros são criados dentro desse ambiente. Vocês não fazem ideia de como aquela prática testemunhada por Wycliffe é comum no Oriente Médio e no Paquistão. Filmes-documentários de guerra já mostraram várias situações semelhantes. Quem romantiza os conflitos armados não faz ideia da desumanidade presente neste momentos. É onde o ser humano desperta o seu lado mais primitivo.
Este segundo volume consegue ser ainda melhor do que o primeiro. Endou não alivia em nenhum momento e as cenas de ação são incríveis. Nas partes mais paradas, o autor consegue nos atrair com os seus diálogos sagazes e reflexivos. Questiona fortemente os horrores da guerra e a necessidade da crença religiosa na vida do homem. Altamente recomendado.
Ficha Técnica:
Nome: Eden vol. 2 Autor: Hiroki Endou Editora: JBC (no Brasil) Gênero: Ficção Científica Número de Páginas: 440 Ano de Publicação: 2015
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