Em uma cidade em reconstrução, estranhos segredos parecem estar sendo compartilhados na internet. Segredos que podem ser mortais.
Fuga é um conto curto e interessante sobre um futuro que está mais próximo do que imaginamos. Ele faz parte da coletânea de contos sobre um futuro sustentável chamada Solarpunk. Devido ao tamanho limitado o autor não conseguiu trabalhar adequadamente os personagens, focando-se mais na ambientação. Isso acaba agindo em detrimento da trama, mas não estraga a diversão.
Com uma internet cada vez mais aberta é lógico que imaginemos o inverso. Na rede mundial de computadores, não existem segredos. Já foi provado que todos os hábitos e costumes de um indivíduo podem ser analisados através das páginas que ele frequenta, das comunidades que participa ou até das músicas que ouve. Até mesmo o modus operandi dos espiões industriais mudou com o advento da internet. Nada está seguro em hard drives. Vide o escândalo de Edward Snowden e os arquivos confidenciais norte-americanos publicados no Wikileaks. Acredito que Gabriel Cantareira tenha se baseado nisso para formular a ideia inicial para o conto.
A protagonista faz parte de uma grande empresa responsável pela administração de São Paulo que foi devastada por um acidente. A empresa concordou em reconstruir a cidade com a condição de torná-la um complexo fechado (uma espécie de arcologia) sob seu controle. São Paulo se tornou um exemplo de sustentabilidade com um espaço confortável. Mas, tudo segue normas e regras e o Estado acaba por não exercer nenhuma influência sequer.
Mas, tudo desaba quando Mariana faz uma descoberta estarrecedora: a empresa planeja provocar outros acidentes em outras cidades. Dessa forma ela aumentaria o seu poder e controle sobre outras regiões. E faria um controle populacional escolhendo quem iria ou não fazer parte do “povo escolhido”. Seria uma sociedade formada por quem segue as normas e regulamentos.
Adorei a maneira como Gabriel Cantareira construiu a trama e os acontecimentos. O clima da história é de completa e total paranoia. A protagonista enxerga inimigos por todos os lados. Esta é uma das virtudes da história. O momento em que ela se encontra no metrô tentando sair da cidade é muito tenso. É como se a gente quisesse olhar para trás junto da personagem, mas tivéssemos medo.
Outro aspecto interessante: os únicos personagens presentes na história são a protagonista e a corporação. Não houve necessidade de empregar mais nenhum outro personagem (salvo o contato de Mariana que aparece nos minutos finais). Menciono este ponto porque eu, como leitor, não senti nenhuma falta de mais personagens. Bastou a ambientação paranoica para me satisfazer.
Só achei o plot twist meio forçado. O autor empregou uma mecânica quase deus ex machina para criar uma saída honrosa para a personagem. Mas, me pareceu uma saída tirada do ar. Poderiam ter sido dadas pistas do que a personagem pretendia fazer. Um movimento estranho aqui, uma demora acolá. No fim, ela ser um kamikaze e ter deixado as informações com seu contato porque ela abandonou no metrô um coelho tirado da cartola. Foi o único ponto negativo que eu encontrei na obra.
Fuga é um conto de paranoia em um mundo que parece lindo e maravilhoso. Mas que, em seu interior, esconde segredos misteriosos e fatais. E é um conto bem direto com um final satisfatório. A protagonista cumpriu sua missão. E o autor também.
Ficha Técnica:
Nome: Fuga
Autor: Daniel Cantareira
Conto pertencente à coletânea Solarpunk
Editora: Draco
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 14
Ano de Publicação: 2013
Avaliação:
Link de compra:
Comments