Ana Cristina tece uma série de pequenas histórias abordando a ascensão e a queda de Shangri-lá e seus povos animais.
Sinopse:
As histórias contadas neste livro falam sobre os habitantes de shangri-lá, cidade das feras e lar das bestas. Um lugar mágico e belo, mas que em seu horizonte está sempre a ameaça da guerra. Falam sobre Íbis, Maya, Lori e tantos outros que nos encantam com suas conquistas e perdas. Com uma escrita delicada, porém contundente, Ana Cristina nos leva para um universo incrível onde animais se unem, apesar das diferenças, para se proteger contra os humanos e suas tentativas de destruir Shangri-lá.
A cidade de Shangri-lá é o lar para dezenas de criaturas fascinantes como homens-pássaro, morcegos, os macacos e suas profetisas do futuro. Ana Cristina Rodrigues conseguiu mesclar uma pegada quase de contos de fadas com a fantasia. O resultado disso é uma coletânea de pequenas histórias que vão falar de temas como desigualdade social, o amor de pai para filha e a devastação de uma rica cultura pela guerra. São histórias repletas de sentimento e que vão tocar o coração de cada um dos leitores.
O cenário geral é essa cidade mística onde diversas criaturas buscam conviver entre si, com suas diferenças e rivalidades. O ser humano é o inimigo que espreita além das muralhas da cidade, pronto a destruir eras de história. As narrativas pegam vários momentos da grande cidade e ao final de todos os contos tem uma citação do Atlas Ageografico de Lugares Imaginados, uma espécie de guia que conta a história e os principais momentos de Shangri-lá. Os dois primeiros contos de Fábulas Ferais já apareceram em outras coletâneas em que a autora participou. Nesta resenha, vou me focar só em três contos até para não tirar a graça dos demais por completo.
O primeiro conto chama-se O Ensurdecedor Silêncio dos Deuses e eu já o havia visto em outra coletânea da autora. Na história temos o povo-macaco que por muito tempo foi escravizado pelos homens-pássaro por causa do poder divinatório de suas profetisas. Em uma dessas oportunidades, a atual profetisa finalmente se cansa dos abusos cometidos por seus agressores e eles resolvem fazer alguma coisa a respeito. Um conto simples, mas que possui muitas leituras em suas linhas. Os pássaros normalizam a escravidão de seus subordinados apontando como se fosse algo natural aquilo que lhes acontecia. Chega um momento em que a opressão se torna tamanha que mesmo a apatia é vencida pelo sentimento de revolução. Será que veremos isso um dia no povo brasileiro, se levantando contra os poderosos que tanto nos colocam para baixo? O resultado para os macacos foi a libertação e um novo status quo repleto de novos desafios.
O Nascimento da Primeira Quimera nos introduz Gilgamesh, um dos primeiros governantes de Shangri-lá. Tendo sido condenado a uma forma abjeta após ser considerado um traidor, o protagonista (que narra a história em primeira pessoa) se vê perdido em um mundo que não é mais capaz de compreender. Parte de sua memória foi perdida antes da transformação então a gente tem apenas alguns flashes do que ele possa ter cometido para ser submetido a tamanha punição. Sua nova condição o tornou um ser muito poderoso o que não escapa aos ouvidos da Senhora da Caverna, alguém que vê no personagem potencial para causar mudanças. Nesse conto, a autora busca trabalhar a aceitação do diferente, a compreensão de que todos merecem uma segunda chance. E dentro do esquema geral das coisas, Gilgamesh torna-se fundamental para a solidificação do governo da cidade sagrada.
Uma personagem que se torna fundamental nas últimas histórias desta coletânea é Maya, pertencente ao povo-morcego e filha do grande capitão Íbis. Contrariando a vontade do pai ela se coloca como uma integrante da guarda de Shangri-lá. Mas, a história que eu quero destacar é a segunda que envolve a personagem que se chama Do amor e de suas Diferenças. Uma bela releitura do tema do amor impossível, quase um Romeu e Julieta, em um universo fantástico. Ao mesmo tempo, Ana Cristina nos mostra o quanto a divisão entre os povos da cidade continua existindo aqui, algo que será importante mais para a frente. Lars, um minotauro, tem uma paixão quente por Maya. Mas, por ser um minotauro, a união entre dois povos tão diferentes não é visto com bons olhos, principalmente para um homem tão importante quanto o pai de Maya. Lars vai acabar se envolvendo em um desentendimento que precisará consertar para não perder o coração de sua amada.
Não quero contar mais porque posso estragar a leitura para vocês. No momento da publicação dessa resenha, a autora já publicou o Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados, um romance maior que se passa neste universo que ela criou. Em Fábulas Ferais ela deixa muitas sementes que ela pode aproveitar para contar uma imensidão de histórias. O universo é diferente e a escrita da Ana me remete a um estilo fantástico que eu curto, mas que ela consegue adaptar a algo contemporâneo e capaz de ecoar problemas tão atuais. É uma leitura rápida, porém divertida e que vai te deixar com vontade de conhecer mais materiais da autora.
Ficha Técnica:
Nome: Fábulas Ferais
Autora: Ana Cristina Rodrigues
Editora: Arte & Letra
Número de Páginas: 88
Ano de Publicação: 2017
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