No mundo antigo, a vida era algo efêmero. Nas batalhas do dia-a-dia alguém pode morrer na próxima batalha. Ogar tem consciência disso, mas precisa lidar com a realidade de saber o que é melhor para a sua família. Estações de Caça é uma história sobre pais e filhos e sobre a dura realidade da vida.
Uma vez que o leitor começa a se familiarizar com um universo literário, tudo parece fluir melhor. Entretanto, achei que o autor foi ousado ao usar o seu universo não de uma forma linear, mas como uma espécie de guarda-chuva onde ele pode criar várias histórias. Complicado? É só imaginar uma série de livros com personagens distintos, mas que se passam em períodos espaçados da nossa história. Se A Liga dos Artesãos se passa nos dias de hoje, Estações de Caça é uma clássica história medieval com componentes extras.
Ogar é um guerreiro nórdico que precisa viver uma realidade difícil onde todos os dias podem acontecer um novo ataque de seus rivais e destruir tudo aquilo que ele construiu. Para completar, sua esposa Ellia está grávida e ele agora se vê tendo que ser responsável por mais uma vida. Embora o seu filho seja uma benção, cada nova batalha representa um momento assustador de sua vida. O nascimento de Haakon é marcante e revela algo desconhecido para os pais da criança: Haakon é o rei-que-ainda-não-é-rei. Sua mãe tem descendência élfica e Haakon representa a continuidade desta linhagem. Por este motivo, Haakon é capaz de enxergar as criaturas da floresta. Ele tem uma forte ligação com forças que estão além de sua imaginação. Veremos ao longo da história que, mesmo querendo proteger seu filho, Ogar não será capaz de evitar um destino já traçado para se filho.
Estações de Caça é uma obra voltada para o desenvolvimento do personagem Haakon. Por esse motivo, o autor preferiu passar rapidamente pela infância do jovem para poder encaminhá-lo em direção a alguma nova história que ele esteja planejando futuramente. O livro é dividido em quatro estações com interlúdios. Cada estação vai lidar com momentos diferentes da vida de Haakon: a primeira estação é a gravidez de Ellia; a segunda é Haakon recém-nascido e a revelação do destino de Haakon; a terceira estação se passa na infância de Haakon e seu primeiro contato com Eol'badel e o quarto é a adolescência do jovem e ele tendo que realizar uma escolha difícil. O livro claramente não foi pensado como um romance longo, tendo sido esticado pelo autor. Achei até que, já que Kociuba sentiu o ímpeto de escrever mais, ele poderia ter avançado mais a história ou aprofundado determinados elementos de Estações de Caça. Achei o final muito abrupto, mas é apenas uma consequência do livro não ter sido pensado como um romance longo.
Alguns leitores podem reclamar que não existe uma grande crise ou um vilão terrível no enredo. Sinceramente, isso não me fez falta. Achei que Kociuba usou muito bem o espaço para trabalhar mais a mitologia de Alvores. Diga-se de passagem, podemos sentir uma escrita bem mais madura, diferente da Liga dos Artesãos. No primeiro livro, Kociuba quis dizer demais e mostrar de menos; aqui ele fez o oposto. Ou seja, o enredo ganhou o equilíbrio correto entre construção de mundo e desenvolvimento de personagens. A história acaba sendo mais intimista, se preocupando em desenvolver uma noção de como Haakon e seu destino se encaixam na mitologia de Alvores. E, no fim de tudo, o que representa para um indivíduo ser um Alvor.
A Liga dos Artesãos é uma história passada em um universo de fantasia urbana. O leitor se sente bem por estar em um universo que lhe é conhecido. Por esse motivo não existe tanta necessidade de explicar determinados elementos do mundo. Já em Estações de Caça, Kociuba não pôde contar com esse mesmo elemento facilitador. Aqui ele teve que contar com sua habilidade em descrever cenários. A opção por situar a história em uma localidade viking deu a oportunidade para o autor de brincar em um novo contexto. Apesar de eu gostar do cenário usado pelo autor, o que mais me agradou foi a harmonia com que o universo de Alvores se encaixa no nosso mundo sem causar muito estranhamento. É como se toda a mitologia fosse natural e não pudéssemos extraí-la.
Falar de família em um livro de fantasia é muito difícil. Nem sempre um escritor consegue fazer isso de uma forma respeitosa. Geralmente o escritor é um lobo solitário que passa os dias pensando em universos fantásticos que nem sempre condizem com o real. Mas, em Estações de Caça eu percebi muito das emoções de Kociuba como pai. O leitor é tragado pelos sentimentos puros de um pai e de uma mãe em relação a um filho. Raríssimas vezes eu me emocionei com elementos de enredo baseados nessa temática. Mas, a relação de amor fraterno entre Ogar, Ellia e Haakon é tocante. Faz o nosso coração ficar mais cálido.
Estações de Caça é uma história mais madura e envolvente de um autor do qual já tinha me mostrado coisas muito positivas em A Liga dos Artesãos. Aqui, em um outro cenário, ele foi capaz de aprofundar a sua escrita e nos mostrar que o universo de Alvores ainda tem muito a nos mostrar.
Ficha Técnica:
Nome: Estações de Caça
Autor: Lauro Kociuba
Série: Haakon vol. 1
Editora: Autopublicado
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 131
Ano de Publicação: 2015
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