Uma mão gigante é encontrada em uma cidadezinha nos EUA. Anos mais tarde, a dra. Rose Franklin lidera uma equipe de pesquisa para descobrir outros pedaços de um possível gigante espalhados por todo o mundo. Através de interrogatórios e arquivos anexados, vamos descobrindo uma imensa conspiração que envolve uma tecnologia que pode ou não ser proveniente do planeta Terra.
Sinopse:
Rose passeia de bicicleta pelo bosque perto de casa, quando de repente é engolida por uma cratera no chão. A cena intriga os bombeiros que chegam ao local para resgatá-la: uma menina de onze anos caída na palma de uma gigantesca mão de ferro. Dezessete anos depois, Rose é ph.D em física e a nova responsável por estudar o artefato que encontrou ainda criança. O objeto permanece um mistério. A datação por carbono desafia todas as convenções da ciência e da antropologia, e qualquer teoria razoável é rapidamente descartada. Quando outras partes do enorme corpo começam a surgir em diversos lugares do mundo, a dra. Rose Franklin reúne uma equipe para recuperá-las e montar o que parece ser um robô alienígena gigante quase tão antigo quanto a raça humana. Mas ele se transformará em um instrumento para promover a paz ou causar destruição em massa? Parte ficção científica, parte thriller, Gigantes adormecidos é uma história viciante da disputa pelo controle de um poder capaz de engolir todos nós.
A humanidade está preparada para entrar em contato com alienígenas de tecnologia superior? Estaremos nós na fase de amadurecimento ou somos apenas crianças brincando de triciclo na palma da mão dos deuses? Sylvain Neuvel nos traz uma história cuja narrativa é contada a partir de interrogatórios e relatos feitos pelos principais envolvidos em uma pesquisa de artefatos que podem ou não terem sido construídos na Terra há milhares de anos atrás. Se possuirmos tal tecnologia, o que faremos com ela? O autor aborda o assunto de uma maneira bastante realista e nos coloca em uma autorreflexão sobre os caminhos que deveremos traçar nas próximas décadas para nos tornarmos uma civilização realmente amadurecida. Claro que esse é um crescimento que não virá sem obstáculos como os personagens vão experimentar nas páginas deste livro. Esse momento de mudança, esse precipício de transição se impõe entre nós e nossos eus futuros e não há como escapar mais.
Rose Franklin é uma das melhores especialistas em sua área de pesquisa, a de física aplicada. Quando era pequena, ela fez parte de um acontecimento que mudou a história do mundo. Um dado dia, quando andava de bicicleta, ela caiu em uma imensa mão metálica, feita de um conjunto de metais cuja combinação é desconhecida nesse mundo. Anos mais tarde, ela viria a ser escolhida como a chefe de pesquisas justamente dessa mão robótica que prenuncia o achado de várias outras partes espalhadas pelo mundo. Nessa empreitada, ela é supervisionada por um homem cujo nome desconhecemos, mas age por trás das cortinas manipulando politicamente o mundo para que a pesquisa não seja interrompida. Em sua equipe, ela vai contar também com Kara Resnik, uma piloto de helicóptero do exército americano, instável e desconfiada, mas extremamente leal; Ryan Mitchell, outro militar de patente que serve como co-piloto para Kara; e Vincent Couture, um gênio pitoresco, cuja inteligência lhe permite desvendar códigos e línguas estranhas, mas se colocou em um enigma que pode ser maior do que ele. Juntos, eles mudarão o mundo. Para melhor ou para pior.
"As histórias servem como distração, para preservar a história ou servir a algum propósito para a sociedade."
O ponto mais importante neste começo é falar a respeito da escrita de Neuvel. É o que lhe deu essa projeção inicial e o fez ser conhecido. Sua narrativa é escrita no formato epistolar, com interrogatórios, relatos, anotações de diário. Vai ser através desse método peculiar que a história será contada. Não existem momentos de escrita em prosa comum, somente esse formato de entrevistas. Pode ser que a ideia de Neuvel fosse dar um grau de realismo ao que ele estivesse escrevendo. Até porque dos três volumes da trilogia, este é o mais "pé no chão". Ficamos conhecendo os personagens dessa maneira, percebendo os acontecimentos, vendo os desdobramentos de suas relações entre si e com o projeto, e as consequências para o resto do mundo. A primeira parte (o livro é composto de cinco partes) é bem mais variada em formatos e esse formato serve para conhecermos de forma objetiva os personagens. Não há necessidade de discorrer em diálogos longos para dizer o que cada um sabe ou não fazer. O formato de entrevista inicial serviu bem ao que o autor queria. Só que à medida em que a história vai evoluindo esse formato começa a ficar cansativo. Os acontecimentos são contados após eles terem acontecidos e vemos suas repercussões apenas. Tem dois momentos na história em que acompanhamos in loco o desenrolar das coisas, mas é feito de uma forma tão esquisita que não funcionou para mim. Ou seja: para o começo da história, esse formato funcionou bem, mas de mais ou menos metade para frente, não mais.
Neuvel tenta usar esse formato peculiar para trabalhar seus personagens e consegue até certo ponto. O entrevistador é alguém que funciona quase como um M mesmo, o clássico supervisor das Panteras. A gente conhece pouco sobre ele, alguns detalhes pescados aqui e ali e que ele vai desenvolvendo um certo grau de afetividade com eles. Salvo o triângulo amoroso formado por Kara, Ryan e Vincent, conhecemos pouco sobre a Rose. Aí novamente cai no formato escolhido pelo autor que só permite interações pareadas. Sabemos das relações interpessoais por intermédio de um relato feito a um entrevistador. É complicado passar minúcias de sentimentos através disso. Não vou dizer que não haja, até porque o autor consegue espremer uma limonada e dar tridimensionalidade em alguns momentos, mas na maior parte das vezes os relatos soam quase robóticos. O autor se limitou demais se prendendo a esse formato. Mary Shelley usa o formato epistolar em Frankenstein e alterna prosa e relatos com muito sucesso. Os momentos mais íntimos dos personagens poderiam ter acontecido no formato de prosa. Ou as situações mais perigosas.
"Se você deixa uma arma com um grupo de pessoas como forma de defesa e descobre que estão se matando com ela, é melhor tomar de volta ou se livrar dela de vez. Por mera questão de bom senso."
A ideia de desvendar o mistério de um robô gigante encontrado na Terra é bem trabalhado por Neuvel. O realismo disso é bem fundamentado e o fantástico vai acontecendo bem lá para o final da história. É uma lenta progressão. Ele vai soltando pistas e tentando criar teorias aqui e ali até que algo fora do escopo surge, o que altera a percepção do todo. Mesmo assim, gosto de como o autor não entrega tudo de cara. A gente vai descobrindo e montando as peças do quebra-cabeças junto com os personagens. Faz parte da graça da narrativa. Ao mesmo tempo vamos acompanhando como cada uma das revelações é entendida pelos membros da equipe. A variação de humores que vai da empolgação passando pela preocupação e chegando ao terror. É uma montanha-russa completa. Ao final da história, a gente tem algumas respostas e o autor nos entrega novas perguntas a serem respondidas no próximo livro. Acredito que o gancho deixado é interessante demais para eu não fisgar a isca.
A política é bem trabalhada ao longo da história. É lógico que queremos ver os personagens descobrindo os segredos de um artefato tão estranho. Mas, lentamente, as manipulações políticas vão tomando a frente da história. É óbvio que uma descoberta como essa não passaria desapercebida no cenário internacional. O entrevistador procura manipular tudo para sempre estar à frente dos acontecimentos, e em certo momento cheguei até a pensar que ele seria um deus ex machina, mas acaba não sendo. Pelo menos não me pareceu algo definitivo per se. Até porque suas ações tem reações em igual intensidade e ele vai se enrolando cada vez mais na teia maluca que ele criou para si. O final é explosivo, mas não é inesperado. Pistas do que poderia acontecer são plantadas por todo o livro, desde a exótica dra. Alyssa Papantoniou até os problemas com os demais países. Em certo momento, o entrevistador é confrontado a respeito da arrogância que transborda dele, e ele se revela alguém muito menos confiante do que parece em um primeiro momento.
Esse livro ficou com uma impressão de ser meramente uma introdução para o que vai se desenrolar a seguir. No fundo da narrativa, temos um debate sobre o nosso desenvolvimento como uma civilização senciente. Na minha visão, o livro deixa claro que enquanto não formos capazes de deixar nossas diferenças e fronteiras de lado, não conseguiremos alcançar um novo patamar. Todos os problemas que acontecem nas duas últimas partes do livro são consequência justamente dessa falta de cooperação e solidariedade entre os países. No fundo, o sr. Burns (um personagem que surge na metade do livro) tem razão ao entender todos os dilemas vividos pelo entrevistador como algo passageiro e inócuo. Nada disso tem importância no grande esquema das coisas. Se os humanos vão usar a tecnologia para se matar ou não, não é a questão em si (e se acontecer, só significa que não estamos preparados para o próximo passo), mas o que podemos depreender do que nos é mostrado. É um livro que começa a tocar em um tema profundo e que deve ser desenvolvido com mais atenção nos próximos volumes.
Ficha Técnica:
Nome: Gigantes Adormecidos
Autor: Sylvain Neuvel
Série: Arquivos Têmis vol. 1
Editora: Suma
Tradutor: Michel Teixeira
Número de Páginas: 312
Ano de Publicação: 2016
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Eu li e reli esse livro umas três vezes, adoro a ideia dos robôs gigantes e tals, mas concordo que o formato que o autor escolheu para contar a história deixa ela muito limitada, de fato parece uma história fria, robotizada. De fato, se alguns capítulos alternasse a forma de narrativa (como acontece logo no começo, onde a Dra. Rose narra como encontrou a primeira parte do artefato) daria maior fluidez para o livro.
Li o segundo, achei mediano também, me pareceu algo tipo Gigantes de Aço sabe?
O terceiro ainda não li, e no preço que está, vai demorar pra ler haha
Ótima resenha a sua.