Resenha: "Filhos da Lua vol. 2 - O Legado Sombrio" de Marcella Rossetti

A saga de Filhos da Lua continua em Legado Sombrio, novo livro da Marcella Rossetti graças ao sucesso da campanha de financiamento coletivo feito pela AVEC Editora, reservando surpresas agradáveis a quem prosseguir nesta série de fantasia urbana.

Sinopse:

No Refúgio dos trocadores de pele, Bianca parece ter encontrado seu lar. Entretanto, enquanto este mundo se revela ainda mais ameaçador, Julian e ela precisam encontrar os últimos traidores. E precisarão fazer isso antes que uma ameaça ainda maior se aproxime.

Em Filhos da Lua: o Legado Sombrio, segundo volume da série, Marcella Rossetti apresenta aos leitores um pouco do lado mais obscuro dos trocadores de pele. Além de revelações não apenas capazes de afetar o destino de Bianca, mas o de todo universo Karibaki.

A garota descobriu o novo mundo oculto a olhares comuns, restrito a ela até então, apesar de pertencer a este lugar. Ela se provou ser algo a mais, justificou o espaço de protagonismo nesta história onde há muitos personagens com dilemas próprios, ou seja, ninguém vive ou morre por ela, embora algumas preocupações favoreçam a cooperação. E o ponto forte do protagonismo desta história é de ela não ser privilegiada com a posição, pelo contrário, assume responsabilidades absurdas por causa dos desejos adversos a ela, sem contar os segredos capazes de mudar toda a história. Filhos da Lua: O Legado Sombrio continua a aventura de Bianca entre a convivência ao lado de Karibakis, lobisomens da mitologia elaborada pela Marcella Rossetti. Publicado em 2020 por meio da AVEC Editora graças ao sucesso da campanha de financiamento coletivo.

“Dor e sacrifício [...] era a base de todo o pensamento Karibaki.”

O prólogo apresenta os novos personagens desta trama. Mariah é filha de Pérfido com a Karibaki Destemida, o primeiro é de linhagem sombria, fiel ao deus destruidor Hoark, e a segunda desertou da comunidade Karibaki. Mariah está com o pai e o irmão Gabriel, a caminho de um assassinato o qual ela seria obrigada a efetuar e assim acostumar-se aos serviços da família, afinal tem treze anos e logo trocaria de pele.

Ademais, a história prossegue de onde parou no volume anterior. Os feitos de Bianca atraíram a atenção de todos do Refúgio dos Karibakis brasileiros e dos outros Refúgios distribuídos pelo mundo. Além disso, não sobrava nada senão a rotina de treinamentos e aulas disponíveis a todos. Isso a princípio, pois o cotidiano está prestes a mudar por causa das conspirações em matar Bianca, e assim concluir o extermínio iniciado há vinte e cinco anos.

“A Força dos Filhos da Lua está na lealdade entre nós.”

Com vários personagens e pelo cuidado de abordar os dilemas deles além da trama principal, a autora distribuiu bem essas diversas perspectivas ao longo das mais de quatrocentas páginas de história. Por vezes alinha a dificuldade de certa pessoa com o momento vivido pela protagonista, em outras aproveita a perspectiva e revela pontos importantes da trama ocorridos longe da protagonista. Marcella também alterna após o término do capítulo deixado em suspense, o fortalecendo e ainda assim entregando novidades ao leitor, ou seja, brinca com nossas expectativas sem nos prejudicar com capítulos vazios. Em suma, as subtramas são entrelaçadas em sincronia, improváveis de enjoar a leitura, exceto a quem preferir narrativas objetivas, porém este é um caso de gosto pessoal, alheio ao mérito da autora.

Marcella evoluiu muito no quesito elaboração de enredo em relação ao volume anterior. Fora a sincronia da trama principal e as secundárias, trouxe revelações em Legado Sombrio capazes de amarrar as pontas soltas sem criá-las apenas por isso. Serve para justificar esses conceitos já passados e serve de base às novidades dos capítulos seguintes, alimentando novas expectativas. Sem dar detalhes do spoiler, Marcella ainda deixou uma surpresa ousada, arriscada por subverter o enredo elaborado até então, e dar uma nova perspectiva à história a prosseguir ao terceiro volume. Com certeza essa manobra vai fisgar os leitores a desejarem conferir a continuação o quanto antes.

“Separar uma alcateia era como separar uma família.”

O desenvolvimento da escrita melhorou, com alguns pontos a serem observados conforme ela persiste e vai aprimorando o ofício da narrativa. É perceptível desde o começo do livro a descrição de gestos ao demonstrar o comportamento ou sentimento vigente durante o diálogo, algo bom de fazer, só precisando ter cuidado quanto às repetições, como os gestos com as sobrancelhas bastante recorrentes, além de “enrugar” e “franzir” o cenho. Há dificuldades ao coordenar cenas com vários personagens, tornando a escrita mais descritiva ao abordar todos eles, com isso diminuindo a qualidade do ritmo. Ao medir as qualidades em geral, a construção do enredo favorece uma experiência positiva, portanto a leitura vale a pena graças às gratas surpresas reservadas neste segundo volume.

Filhos da Lua: O Legado Sombrio apresenta melhorias quanto à dedicação da autora em narrar a história e presenteia os fãs da saga com revelações ousadas entre as novidades que enriquecem a ambientação original. Mesmo abordando temas adolescentes, o livro pode agradar diversas faixas etárias, bastando o leitor se interessar por obras de fantasia urbana ou de lobisomens.